A Biblioteca Central (BCE) da Universidade de Brasília está fechada desde março. Rebeca Epaminondas, 20 anos, aluna de letras-inglês na UnB, está tendo dificuldades na graduação, já que a BCE suspendeu todas as atividades no modo presencial. “No meu curso utilizamos muitos livros, especialmente em literatura. Apesar de acessar as versões digitais, minha experiência de aprendizagem não é a mesma”, afirmou. “Costumava estudar na biblioteca quando tinha algum intervalo entre as aulas. Agora, que o espaço está fechado, tive que procurar outros locais na universidade.”
Há quase seis meses, os trabalhadores suspenderam as atividades para defender a manutenção do pagamento de uma parcela de seus salários, 26,05%, cerca de um quarto de sua remuneração mensal.
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Em nota, a reitora da UnB afirmou “reconhecer e respeitar o direito de greve dos servidores técnicos” e confirma manter diálogo com a categoria. “A Reitoria segue empenhada na agenda da Unidade de Referência de Preços (URP), em interlocução com Supremo Tribunal Federal (STF), Advocacia-Geral da União (AGU), Tribunal de Contas da União (TCU) e parlamentares, visando à instalação da mesa de negociação, em estrita observância aos marcos legais”.
Em contraponto, outros serviços não foram suspensos, como os pagamentos (folha, bolsas, benefícios, auxílios e repasses a prestadoras), laboratórios de pesquisa ligados à alimentação, bem-estar de animais, plantas e culturas, manutenção de criogenia e programas de assistência estudantil. “Os serviços essenciais são definidos com referências na preservação da vida e também para evitar danos irreparáveis”, explica Carla Vizzoto,membro do comando de greve dos servidores.
Lucas Aguilar, aluno que ingressou neste semestre no mestrado em geotecnologias, confessa que não enfrentou grandes dificuldades no câmpus. “praticamente não impactou. Aconteceu dos processos se tornarem mais longos ou chegarem a atrasar e precisar de extensão, como na divulgação de resultados. Essa parte burocrática foi impactada, mas todo o edital correu muito bem. Inclusive no laboratório, que integro há três anos, me disponibilizaram todo o material necessário, incluindo espaço individual para estudo, então consegui iniciar minha pesquisa de forma praticamente imediata”, disse.
Vizzotto informou que o comando de greve não dispõe do número exato de servidores que aderiram à paralisação."A adesão pelo movimento grevista é acompanhada pelo retorno nas assembleias e também pelos relatos dos setores”, revelou. De acordo com ela, até o momento, o apoio à greve segue alto, mesmo com o retorno de alguns servidores ao trabalho.
Sobre o fim da paralisação, em nota, o Sindicato dos Servidores Técnico-Administrativos da Fundação Universidade de Brasília (SINTFUB) afirma que a ação depende de vários fatores, e que segue “como medida de proteção da categoria, diante da tentativa do governo federal de absorver esse percentual em futuros reajustes”. Também pontuam que “O SINTFUB protocolou propostas e participou de reuniões com a Advocacia-Geral da União (AGU) e outros órgãos buscando uma solução negociada. A categoria aguarda a resposta do governo para discutir os rumos do movimento”.
O SINTFUB também reiterou os motivos pelos quais a greve começou, com a ameaça da retirada de parte de seus salários. “A luta pela manutenção da parcela é por segurança jurídica e alimentar para os trabalhadores. Imagina o que é perder 26,05% do salário? Isso impactaria até mesmo na economia do DF e Entorno. A direção do sindicato e o Comando Local de Greve seguem mobilizados, organizando atos, participando de audiências públicas, encontros com parlamentares e ações diversas de esclarecimento, no que tem recebido apoio da comunidade universitária”.
Breve histórico
A greve se iniciou em 20 de março, concidindo com a abertura do ano letivo de 2025, sem previsão para o fim. Há quase seis meses, os trabalhadores paralisaram suas atividades para defender a manutenção do pagamento de uma parcela de seus salários, 26,05%, cerca de um quarto da remuneração mensal dos servidores. A Unidade de Referência de Preços (URP), medida que procura combater a hiperinflação, para ajuste de preços, salários e contratos, prevê o pagamento dessa parcela há mais de 30 anos, um direito conquistado pelos servidores e garantido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os servidores defendem que o não pagamento geraria grande insegurança financeira e jurídica para a categoria. Na tentativa de garantir seus direitos, além da paralisação do trabalho, os servidores realizam protestos nos câmpus da UnB. Com cartazes, megafones e caixas de som, os servidores protestam para pressionar as autoridades a cumprir a decisão do STF.
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá.