ESCÂNDALO SEXUAL

Após escândalo sexual, Biden pede renúncia do governador de Nova York

Investigação concluiu que Andrew Cuomo assediou pelo menos 11 mulheres. Democrata se diz inocente, resiste em deixar o cargo e vê minar o apoio do presidente e de aliados

Rodrigo Craveiro
postado em 04/08/2021 06:00
 (crédito: Timothy A. Clary/AFP)
(crédito: Timothy A. Clary/AFP)

Charlotte Bennett não poderia ser mais explícita. “Renuncie, governador”, escreveu a ex-assessora de Andrew Cuomo, o homem responsável por comandar o estado de Nova York. Ela é uma das 11 mulheres que o acusam de abuso sexual.

Um relatório de 165 páginas, baseado em entrevistas de 179 testemunhas e em dezenas de milhares de documentos, aponta que Cuomo “assediou sexualmente várias mulheres, e, ao fazê-lo, violou as leis federal e estadual”, segundo a procuradora-geral do Estado de Nova York, Letitia James.

Horas depois da divulgação do dossiê sobre o inquérito independente, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, admitiu que o amigo não pode mais continuar no cargo. “Acho que deve renunciar”, declarou ao ser questionado sobre o escândalo sexual.

Cuomo veio a público e jurou inocência. “Quero que saibam diretamente por mim que nunca toquei em ninguém de forma inadequada ou fiz avanços sexuais inadequados”, declarou, em discurso transmitido pela televisão. “Tenho 63 anos. Vivi toda a minha vida adulta sob os olhos do público. Isso não é o que sou. E esse não é quem eu tenho sido.”

Em seu site oficial, ele negou todas as acusações e curiosamente se desculpou com Bennett. A ex-assessora de 26 anos disse aos investigadores que Cuomo lhe questionou se toparia manter relações sexuais com um homem mais velho e se era adepta da monogamia. “Charlotte, quero que você saiba que lamento, verdadeira e profundamente. Eu trouxe minha experiência pessoal para o local de trabalho, e não deveria ter feito isso”, escreveu. As denúncias incluem toques sexuais, insinuações, abraços e beijos indesejados. O governador tentou se justificar e disse que apenas buscava se “conectar” com as pessoas e mostrar a elas seu apreço.

A pressão sobre Cuomo não veio apenas da Casa Branca. No Congresso, a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, classificou a investigação liderada por Letitia James como “abrangente e independente”. “Como sempre, elogio as mulheres que vêm a público para contarem sua verdade.

Reconhecendo o seu amor por Nova York e o respeito pelo cargo que ocupa, peço ao governador que renuncie”, afirmou a também democrata. O presidente da Assembleia do Estado de Nova York, Carl E. Heastie, disse que Cuomo não conta mais com o apoio da maioria democrata e não pode mais servir como governador. “Nós agiremos rapidamente e procuraremos concluir nosso inquérito de impeachment o mais rápido possível”, prometeu. “Ele não está apto para o cargo.”

Na entrevista coletiva, a procuradora-geral do Estado de Nova York comentou que o relatório mostra um quadro “profundamente perturbador, mas claro” de um padrão comportamental de Cuomo. Letitia citou um “ambiente de trabalho hostil para as mulheres” e revelou que o governador retaliou ao menos uma ex-funcionária após as denúncias.

Lindsey Boylan, ex-assessora para desenvolvimento econômico do governo de Nova York, abriu caminho para as denúncias. “Eu fui assediada sexualmente ao longo da minha carreira, mas não de uma forma em que todo o ambiente foi montado para fomentar o predador”, declarou às autoridades, segundo depoimento que consta no relatório.

Procurada pelo Correio, Jessica Bakeman, repórter da emissora de rádio WLRN, negou-se a conceder uma entrevista. “Obrigada, mas educadamente me recuso”, respondeu uma das mulheres que acusam Cuomo. Em 12 de março, ela escreveu um artigo para a revista New York Magazine em que detalhou o assédio. “As mãos de Andrew Cuomo estiveram no meu corpo — nos meus braços, ombros, na parte inferior das minhas costas, na minha cintura. (…) Eu tinha 25 anos”, afirmou. “Ele usa o toque e as insinuações sexuais para atiçar o medo em nós.”

» Quem são as vítimas

Pelo menos 11 mulheres acusaram Cuomo de comportamento inapropriado, das quais nove são ou foram funcionárias do Estado de Nova York. Veja alguns relatos:

Lindsey Boylan, ex-assessora estadual para desenvolvimento econômico. Afirma ter sido assediada diversas vezes por Cuomo. O governador teria lhe beijado a boca e tocado a cintura, as pernas e as costas da mulher em seu gabinete, em Manhattan. Ela foi a primeira a denunciá-lo.

Charlotte Bennett, 26 anos, ex-assessora de Cuomo. Alega que Cuomo lhe perguntou se estaria aberta a fazer sexo com um homem mais velho e se era monogâmica. O governador teria lhe sugerido jogarem strip poker — uma versão do pôquer em que jogadores retiram uma peça de roupa a cada rodada perdida.

Ana Liss, ex-assessora de Cuomo. Contou às autoridades que se sentiu desconfortável pelo fato de o governador ter feito perguntas sobre a vida pessoal e lhe beijado as mãos.

Alyssa McGraith, assessora de Cuomo. Relatou que o governador agiu de forma inadequada com ela, perguntando sobre seu estado civil e olhando fixamente para sua blusa.

Virginia Limmiatis, funcionária de uma companhia energética. Acusou Cuomo de ter tocado-lhe os seios durante um evento. O governador teria dito que contaria às outras pessoas que “havia algo” em sua blusa.

» Lazer em Nova York exigirá vacinação

A cidade de Nova York exigirá a apresentação de um certificado de vacinação para entrada em restaurantes, academias e locais de entretenimento. O anúncio foi feito, ontem, pelo prefeito democrata Bill de Blasio. Com isso, a Big Apple se torna a primeira cidade dos Estados Unidos a adotar um passe sanitário.

O anúncio foi feito ao mesmo tempo em que órgãos públicos e empresas privadas dos EUA reforçam as exigências de vacinação devido ao avanço da variante Delta, altamente contagiosa do coronavírus. “Se você foi vacinado (...), você tem a chave, pode abrir a porta.

Mas se você não for vacinado, infelizmente, não poderá participar de muitas atividades”, acrescentou Bill de Blasio. Em meio a um aumento de casos de covid-19 no país, De Blasio disse que o dispositivo, denominado “Key to NYC pass” (“Chave para o passe de NYC”), seria lançado em 16 de agosto, seguido por um período de transição de um mês. “É hora de as pessoas verem a vacinação como algo literalmente necessário para ter uma vida plena e saudável”, disse o prefeito.

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