Avanços na medicina

Hormônio pode estar ligado à maior prevalência de Alzheimer em mulheres

Pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências descobriram que o forte aumento deste hormônio após a menopausa estimula uma das vias do cérebro, responsável pelo desenvolvimento da Doença de Alzheimer

Jéssica Gotlib
postado em 02/03/2022 17:00 / atualizado em 02/03/2022 17:44
Três idosos com Alzheimer são vistos na casa de repouso em que moram em L'Hay-les-Roses, nos arredores de Paris -  (crédito: ALAIN JOCARD/AFP)
Três idosos com Alzheimer são vistos na casa de repouso em que moram em L'Hay-les-Roses, nos arredores de Paris - (crédito: ALAIN JOCARD/AFP)

Cientistas chineses podem ter resolvido uma das grandes questões da neurociência moderna. Há anos, estatísticas e estudos clínicos mostram que a Doença de Alzheimer aparece duas vezes mais em mulheres que em homens. Mas a causa deste fenômeno não era conhecida, até agora.

Em um artigo publicado na revista Nature, nesta quarta-feira (2/3), a equipe liderada pelo professor Keqiang Ye, do Instituto de Tecnologia Avançada de Shenzhen (SIAT) da Academia Chinesa de Ciências, explicou que pode ter encontrado a resposta. Segundo a pesquisa, o aumento do hormônio folículo-estimulante (FSH) estimula uma área no cérebro chamada via C/EBP/AEP, também conhecida como vias colinérgicas.

Desde 2018, a equipe já tinha conseguido estabelecer uma relação entre a ativação seletiva dessas vias e o desenvolvimento de doenças degenerativas. A partir de então, eles começaram a testar hormônios femininos, que são drasticamente alterados depois da menopausa, para tentar entender quais deles estavam ligados aos problemas de saúde.

A equipe de Ye identificou que o FSH é o que tem maior correspondência com a estimulação seletiva da via C/EBP/AEP. Para demonstrar essa descoberta, os pesquisadores usaram diferentes métodos.

Em uma das experiências, camundongos ovariectomizados receberam anticorpos para bloquear o FSH. Em outro teste, os cientistas eliminaram o receptor de FSH (chamado de FSHR) em neurônios para abolir a ligação entre as duas moléculas na região do cérebro conhecida como hipocampo.

Os dois casos produziram um alívio no aparecimento da doença e nas disfunções cognitivas dos camundongos. Além disso, em animais que já tinha Alzheimer, o bloqueio da via C/EBP/AEP levou a um alívio dos sintomas.

Numa outra frente da pesquisa, os estudiosos injetaram FSH nos camundongos machos e comprovaram que houve um aumento no desenvolvimento do mal de Alzheimer.

O próximo passo da equipe é entender a relação entre genes específicos, como o ApoE4, e o desenvolvimento da doença.

"Nossas descobertas demonstram que a via de sinalização C/EBP/AEP atua como um fator central nessas doenças dependentes da idade, o que pode ajudar a revelar como uma variedade de fatores de risco medeiam doenças neurodegenerativas por meio da ativação dessa via", disse o Seong Su Kang, da Universidade Emory.

 

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