Bianca Borges, 25 anos, foi eleita a nova presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) com 82% dos votos, durante o 60º Congresso da entidade, ocorrido na semana passada, em Goiânia. A estudante de letras do Instituto Federal de São Paulo (IFSP) assume a maior representação estudantil da América Latina com a promessa de ampliar o programa de bolsas permanência, defender o ensino público e reencantar a juventude com a política.
Filha de trabalhadores nordestinos, Bianca nasceu em Itapevi (SP) e cresceu em Praia Grande, no litoral paulista. Sua mãe, Sônia Pereira, 57 anos, trabalhou como faxineira e porteira em São Paulo e levava para casa livros usados encontrados no lixo para incentivar a filha a estudar.
Desde então, a educação foi tudo na sua vida. O primeiro passo no movimento estudantil veio cedo. Aos 14 anos, Bianca ajudou a fundar o grêmio estudantil na ETEC de Praia Grande, para reivindicar melhorias, como micro-ondas para os alunos e mais diálogo com a direção. Ali, descobriu que a organização coletiva poderia transformar realidades.
Determinada a continuar estudando, Bianca conquistou vaga no curso de direito da Universidade de São Paulo (USP), onde enfrentou dificuldades financeiras, viveu em moradias estudantis mantidas pelos próprios alunos e se sustentou com bolsas permanência.
Durante a graduação, ela participou de mobilizações em defesa da universidade pública e contra projetos que limitavam investimentos em educação, como a chamada “PEC do fim da USP”. Para Bianca, a presença na luta política sempre foi prioridade: “No meu primeiro dia de aula na faculdade, eu estava em uma manifestação na reitoria, porque entendi que era importante estar lá”, lembra.
Bianca afirma que agora, como presidente da UNE, quer ampliar o debate sobre o papel da universidade pública como instrumento de transformação social. Entre as prioridades de sua gestão, estão a ampliação de bolsas estudantis, a valorização da carreira docente, o fortalecimento da assistência estudantil e o combate aos cortes no orçamento da educação.
A UNE foi fundada em 1937 e representa estudantes de universidades e institutos federais em todo o Brasil. Com mais de 80 anos de história, a entidade se tornou um dos maiores símbolos de resistência democrática, tendo papel fundamental em momentos como a luta pela redemocratização do país e o combate à ditadura militar.
A paulista destaca que a entidade precisa ser um espaço de esperança em um país marcado por desigualdades, inflação alta e cortes no orçamento da educação. Para ela, é preciso mobilizar os estudantes em defesa da democracia, do direito à educação e de mais oportunidades para os jovens. “A juventude precisa ter coragem para construir um futuro de esperança, mas também para lutar por um presente com dignidade”, afirma.
O 60º Congresso da UNE, que a elegeu, reuniu cerca de 15 mil estudantes em Goiânia, contou com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sancionou a lei destinando recursos do Fundo Social do Pré-Sal para assistência estudantil. Bianca considera que o momento é histórico e acredita que é hora de garantir que os jovens tenham condições de permanecer na universidade e concluir seus cursos.
Com a mochila nas costas e disposição para dialogar, Bianca quer visitar universidades e institutos pelo Brasil para ouvir os estudantes, discutir pautas e fortalecer a organização estudantil. Ela defende que a juventude precisa recuperar a autoestima e se reconhecer como protagonista das mudanças sociais.
Ela acredita que o maior desafio de sua gestão será enfrentar as desigualdades que ainda afastam jovens das salas de aula. Para ela, cada estudante que consegue permanecer na universidade representa uma vitória contra a exclusão. “Nosso papel é lutar para que nenhum jovem precise abandonar os estudos por falta de condições. Queremos um Brasil onde a juventude tenha voz e espaço para sonhar”, conclui.
Ao deixar sua mensagem para os estudantes, Bianca convida os jovens a conhecerem a UNE e a participarem do movimento estudantil. “Quero convidar todos a conhecerem a UNE, a se organizarem e a acreditarem que a política pode ser um instrumento para mudar vidas, assim como mudou a minha”, diz. “Conhecer o passado abre portas para o presente e o futuro.”
*Estagiária sob supervisão de Ana Sá
EuEstudante
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