Oriente Médio

Familiares de reféns capturados pelo Hamas invadem Parlamento

Manifestação durante sessão do Comitê de Finanças do Knesset amplia pressão sobre o governo de Netanyahu pela libertação dos civis capturados pelo Hamas. Exército judeu confirma 200 mortes de soldados desde 30 de outubro

Com fotos de sequestrados, parentes invadem sessão do Knesset:
Com fotos de sequestrados, parentes invadem sessão do Knesset: "Vocês não se sentarão aqui enqanto nossos filhos morrem!" - (crédito: Reprodução)

A carta foi enviada à mesa diretora do Knesset (Parlamento israelense) e ao governo de Benjamin Netanyahu no domingo (21/1). "Nós, familiares dos reféns em Gaza, imploramos a vocês: não negociem algo que não seja o retorno dos sequestrados. Não abandonem os reféns, que são executados diariamente", afirmava a mensagem. Ante a falta de resposta das autoridades israelenses, 20 parentes de israelenses mantidos sob a mira do grupo extremista palestino Hamas invadiram o Palácio do Knesset, em Jerusalém, e interromperam a sessão do Comitê de Finanças, aos gritos: "Libertem-os agora, agora, agora!". Alguns dos manifestantes vestiam camisas pretas com a frase em hebraico "Vocês não se sentarão aqui enquanto nossos filhos morrem!".

Também nesta segunda-feira (22/1), um protesto diante da residência do primeiro-ministro terminou com o derramamento de um líquido vermelho imitando sangue dos reféns. O Fórum de Famílias de Reféns e Desaparecidos, entidade que tem organizado uma série de manifestações desde o massacre de 7 de outubro, buscou se distanciar do ato. "Essa exibição foi realizada de forma independente e não coordenada com os familiares dos reféns", afirmou, em nota recebida pelo Correio por meio do WhatsApp. O Hamas ainda mantém em seu poder 130 civis e militares israelenses. Entre eles, está o brasileiro Michel Nisembaum, 59 anos, capturado pelos extremistas enquanto dirigia de Sderot ao kibutz de Mefalsim, na manhã do atentado. 

As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram a morte de 200 soldados na Faixa de Gaza, nos últimos 85 dias, desde o início da invasão por terra. As tropas do Exército judeu intensificaram os bombardeios à região sul do enclave palestino, com ataques letais em Khan Yunis, onde ocuparam o hospital Al-Khair. Famílias inteiras fugiram da cidade, a segunda maior de Gaza, em carros, carroças e caminhões. 

Famílias fogem de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, por meio de estrada costeira que leva até a cidade de Rafah: combates se intensificaram
Famílias fogem de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, por meio de estrada costeira que leva até a cidade de Rafah: combates se intensificaram (foto: AFP)

Em um vídeo divulgado no domingo, Netanyahu revelou que, em troca da libertação dos reféns israelenses, o Hamas exige o fim da guerra, a retirada das tropas de Gaza, a soltura dos prisioneiros palestinos e garantias de que o grupo prossiga no comando do enclave. "Se aceitarmos isso, nossos soldados terão caído em vão", reagiu o chefe de governo. O jornal britânico The Guardian divulgou que o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, sugeriu a remoção dos moradores da Faixa de Gaza e o confinamento deles em uma ilha artificial no Mar Mediterrâneo. Ante a repercussão negativa das declarações, a chancelaria de Netanyahu desmentiu a proposta, que teria sido feita durante reunião com representantes da União Europeia (UE). 

Ministros das Relações Exteriores da UE pressionaram Katz e a delegação israelense por uma solução baseada em dois Estados independentes e soberanos para o conflito no Oriente Médio — uma medida descartada por Netanyahu. "Paz e estabilidade não podem ser construídas apenas por meios militares (...) Qual outra solução vocês consideram? Fazer todos os palestinos partirem? Matá-los?", questionou Josep Borrell, chefe da diplomacia do bloco, antes de se encontrar com Katz e com o chanceler palestino,  Riyad al Maliki. 

Sequestrados

Professor de ciência política da Universidade Bar-Ilan (em Ramat Gan, subúrbio de Tel Aviv), Eytan Gilboa lembrou ao Correio que, pela primeira vez, o governo de Netanyahu formulou um plano para a libertação de todos os reféns israelenses em etapas: dois meses de trégua, redistribuição limitada de tropas e libertação de integrantes do Hamas. "É improvável que o Hamas aceite essa proposta. O grupo usa muitos civis de Gaza como escudos humanos para sua própria sobrevivência. Israel rejeitou as demandas do Hamas para encerrar a guerra e retirar suas forças de Gaza, em troca da libertação de todos os reféns israelenses. Isso jamais ocorrerá", admitiu. 

No entanto, Gilboa entende que a troca de propostas entre Israel e Hamas pode pavimentar o caminho para negociações sérias, com a ajuda dos governos dos Estados Unidos, do Egito e do Catar. "Netanyahu esteve preocupado com os danos políticos causados pela demora no resgate dos reféns. Foi por isso que ele apresentou essa nova iniciativa", disse o especialista.

Segundo Gilboa, a eliminação do poder e do governo do Hamas sobre Gaza não era algo compatível com as concessões feitas por Israel para a libertação de todos os reféns. "O objetivo mais importante vinha sendo o desmantelamento da capacidade militar do Hamas, enquanto a libertação dos sequestrados estava relegada  ao segundo plano. Com a nova proposta de Netanyahu, parece que o objetivo da libertação se equivaleu ao da eliminação do Hamas", avaliou. 

Novos ataques no Iêmen

Os Estados Unidos e o Reino Unido lançaram novos ataques contra o Iêmen, afirmou a agência de notícias dos rebeldes huthis na madrugada de hoje (noite de ontem, no Brasil), antes da confirmação das duas potências ocidentais. "Forças britânico-americanas estão realizando ataques na capital, Sanaa e em várias outras partes do Iêmen", reportou a agência de notícias Saba em um breve alerta em árabe. Os dois países declararam, em um comunicado conjunto, que lançaram bombardeios contra "oito alvos huthis no Iêmen, em resposta aos contínuos ataques dos rebeldes contra o tráfego internaciol e comercial, assim como contra navios de guerra que passam pelo Mar Vermelho". 

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postado em 23/01/2024 06:00
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