República Dominicana

"Escutei vozes desesperadas", conta sobrevivente de tragédia em boate

O músico venezuelano Carwin Javier e a mãe conseguiram escapar, com poucos ferimentos, depois do desmoronamento do teto da casa noturna Jet Set, em Santo Domingo. Ele perdeu a amiga na tragédia. Bombeiros encerram buscas; já são 184 mortos

Imagem aérea mostra equipes de resgate trabalhando nos escombros da Jet Set, em Santo Doming -  (crédito: Alfred Davies/AFP)
Imagem aérea mostra equipes de resgate trabalhando nos escombros da Jet Set, em Santo Doming - (crédito: Alfred Davies/AFP)

O percussionista venezuelano Carwin Javier, 32 anos, frequentava a casa noturna Jet Set, em Santo Domingo, desde 2017, para compromissos de trabalho. Depois de presentear a mãe, Carmen Sánchez, 62, com um ingresso para o show de Rubby Pérez, famoso cantor de merengue dominicano, o músico viu a tão aguardada noite de segunda-feira (7/4) se transformar em tragédia. "Ninguém imagina que um teto vá desabar", afirmou ao Correio, por telefone. Assim que a estrutura da Jet Set veio abaixo, na madrugada de terça-feira, Carwin reagiu de forma instintiva. "Eu abracei a minha mãe, para protegê-la. Quando a olhei nos olhos, vi que estava bem. Ela me dizia que sim, e me perguntava o mesmo. Até então, não sabia o que estava se passando."

Ao tentarem sair do local, ele escutou uma mulher gritando e suplicando por ajuda. "Ela dizia: 'Por favor, me tire daqui, me ajude'. Eu não tive cabeça para isso. Também escutei vozes gritando, desesperadas, chorando. Na minha mente, passou de tudo", disse, entre suspiros. "Quando deixamos a discoteca, vimos mortos. Depois que eu tirei minha mãe, entrei novamente no prédio. Eu queria resgatar minha amiga, Yessica, mas era impossível. Ela acabou morrendo com a irmã, Patricia Acosta", acrescentou Carwin. Ele foi golpeado pelos escombros nas costas, na cabeça e no antebraço; Carmen sofreu cortes nas costas e na orelha. 

No momento em que o teto caiu, Carmen filmava o show de Pérez e acabou por registrar a tragédia. Nas imagens, Carwin grita: "Olhe, mamãe, está caindo algo ali". "De onde estávamos, não consegui dimensionar o quão grande era o que estava caindo", contou o percussionista. Até o fechamento desta edição, as autoridades confirmaram 184 mortos.

Fim da operação

Rubby, 69 anos, que também morreu no desmoronamento, será sepultado nesta quinta-feira (10/4), depois do velório aberto ao público. As buscas foram encerradas à tarde, após a retirada de mais 20 corpos dos escombros. "Hoje concluímos os trabalhos de resgate, deixando limpo o ambiente", disse o general José Luis Frómeta Herasme, chefe do Corpo de Bombeiros do Distrito Nacional. 

De acordo com a agência de notícias France-Presse, uma multidão se aglomerou, nesta quarta-feira, nas imediações da Jet Set, de hospitais e do necrotério, à espera de notícias ou da identificação de familiares. Os nomes das vítimas foram expostos sobre a lona de uma tenda próxima ao local para onde os corpos estão sendo levados. Entre 15 e 21 feridos internados em um dos hospitais têm o "prognóstico reservado". Uma mulher que vive a duas quadras da Jet Set e que costumava frequentar a casa durante as matinês de domingo, quando adolescente, contou que a estrutura do prédio era "muito antiga para suportar tanta carga". "Além disso, o som muito alto contribuiu para que a estrutura entrasse em colapso", acredita. 

O papa Francisco enviou condolências aos familiares das vítimas. Em nota, o Vaticano informou que o pontífice "oferece sufrágios pelo eterno descanso dos mortos". "Sua Santidade estende suas sentidas condolências às famílias dos falecidos, juntamente com suas expressões de consolo, sincera preocupação e votos de uma rápida recuperação para os feridos, enquanto os encoraja a perseverar em seus esforços de ajuda."

EU ESTAVA LÁ

Carwin Javier, 32 anos, percusionista venezuelano, sobrevivente da tragédia na Jet Set
Carwin Javier, 32 anos, percusionista venezuelano, sobrevivente da tragédia na Jet Set (foto: Arquivo pessoal )

"Eu não via a minha mãe havia três anos. Decidi presenteá-la com um ingresso para o show do Rubby Pérez. O que seria uma noite feliz e inesquecível tornou-se triste e inesquecível. Estamos vivos por um milagre. Como se explica isso? Como estamos vivos?"

Carwin Javier, 32 anos, percussionista venezuelano, sobrevivente da tragédia na Jet Set

  • Carwin Javier, 32 anos, percusionista venezuelano, sobrevivente da tragédia na Jet Set
    Carwin Javier, 32 anos, percusionista venezuelano, sobrevivente da tragédia na Jet Set Foto: Arquivo pessoal
  • Aponte a câmera do celular para o QR Code e assista ao vídeo feito pela mãe de Carwin Javier, no momento do desabamento
    Aponte a câmera do celular para o QR Code e assista ao vídeo feito pela mãe de Carwin Javier, no momento do desabamento Foto: QR Code
postado em 10/04/2025 06:05
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