CRISE POLÍTICA

Argentina: Crise econômica impulsionou vitória da oposição na Câmara e no Senado

Com quase 100% dos votos apurados, oposição confirma vitória para Câmara e Senado. Pressionado pela crise econômica, Alberto Fernandez terá de remontar base de apoio

Correio Braziliense
postado em 15/11/2021 06:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

Com mais de 95% das seções eleitorais apuradas até as 22h de ontem (mesmo horário de Brasília), as eleições legislativas na Argentina vão confirmar a derrota do governo peronista de Alberto Fernández, antevista nas primárias de setembro. A coligação oposicionista Juntos pela Mudança, liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri, tinha, até o fechamento desta edição, 42,4% dos votos, contra 33,5% da Frente de Todos, a aliança peronista de centro-esquerda.

Mais de 23 milhões de argentinos compareceram às urnas para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado.

Os primeiros resultados da votação começaram a sair no começo da noite. A divulgação de pesquisas de boca de urna é proibida na Argentina, mas as principais emissoras de TV e de rádio já apontavam que as eleições de meio de mandato repetiriam a tendência das primárias, em que a coligação oposicionista derrotou a frente peronista.

"Terminamos um dia eleitoral muito bom. Tudo correu normalmente. Pelos primeiros dados da Câmara Nacional Eleitoral, temos um percentual de comparecimento entre 71 e 72%. Havia mais gente do que nas primárias de setembro", declarou o ministro do Interior, Wado de Pedro, pouco depois do encerramento da votação, às 18h locais.

Depois do revés sofrido pelo governo nas primárias de setembro, os olhos se voltaram para a apuração dos votos na populosa periferia de Buenos Aires, com quase 40% da lista eleitoral e bastião histórico do partido peronista. A capital e outras grandes cidades estão nas mãos da oposição. Mas a adesão esperada ao peronismo governista não se confirmou.

Eleitor descrente

A votação renovará 127 das 257 cadeiras da Câmara dos Deputados, na qual a oposição já tem maioria. A disputa mais arriscada para o governo estava mesmo no Senado, presidido pela influente vice-presidente, Cristina Kirchner. Na Câmara Alta serão renovadas 24 das 72 cadeiras. É lá que, a partir de 2022, o governo de Fernández deve perder a sustentação parlamentar, atualmente com 41 senadores, contra 25 da coalizão de centro-direita.

"Amanhã a Argentina continua, e temos que seguir trabalhando para construir o país que queremos", disse o presidente depois de votar, acompanhado pela primeira-dama, Fabiola Yañez, que está grávida.

A se confirmar a derrota, Fernández terá que trabalhar muito para remontar sua base parlamentar e tentar garantir governabilidade ao longo dos próximos dois anos de mandato.

Macri, principal referência da oposição, adiantou que "esses próximos dois anos serão difíceis" e, em tom de vencedor, garantiu que sua coalizão "atuará com muita responsabilidade, ajudando para que a transição seja a mais ordenada possível".

"Tenho medo pela economia, o salário não é suficiente. Vença quem vencer, o país demorará muito para se recuperar. Estou muito descrente de tudo", lamentou o vendedor de pastéis Oscar Navarro, de 50 anos, sem revelar em quem votou.

"É claro que votei no presidente. Tenho muito medo do que pode acontecer na eleição", disse Marta Gramiño, 45, que se aproximou da janela de um bar para ver de perto o presidente Fernández, que parou para tomar um café.

Atraída também pelo barulho das câmeras, Liliana Márquez, 62, funcionária de um hospital, disse que espera que a oposição prevaleça. "Nunca confiei nesses governos peronistas. Votei no macrismo porque não consigo encontrar uma alternativa."

Pacote econômico

Nas últimas semanas, o governo anunciou medidas econômicas, com controle de preços, em mais uma tentativa de combater a inflação galopante, que acumula 41,8% entre janeiro e outubro, uma das mais elevadas do mundo.

Fernández também endureceu o discurso a respeito do Fundo Monetário Internacional (FMI), com o qual a Argentina tenta obter um acordo para substituir o crédito stand-by de 2018, de 44 bilhões de dólares. Se não conseguir o novo acordo, a Argentina — que tem 40% da população na pobreza — terá que pagar US$ 19 bilhões ao FMI em 2022 e o mesmo valor em 2023.

As eleições ocorrem no momento em que o país está emergindo da última recessão, que começou em 2018 e se aprofundou com uma queda de 9,9% do PIB em 2020, devido à pandemia de covid-19.

A queda do número de contágios nas últimas semanas e o avanço do programa de vacinação — com mais de 60% da população com esquema vacinal completo e 20% com a primeira dose — possibilitaram a retomada gradual das atividades.

Mas o crescimento de quase 9% do PIB previsto para este ano apenas levaria a situação econômica de volta ao início do governo Fernández, quando a Argentina já acumulava dois anos de recessão.

 


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