
O percussionista venezuelano Carwin Javier, 32 anos, frequentava a casa noturna Jet Set, em Santo Domingo, desde 2017, para compromissos de trabalho. Depois de presentear a mãe, Carmen Sánchez, 62, com um ingresso para o show de Rubby Pérez, famoso cantor de merengue dominicano, o músico viu a tão aguardada noite de segunda-feira (7/4) se transformar em tragédia. "Ninguém imagina que um teto vá desabar", afirmou ao Correio, por telefone. Assim que a estrutura da Jet Set veio abaixo, na madrugada de terça-feira, Carwin reagiu de forma instintiva. "Eu abracei a minha mãe, para protegê-la. Quando a olhei nos olhos, vi que estava bem. Ela me dizia que sim, e me perguntava o mesmo. Até então, não sabia o que estava se passando."
Ao tentarem sair do local, ele escutou uma mulher gritando e suplicando por ajuda. "Ela dizia: 'Por favor, me tire daqui, me ajude'. Eu não tive cabeça para isso. Também escutei vozes gritando, desesperadas, chorando. Na minha mente, passou de tudo", disse, entre suspiros. "Quando deixamos a discoteca, vimos mortos. Depois que eu tirei minha mãe, entrei novamente no prédio. Eu queria resgatar minha amiga, Yessica, mas era impossível. Ela acabou morrendo com a irmã, Patricia Acosta", acrescentou Carwin. Ele foi golpeado pelos escombros nas costas, na cabeça e no antebraço; Carmen sofreu cortes nas costas e na orelha.
No momento em que o teto caiu, Carmen filmava o show de Pérez e acabou por registrar a tragédia. Nas imagens, Carwin grita: "Olhe, mamãe, está caindo algo ali". "De onde estávamos, não consegui dimensionar o quão grande era o que estava caindo", contou o percussionista. Até o fechamento desta edição, as autoridades confirmaram 184 mortos.
Fim da operação
Rubby, 69 anos, que também morreu no desmoronamento, será sepultado nesta quinta-feira (10/4), depois do velório aberto ao público. As buscas foram encerradas à tarde, após a retirada de mais 20 corpos dos escombros. "Hoje concluímos os trabalhos de resgate, deixando limpo o ambiente", disse o general José Luis Frómeta Herasme, chefe do Corpo de Bombeiros do Distrito Nacional.
De acordo com a agência de notícias France-Presse, uma multidão se aglomerou, nesta quarta-feira, nas imediações da Jet Set, de hospitais e do necrotério, à espera de notícias ou da identificação de familiares. Os nomes das vítimas foram expostos sobre a lona de uma tenda próxima ao local para onde os corpos estão sendo levados. Entre 15 e 21 feridos internados em um dos hospitais têm o "prognóstico reservado". Uma mulher que vive a duas quadras da Jet Set e que costumava frequentar a casa durante as matinês de domingo, quando adolescente, contou que a estrutura do prédio era "muito antiga para suportar tanta carga". "Além disso, o som muito alto contribuiu para que a estrutura entrasse em colapso", acredita.
O papa Francisco enviou condolências aos familiares das vítimas. Em nota, o Vaticano informou que o pontífice "oferece sufrágios pelo eterno descanso dos mortos". "Sua Santidade estende suas sentidas condolências às famílias dos falecidos, juntamente com suas expressões de consolo, sincera preocupação e votos de uma rápida recuperação para os feridos, enquanto os encoraja a perseverar em seus esforços de ajuda."
EU ESTAVA LÁ
"Eu não via a minha mãe havia três anos. Decidi presenteá-la com um ingresso para o show do Rubby Pérez. O que seria uma noite feliz e inesquecível tornou-se triste e inesquecível. Estamos vivos por um milagre. Como se explica isso? Como estamos vivos?"
Carwin Javier, 32 anos, percussionista venezuelano, sobrevivente da tragédia na Jet Set
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