Justiça

Ativistas pró-democracia de Hong Kong são declarados culpados

As manifestações de 2019 refletiu nas urnas com a vitória da oposição nas eleições locais de novembro do mesmo ano

Agência France-Presse
postado em 01/04/2021 19:08
 (crédito: ISAAC LAWRENCE)
(crédito: ISAAC LAWRENCE)

Nove ativistas veteranos de Hong Kong foram declarados culpados, nesta quinta-feira (1°/4), por seu papel na organização de uma das maiores manifestações de 2019, decisão que ilustra a repressão implacável na região chinesa.

Entre os nove, estão algumas das personalidades mais respeitadas da luta pelas liberdades na ex-colônia britânica, com frequência, defensores da não-violência que se mobilizaram por décadas para a instauração de um verdadeiro sufrágio universal.

Um dos mais conhecidos é o advogado Martin Lee, de 82 anos. Antes da devolução de Hong Kong em 1997, ele foi escolhido por Pequim para redigir a Lei fundamental, que funciona como uma mini constituição na região semiautônoma.

Também foram processados a ex-deputada da oposição e advogada Margaret Ng, de 73 anos, assim como o magnata da mídia Jimmy Lai e o ex-deputado Leung Kwok-hung, conhecido pelo apelido de "Long Hair".

Os dois últimos se encontram em prisão preventiva por outros processos em nome da draconiana lei de segurança nacional imposta por Pequim no final de junho de 2020.

Os demais são figuras da Frente Civil pelos Direitos Humanos (CHRF), coalizão que organizou as maiores manifestações de 2019, quando a cidade mergulhou em sua pior crise política desde a transferência da soberania em 1997, com ações e mobilizações quase diárias.

- 'Estamos muito orgulhosos' -


O Tribunal de Distrito de Hong Kong declarou sete deles culpados de organizar e participar de um comício ilegal. Os outros dois se declararam culpados. Podem ser condenados a até cinco anos de prisão. As penas serão divulgadas em 16 de abril.

"Estamos muito orgulhosos, ainda que tenhamos que ir para a cadeia por isso", disse o ex-deputado e líder sindical Lee Cheuk-yan a repórteres. "Independentemente do que o futuro nos reserva, nunca vamos parar de ir às ruas", completou.

O porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, afirmou que o veredito "volta a mostrar até que ponto as autoridades chinesas e de Hong Kong têm necessidade de sufocar qualquer forma de oposição pacífica na cidade". Além disso, ele prometeu que os Estados Unidos continuarão "considerando responsáveis" os autores da repressão.

Na manhã desta quinta-feira (1°/4), alguns manifestantes se reuniram nas imediações do tribunal com cartazes que denunciavam a "repressão política". É um caso emblemático, porque se trata da organização de uma manifestação não autorizada em 18 de agosto de 2019, que havia sido uma das maiores em sete meses de protesto.

Os organizadores foram responsáveis por reunir 1,7 milhão de manifestantes naquele dia, o que representaria quase um em cada quatro habitantes de Hong Kong. Esse número não pôde ser verificado de forma independente.

- Circulação de automóveis -


Escolhido pelo governo de Hong Kong para dirigir a acusação contra os nove, o advogado britânico David Perry acabou renunciando à missão, devido às fortes críticas de Londres e de organizações jurídicas britânicas quando se soube que ele havia aceito.

A acusação alegou que os nove desafiaram a proibição de se manifestar, causando problemas no tráfego de automóveis na cidade.

Na sentença, a juíza AJ Woodcock advertiu que estava inclinada a impor a pena máxima e deu a entender que a natureza pacífica do protesto não era uma desculpa válida.

"(...) As considerações de ordem pública não se limitam apenas aos casos de violência, mas também às graves perturbações do tráfego, como foi o caso", diz a sentença.

A popularidade do protesto se refletiu nas urnas, com a vitória da oposição nas eleições locais de novembro de 2019. O movimento sofreu uma interrupção no começo de 2020 devido às restrições impostas contra a pandemia, às milhares de prisões e a um certo cansaço dos manifestantes.

Salvo o abandono da polêmica lei de extradição, os manifestantes não conseguiram nada. E, em junho de 2020, as autoridades chinesas impuseram a lei de segurança nacional.

As manifestações não podem mais ser realizadas na cidade. E, também sob pretexto da pandemia, as autoridades adiaram por um ano as eleições legislativas, nas quais a oposição tinha chances de ver refletida a popularidade de sua luta.

Além disso, a China promulgou esta semana uma reforma do sistema eleitoral local, o que irá marginalizar totalmente a oposição no Conselho Legislativo (LegCo, o Parlamento de Hong Kong).

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