mercado de trabalho

Formação técnica abre novas oportunidades e aumenta renda em até 25%

Os cursos técnicos oferecem experiência prática para alunos que buscam se diferenciar no mercado. Além de ampliar as oportunidades, contribuem para o aumento da renda e da autonomia

Júlia Giusti*
postado em 26/05/2024 06:00 / atualizado em 29/05/2024 15:18
Giovanna Sousa, pioneira na área de eletricidade 
na Neoenergia, com painel elétrico ao fundo -  (crédito: Ricardo Botelho/MME)
Giovanna Sousa, pioneira na área de eletricidade na Neoenergia, com painel elétrico ao fundo - (crédito: Ricardo Botelho/MME)

O mercado de trabalho está em constante transformação, exigindo, cada vez mais, domínio das ferramentas tecnológicas e profissionais capazes de desempenhar múltiplas funções. Com isso, surgem caminhos para acompanhar as novas dinâmicas de produção, como a realização de cursos técnicos, que oferecem especialização e habilidades práticas para atuar nas diversas áreas do mercado. 

De acordo com o Sistema de Acompanhamento de Egressos do Senai  - painel 2021-2023, em média, 80% dos alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) estão inseridos no mercado de trabalho, com destaque sobre cursos técnicos, que têm 84,4% dos cerca de 5.800 egressos pesquisados empregados. Entre os cursos com maiores taxas de ocupação, estão mecânica, alimentos e mecânica de manutenção. O superintendente de educação profissional e superior do Senai, Felipe Morgado, explica que essa modalidade é uma porta de acesso para a empregabilidade, com ampliação de oportunidades, aumento de renda e desenvolvimento da autonomia.

"O curso técnico é um acesso mais rápido que tem alta inserção no mercado de trabalho, capacitando os profissionais e ampliando oportunidades. Além disso, nossa pesquisa mostra que os estudantes que fazem os cursos têm renda 25% maior em comparação aos que não têm formação técnica. Um terceiro fator consiste na possibilidade de os alunos conhecerem e se apaixonarem pelas profissões para fazer escolhas", afirma.

Avaliação

A pesquisa de egressos do Senai ocorre em três etapas: aplicação de questionários aos estudantes no mês de conclusão do curso, acompanhamento dos egressos a partir de seis meses após a formação e avaliação junto às empresas. O levantamento tem como objetivos principais avaliar a qualidade dos cursos ofertados pela instituição, mapear as oportunidades no mercado de trabalho e alinhar a formação dos alunos com as necessidades do setor produtivo.

O estudo avalia quatro modalidades de ensino: aprendizagem industrial, qualificação profissional, técnico de nível médio e graduação tecnológica. As duas primeiras concentram uma faixa de 70% de inserção de egressos no mercado de trabalho, enquanto as duas últimas atingem média de 90%. A taxa de aprovação dos cursos pelos estudantes é muito alta, com 99,4% dizendo que os indicariam. Em todas as modalidades, com exceção da graduação, houve aumento na quantidade de profissionais empregados em relação ao último levantamento, feito entre 2020 e 2022. 

"Durante a pandemia, a gente foi muito criterioso, sofremos menos do que as outras instituições de educação, porque todos os nossos cursos  podiam ser oferecidos a distância. Então, a gente se preocupou muito em garantir que o aluno fosse bem informado, mesmo com uma pandemia. Esse período aumentou a segurança da sociedade no ensino remoto, entendendo que é possível garantir a qualidade da educação", declara Felipe Morgado.

Preferência das indústrias

Entre as 1.232 empresas pesquisadas, 91,7% preferem contratar egressos do Senai. Todos os índices observados na pesquisa superam o nível de ocupação médio dos brasileiros. Atualmente, quase 62% da população se encontra na faixa economicamente ativa (PEA), ou seja, que podem contribuir para movimentar a economia do país, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc) de 2023. Desse índice, 57,6% estão empregados, representando mais de 100 milhões de pessoas. A Pnadc ainda mostrou que a população desocupada chega a 8,5 milhões.

Fernando Tamayo, de 68 anos, fez curso de energia fotovoltaica no Senai Brasília e trabalha na administração da consultoria internacional Brazilian Solar. Para ele, a formação na instituição foi "o início de uma transformação de sucesso". De origem peruana, ele mora no Brasil há 32 anos, porque casou com uma brasileira. Tecnólogo de mecânica e formado em administração, era representante comercial de indústrias antes de trabalhar com energia solar, mas a pandemia o levou a buscar outros meios de sustento.

"Com a covid-19, tudo mudou. Meus clientes desapareceram, então tinha que buscar outra forma de sustentar a família. Notei que muitos vizinhos queriam colocar energia solar em suas casas, mas não tinha ninguém conhecido no bairro que fizesse isso. Então resolvi estudar energia fotovoltaica e eletricidade, pois não tinha conhecimento sobre o assunto", conta.

Com as bases técnicas aprendidas no curso, Fernando e sua equipe vão organizar a primeira feira de energia solar do Brasil, aberta ao público: "Queremos ensinar ao público consumidor o jeito certo das instalações, para que possam buscar os serviços adequados". Ele comenta que a falta de especialização dos profissionais que instalam painéis solares gera problemas, destacando que "todos os engenheiros devem passar pelo Senai, e as empresas instaladoras de energia solar deveriam ter, pelo menos, um técnico graduado na instituição".

A maior parte dos estudantes de cursos técnicos do Senai estão na faixa etária de 16 a 24 anos, sendo 37% do gênero feminino. De acordo com Felipe Morgado, isso reflete a dinâmica do mundo: "Na indústria, existe uma imagem estigmatizada pelo gênero masculino, mas a gente está formando mais mulheres para estimular essa política afirmativa. Acredito que, cada vez mais, elas estarão presentes nas áreas industriais".

Presença feminina

O Senai forma bem mais mulheres em relação à participação delas na indústria nacional. Segundo dados do Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), elas respondem por apenas um quarto da força de trabalho, mas observa-se aumento da presença feminina em cargos de gestão — passando de 24%, em 2008, para 31,8%, em 2021.

Giovanna Sousa, de 26 anos, participou do programa Escola de Eletricistas, da Neoenergia, no Distrito Federal. Executado pelo Senai, o programa é voltado para a ampliação da participação feminina na área, contando com 343 eletricistas formados entre 2021 e março de 2024, dos quais 45% são mulheres. Entre os 275 profissionais contratados, a representação feminina é mais de 50%.

Nesse contexto, Giovanna conta que o interesse na formação partiu da percepção acerca da desigualdade de gênero na profissão, o que a motivou a defender a equidade no trabalho. "O que me chamou a atenção foi que o programa estava procurando mulheres para participar. Eu me interessei até porque, na minha família, tem muitas pessoas que trabalham na área de eletricidade; meu pai, inclusive. Mas eu nunca tive nenhum incentivo dentro de casa, justamente por ser uma área majoritariamente masculina. A questão, aqui, não é só inserir a mulher no mercado de trabalho, mas fazer adaptações para garantir equidade", diz.

Antes de participar do programa organizado pelo Senai, Giovanna não tinha noções sobre energia elétrica. Além dos conhecimentos adquiridos nas aulas, ela considera que o diferencial da formação foi ver que "nós, mulheres, podemos fazer o que quisermos". Hoje, contratada pela Neoenergia, Giovanna é pioneira em manobra de subestações, setor responsável por garantir proteção e operação de determinados trechos da rede elétrica.

"Todos os dias, não é só fazer o nosso trabalho, a gente tem que entender o significado disso. Também é uma questão de representatividade, porque quantas mulheres não tiveram a oportunidade que eu tive? De ter todo o apoio para fazer um curso de qualidade, com acesso aos equipamentos e chance de atuar na área elétrica. Quantas mulheres no Brasil não tiveram essa chance? Então é isso o que me move todos os dias para vir trabalhar: ser exemplo para outras", compartilha.

Instituições no DF

No Distrito Federal, entidades oferecem a capacitação em diferentes modalidades e locais, para qualificação de mão de obra em inúmeros segmentos. Algumas delas podem ser encontradas abaixo.

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)

Entre os programas do Senai, há o Programa Senai de Gratuidade Regimental e o DF Inova Tech. O primeiro oferece, gratuitamente, cursos de formação profissional nas escolas, formando trabalhadores para atuarem em várias áreas da indústria. Os locais são: Setor de Indústria Gráficas (SIG), Brazlândia, Gama, Taguatinga e Sobradinho. O segundo consiste na oferta de cursos presenciais de aperfeiçoamento, de qualificação e habilitação técnica, com o objetivo de fomentar a inovação e a qualificação de mão de obra para o setor produtivo, principalmente nas áreas voltadas à indústria 4.0, ampliando o alcance da educação. O DF Inova Tech é realizado em parceria com o governo local, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e a Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP-DF). Confira mais informações pelo site: https://shre.ink/8s63.

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senac)

A instituição oferece diversos cursos técnicos voltados a estudantes do ensino médio, por meio do Programa Técnico no Ensino Médio. Os cursos disponíveis são: nutrição e dietética; eventos; análises clínicas; segurança no trabalho; hemoterapia; informática; programação de jogos digitais; desenvolvimento de sistemas; design de interiores; administração; recursos humanos; gastronomia; secretariado e produção de moda, distribuídos nas seguintes localidades: asa sul, São Sebastião, Gama, Santa Maria, Taguatinga, Brazlândia, Ceilândia e Sobradinho. Confira mais informações pelo site: https://shre.ink/8sOV.

Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest Senat)

Neste ano, a unidade do Senat em Brasília está ofertando o curso técnico subsequente de nível médio de segurança no trabalho, na modalidade semipresencial, em Samambaia. Confira mais informações pelo site: https://shre.ink/8sOO

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar)

A instituição oferta cursos em modalidade presencial e Ensino a Distância (EaD). No DF, não há cursos presenciais disponíveis no momento. Em formato EaD, são disponibilizados os seguintes cursos: técnico em agricultura; agronegócio; florestas; fruticultura e zootecnia. Confira todos os cursos do Senar pelo site: https://shre.ink/8sJX

Instituto Federal de Brasília (IFB) 

Os cursos técnicos oferecidos são distribuídos em três modalidades: concomitantes, subsequentes e integrados. Os primeiros são destinados a estudantes que cursam o ensino médio em outras instituições de ensino. Os segundos são para os que já concluíram a formação escolar. A terceira modalidade envolve a realização do curso técnico em conjunto com o ensino médio, ambos no IFB. Confira mais informações pelo site: https://shre.ink/8sO8. Relação conforme os campus:

Campus Brasília

» Técnico em serviços públicos - subsequente

» Técnico em informática - desenvolvimento de sistemas - subsequente

» Técnico em eventos - subsequente

Campus Gama

» Técnico em cooperativismo - subsequente

» Técnico em logística - subsequente

» Técnico em química - subsequente

» Técnico em agronegócio - subsequente

Campus Planaltina

» Técnico em agroindústria - subsequente

» Técnico em agropecuária - subsequente

» Técnico em agropecuária - integrado

 Campus Samambaia

» Técnico em edificações - subsequente

» Técnico em móveis- subsequente

» Técnico em reciclagem - subsequente

Campus São Sebastião

» Técnico em secretariado - subsequente

» Técnico em secretaria escolar - subsequente

 Campus Taguatinga

» Técnico em eletromecânica - subsequente

» Técnico em manutenção e suporte em informática - subsequente

» Técnico em vestuário - subsequente

 

*Estagiária sob a supervisão de Ana Sá

  • Felipe Morgado, superintendente do Senai, indica formação técnica para ter novas oportunidades
    Felipe Morgado, superintendente do Senai, indica formação técnica para ter novas oportunidades Foto: Iano Andrade/CNI
  • Giovanna Sousa, contratada pela Neoenergia após participar do programa Escola de Eletricistas, fala para uma turma de novos formandos
    Giovanna Sousa, contratada pela Neoenergia após participar do programa Escola de Eletricistas, fala para uma turma de novos formandos Foto: Neoenergia/Divulgação
  • Fernando Tamayo, de 68 anos, em frente a um painel solar na empresa em que trabalha
    Fernando Tamayo, de 68 anos, em frente a um painel solar na empresa em que trabalha Foto: Arquivo pessoal
  • Fernando Tamayo, de 68 anos, trabalha na parte administrativa de uma consultoria de energia solar, após fazer curso no Senai
    Fernando Tamayo, de 68 anos, trabalha na parte administrativa de uma consultoria de energia solar, após fazer curso no Senai Foto: Arquivo pessoal
  • Giovanna com as colegas na primeira turma de mulheres da Escola de Eletricistas
    Giovanna com as colegas na primeira turma de mulheres da Escola de Eletricistas Foto: Divulgação/Neoenergia
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