
Os brasileiros Phelipe de Moura Ferreira e Luckas Viana dos Santos, de 26 e 31 anos respectivamente, foram resgatados, na última segunda-feira (10/2), após fugirem de um complexo onde eram mantidos reféns há cerca de três meses em Mianmar. O resgate por uma ONG internacional foi confirmado pelo pai de um deles ao jornal O Globo.
Vítimas de rede de tráfico humano, os brasileiros de São Paulo foram atraídos ao Sudeste Asiático por promessas de emprego na Tailândia, país vizinho a Mianmar. No fim do ano passado, Luckas havia conseguido entrar em contato com a mãe e informar que criminosos pediam cerca de R$ 120 mil pela libertação dele.
Ao O Globo, o pai de Phelipe contou que o filho já havia trabalhado em um cassino na Tailândia anteriormente, bem como em Dubai e nas Filipinas. “Em agosto, ele voltou ao Brasil e conseguiu um emprego no Uruguai, mas logo em seguida chegou essa proposta pelo Telegram”, relatou.
A suposta vaga era em um call center em Bangkok que oferecia US$ 2 mil de salário, além de comissões (mais de R$ 11,5 mil, de acordo com a conversão atual). Ao chegar na Tailândia com passagens pagas pela empresa, em novembro, o paulista contou a um amigo que um motorista o levaria até o empreendimento, mas desapareceu desde então.
Luckas, que chegou a Mianmar cerca de um mês antes de Phelipe, também já havia trabalhado em cassinos pela região e planejava repetir a experiência na Tailândia. Ele foi convocado, também pelo Telegram, a trabalhar como intérprete de brasileiros, com salário equivalente a R$ 8 mil mais moradia.
Ambos os jovens foram levados à cidade tailandesa de Mae Sot, que faz fronteira com uma região de Mianmar conhecida por aplicação de golpes on-line e tráfico humano. Os parentes deles contam experiências semelhantes à de um ator chinês que foi resgatado em janeiro, atraído por falso teste de elenco também oferecido via Telegram — motoristas que buscam a vítima no aeroporto tailandês, transferências de carro no meio do caminho e travessia de barco ao país vizinho.
De acordo com O Globo, os brasileiros foram mantidos cárceres no mesmo complexo, em condições precárias, junto a outras vítimas de tráfico humano. Lá, eram obrigados a aplicar golpes virtuais em pessoas de todo o mundo e sofriam com torturas, choques, agressões físicas e ameaças de morte.
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Nos últimos anos, Mianmar se tornou base para organizações criminosas que lesam pessoas do mundo inteiro. O secretário-geral da Interpol, Jurgen Stock, declarou, em março do ano passado, que o dinheiro movimentado por esses grupos pode chegar a US$ 3 trilhões.
Ao Correio, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) disse, em nota, que “tomou conhecimento, com grande satisfação, da liberação” dos brasileiros; e que manteve, durante o período em que eles estavam sob custódia, “contato permanente com as famílias”.
“O Itamaraty, por meio de suas Embaixadas em Yangon, no Myanmar, e em Bangkok, na Tailândia, vinha solicitando os esforços das autoridades competentes, desde outubro do ano passado, para a liberação dos nacionais”, informa a manifestação. “A proteção de nacionais vítimas de tráfico e contrabando de pessoas no exterior tem sido uma prioridade da política consular brasileira. Em um esforço de conscientização de brasileiros que buscam oportunidades de emprego no exterior, o Itamaraty tem ativa participação no IV Plano Nacional de Combate ao Tráfico de Pessoas, no âmbito do qual produziu guias on-line sobre tráfico de pessoas e sobre os perigos específicos das ofertas de emprego no Sudeste Asiático.”
O MRE alerta, também, sobre o número de de casos “de recrutamento de brasileiros para trabalho em plataformas digitais de apostas, na Ásia, em condições migratórias e laborais precárias”. O órgão coopera com as ações do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ministério Público do Trabalho e Polícia Federal relativas ao tema.
Leia íntegra da nota do Itamaraty:
“O Itamaraty tomou conhecimento, com grande satisfação, da liberação hoje, 11/2, de dois brasileiros vítimas de tráfico de pessoas na fronteira entre Myanmar e Tailândia.
O Itamaraty, por meio de suas Embaixadas em Yangon, no Myanmar, e em Bangkok, na Tailândia, vinha solicitando os esforços das autoridades competentes, desde outubro do ano passado, para a liberação dos nacionais. O tema foi também tratado pela Embaixadora Maria Laura da Rocha, na ocasião na qualidade de Ministra substituta, durante a IV Sessão de Consultas Políticas Brasil-Myanmar, realizada em Brasília, em 28 de janeiro último. Em suas gestões, a Embaixadora Maria Laura da Rocha reforçou a necessidade de esforços contínuos para localizá-los e resgatá-los.
O setor consular do Itamaraty manteve, ainda, contato permanente com as famílias.
A proteção de nacionais vítimas de tráfico e contrabando de pessoas no exterior tem sido uma prioridade da política consular brasileira. Em um esforço de conscientização de brasileiros que buscam oportunidades de emprego no exterior, o Itamaraty tem ativa participação no IV Plano Nacional de Combate ao Tráfico de Pessoas, no âmbito do qual produziu guias on-line sobre tráfico de pessoas e sobre os perigos específicos das ofertas de emprego no Sudeste Asiático.
O Portal Consular do Itamaraty alerta sobre o aumento do número de caso de recrutamento de brasileiros para trabalho em plataformas digitais de apostas, na Ásia, em condições migratórias e laborais precárias. Ademais, o Itamaraty coopera, dentro de suas competências, com as ações do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ministério Público do Trabalho e Polícia Federal.
Em atendimento ao direito à privacidade e em observância ao disposto na Lei de Acesso à Informação e no decreto 7.724/2012, o Ministério das Relações Exteriores não fornece informações sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.”
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