GUERRA NO LESTE EUROPEU

Bloqueio do Banco Central da Rússia deve travar metade das reservas

A União Europeia concordou formalmente com a proibição de transações do BC russo. A medida deverá interromper a movimentação de aproximadamente metade das reservas internacionais de Moscou depositadas nos países do G7

Rosana Hessel
postado em 27/02/2022 18:27
 (crédito:  WILLIAM WEST)
(crédito: WILLIAM WEST)

Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) concordaram, neste domingo (27/2), em bloquear as transações financeiras do Banco Central da Rússia (CBR, na sigla em inglês).

O anúncio foi feito pelo chefe da diplomacia europeia, Joseph Borrell. Ele sinalizou que a decisão passará a valer a partir da próxima segunda-feira (28/2), de acordo com informações da Agência France-Press.

Segundo Borrell, com essa medida, mais da metade das reservas internacionais do país governado por Vladimir Putin serão bloqueadas, uma vez que elas são mantidas em países do G7, o grupo das economias mais industrializadas do planeta, composto por Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Japão e Canadá.

A medida faz parte do pacote de sanções que vem sendo orquestrado pela UE e pelos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).


Medida draconiana

A economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics (PIIE), em Washington, nos Estados Unidos, avaliou que medida é sem precedentes. “É a medida de isolamento mais draconiana que se pode adotar”, escreveu a especialista nas redes sociais. Segundo ela, "ainda que 100% das reservas internacionais russas estivessem em ouro, o CBR não poderia vendê-lo".

“A conclusão é que Putin arrumou uma gigantesca crise financeira para si com direito a muita convulsão social. Fica restrita à Rússia? Há muito o que observar nos próximos dias”, acrescentou Monica de Bolle em outra postagem na qual explica que, apesar de ter US$ 630 bilhões em reservas, esse ativo russo não tem liquidez como muitos acham. “Não há US$ 630 bilhões armazenados em algum cofre blindado subterrâneo”, afirmou.

A especialista explicou que as reservas são um colchão de sustentação para o sistema bancário e podem ser tipicamente detidas na forma de títulos de dívidas dos governos e em ouro e, em grande maioria, esses títulos dos governos emitem moedas de reserva, como dólar, euro. “As reservas nada valem. É por aí que estão indo as medidas contra o banco central da Rússia”, acrescentou.

 

Colchão

Monica de Bolle explicou que as reservas internacionais servem, também, como um colchão de sustentação para o sistema bancário. Logo, se o sistema bancário perde a sustentação quando o banco central não pode acionar reservas, os depósitos das pessoas comuns ficam em risco. Segundo ela, essa medida poderá provocar uma crise bancária na Rússia.

“Os bancos operam com liquidez fracionada. Nenhum banco consegue ressarcir 100% dos depósitos. O resultado é que, inevitavelmente, a população perceberá isso. De forma rápida. Desvela-se, portanto, a crise bancária clássica, aquela que conhecemos muito bem. Corridas bancárias são implacáveis e têm dinâmica de tsunami. Não dá tempo de Putin recorrer a ninguém”, escreveu.

Na avaliação da especialista, o governo russo pode decidir fechar os bancos na segunda-feira para evitar essa corrida. “Sabemos como isso acaba — em caos social e Putin sem qualquer apoio interno”, acrescentou.

 

 

 

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