Um mês depois de ter sido detectada na África do Sul, a ômicron começa a ter um perfil mais definido, na avaliação de cientistas que acompanham a evolução da covid-19. Especialistas concordam que a mais nova variante do Sars-CoV-2, embora muito mais contagiosa, é muito menos virulenta do que, por exemplo, a delta, embora não se saiba até que ponto ela poderá influenciar a pandemia. Ontem, uma análise divulgada pela agência britânica de segurança sanitária corroborou o entendimento de menor gravidade.
O trabalho, alinhado com dois estudos britânicos publicados na véspera, sustenta que uma pessoa com ômicron tem "entre 50% e 70% menos de probabilidades de ser internado em um hospital" do que um paciente infectado pela variante delta. No entanto, a agência britânica é muito cautelosa quanto ao baixo número de casos de pacientes hospitalizados com essa nova variante.
A análise é publicada em um momento em que os casos da covid-19 batem sucessivos recordes no Reino Unido, com mais de 120 mil notificações diárias entre quarta-feira e ontem. O aumento em sete dias é de 50%, e o número de internações começa a aumentar, sobretudo em Londres.
A Escócia anunciou o fechamento de boates por tempo indeterminado. A Irlanda do Norte e o País de Gales também apertaram as restrições às vésperas do Natal. Na Inglaterra, o governo do primeiro-ministro Boris Johnson está adiando a decisão o máximo possível, com base justamente nos dois estudos que mostram um menor risco de hospitalização pela ômicron.
Dominante
A situação do Reino Unido não é um caso isolado. Segundo o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a Europa, Hans Kluge, "a ômicron está se tornando, ou já se tornou, dominante em vários países". A variante avança muito rapidamente em várias partes do continente e os casos estão dobrando a cada dois ou três dias, algo nunca visto antes.
Um exemplo é a França, onde 91.608 casos de covid foram notificados em 24 horas, um recorde absoluto de contágio desde o início da pandemia, em março do ano passado. "A transmissão é muito maior, mas, provavelmente, menos grave, embora não saibamos até que ponto", explicou Jean-François Delfraissy, presidente do conselho científico que assessora o governo de Emmanuel Macron.
A Espanha também registrou um recorde de infecções diárias, com mais de 60 mil casos, quase metade com a variante ômicron. Diante desse cenário, o país, que tem uma das populações com maior taxa de vacinação da Europa, decidiu tornar novamente obrigatório o uso de máscara ao ar livre, medida que foi suspensa há seis meses.
Também a Grécia anunciou que o uso de máscara será obrigatório em ambientes internos e externos durante os feriados. Todas as comemorações públicas de Natal e ano-novo foram canceladas no país. O governo italiano seguiu a tendência e voltou a cobrar o uso de máscaras.
A Suécia foi outro país onde novas medidas entraram em vigor. O governo determinou que o teletrabalho seja priorizado. Além disso, eventos públicos que reúnam mais de 500 pessoas exigirão cartão de vacinação.
"Embora a ômicron cause sintomas menos graves, o número de casos pode novamente sobrecarregar os sistemas de saúde que não estão prontos", alertou recentemente o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Isso não parece ser um problema no país onde a variante foi identificada, a África do Sul. No entanto, no Hemisfério Norte, onde a população é maior, as internações são muito mais preocupantes.
"É muito importante estudar o que vai acontecer em Londres na próxima semana porque vai nos ensinar muito sobre a gravidade", disse Arnaud Fontanet, membro do conselho consultivo francês.
Desde seu surgimento, a nova variante foi detectada em 18 países e territórios das Américas, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O continente superou 100 milhões de casos de covid-19 desde o início da pandemia.
Segundo os dados mais recentes da organização, na última semana houve diminuição das infecções em partes da América Central e do Sul, mas foi constatado aumento no Caribe.
Nos Estados Unidos, por medida de precaução, a cerimônia do Oscar honorário, prevista para janeiro, foi adiada, mas a data da cerimônia principal está mantida para 27 de março.
Segundo levantamento da agência de notícias France-Presse, com base em dados oficiais dos países, o mundo registrou 5,37 milhões de mortes e mais de 276 milhões de casos de covid-19 desde o fim de 2019, quando o Sars-CoV-2 surgiu em Wuhan, na China.
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Confinamento
Vinte e quatro meses depois, em meio aos preparativos para os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim-2022, o governo de Xi Jinping tenta erradicar a doença com medidas rigorosas. Desde ontem, os 13 milhões de habitantes da cidade de Xian, famosa pelos Guerreiros de Terracota, iniciaram um confinamento rígido devido a um pequeno foco do novo coronavírus — 100 casos.
Ninguém deve sair às ruas, "exceto por motivo imperativo". Apenas uma pessoa por casa está autorizada a fazer compras a cada dois dias e todas as empresas consideradas "não essenciais" suspenderam as atividades.
Os Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim acontecerão com as medidas mais restritivas para um evento esportivo desde o início da pandemia: sem a presença de torcedores que moram em outros países e com todos os participantes dentro de uma "bolha sanitária", que incluirá testes anticovid diários.
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FDA aprova terapia da Merck
Um dia depois da aprovação do comprimido anticovid da Pfizer, a agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos, FDA, recomendou, ontem, o uso da pílula desenvolvida pelo laboratório Merck para adultos de alto risco que contraírem a doença. "A autorização oferece uma opção de tratamento adicional contra o vírus da covid-19 na forma de comprimido, que pode ser tomado por via oral", disse a cientista Patrizia Cavazzoni.
O fármaco produzido pela Merck, conhecida como MSD fora dos Estados Unidos e do Canadá, deve ser tomado dentro dos cinco dias posteriores ao início dos sintomas. Reduziu em 30% as hospitalizações e mortes por covid-19 entre pessoas em risco. No caso da medicação da Pfizer, a redução é de 90%.
Em seu comunicado, a FDA insistiu em que ambos os tratamentos devem ser um complemento às vacinas, e não substituí-los, porque elas continuam sendo a principal ferramenta na luta contra o coronavírus.
Ainda as terapias dos dois laboratórios sejam, em geral, seguras, conforme atestam estudos clínicos desenvolvidos, a pílula da Merck (molnupiravir) levanta mais preocupações. A FDA não autoriza a medicação para menores de 18 anos, porque pode afetar o crescimento dos ossos e cartilagens, nem para grávidas, devido a possíveis danos ao feto.
O molnupiravir atua incorporando-se ao genoma do vírus, o que causa mutações que impedem a replicação viral. A posologia é de oito cápsulas ao dia, por cinco dias, totalizando 40 comprimidos.