Oriente Médio

Trump define prazo para decidir entrada dos EUA na guerra no Oriente Médio

É o prazo estabelecido pelo norte-americano para decidir se os Estados Unidos vão atacar o Irã. A indicação dele ocorre no momento em que usinas atômicas iranianas são atingidas e um hospital israelense é bombardeado

 Uma enfermeira retira suplementos médicos do Soroka Hospital, após o prédio ser parcialmente destruído. Há informações de 40 feridos após o bombardeio -  (crédito:  AFP)
Uma enfermeira retira suplementos médicos do Soroka Hospital, após o prédio ser parcialmente destruído. Há informações de 40 feridos após o bombardeio - (crédito: AFP)

Em duas semanas, o governo dos Estados Unidos decidirá sobre atacar diretamente o Irã. O prazo foi dado ontem pelo presidente Donald Trump que, por intermédio da secretária de imprensa, Karoline Leavitt, que transmitiu a mensagem. O anúncio ocorreu no mesmo dia em que os iranianos bombardearam o Hospital de Soroka, um dos mais importantes de Israel, e que o exército israelense informou ter atingido uma instalação nuclear iraniana em Natanz e Visfahan, além de um "reator nuclear inativo" em Arak, em território iraniano.

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Reproduzindo o recado de Trump, a secretária Leavitt afirmou que: "Com base no fato de que há uma chance substancial de negociações que podem ou não ocorrer com o Irã em um futuro próximo, tomarei minha decisão se irei ou não nas próximas duas semanas". Segundo ela, Irã e Estados Unidos seguem em negociações. Apenas os Estados Unidos dispõem da bomba GBU-57, capaz de alta capacidade de destruição.

Para a Casa Branca, os iranianos têm capacidade de fabricar armamento nuclear em "15 dias", caso o líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei autorize. No sétimo dia do conflito, a reação de Trump ocorre no momento de elevação de temperatura entre iranianos e israelenses. Após os ataques de Tel Aviv a três bases nucleares do Irã, que reagiu ao bombardear o hospital, deixando 40 feridos, segundo o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Hospital

Em Beerseba, o bombardeio ao Hospital Soroka, um dos mais importantes de Israel para o tratamento oncológico, surpreendeu os israelenses. O ataque ocorreu por volta das 7h da manhã. O impacto do míssil estourou as janelas, derrubou os tetos e deixou cerca de 40 feridos, segundo os dados oficiais. "É muito triste, nunca pensei que algo assim pudesse acontecer. Nunca (...) Aqui só há profissionais da saúde e pacientes", afirmou à AFP Wasim Hin, oftalmologista do hospital.

O diretor do hospital e outros funcionários relataram que se salvaram porque o edifício atingido havia sido evacuado nos últimos dias. "É um milagre, o prédio havia acabado de ser evacuado", disse Kevin Azoulay, que trabalha nos serviços de manutenção. O diretor do hospital, Shlomi Codish, confirmou que o prédio "estava vazio". Segundo ele, desde o início da guerra, em 13 de junho, entre Irã e Israel, todos os serviços que estavam em um dos edifícios expostos foram deslocados.

O hospital Soroka tem mais de 1.000 leitos e atende a uma grande parte da população do sul de Israel, cerca de 1 milhão de pessoas. "É um caos organizado", afirmou Dan Schwarzfuchs, chefe da emergência e subdiretor do hospital, no meio da evacuação dos pacientes. "Cada paciente tem uma pessoa designada que o informa sobre o que vai acontecer", explicou. Segundo o diretor, os pacientes mais vulneráveis não puderam ser evacuados, como idosos, pessoas com câncer e aqueles que precisam de atendimento urgente. "É muito chocante que um centro médico tenha sido alvo de um ataque", acrescentou.

Instalações nucleares

O Exército israelense anunciou nesta quinta-feira que atingiu uma instalação nuclear iraniana em Natanz, além de um "reator nuclear inativo" em Arak, durante operações na madrugada. A Força Aérea "bombardeou uma instalação de desenvolvimento de armas nucleares na área de Natanz", informou o Exército. De acordo com a AFP, um reator nuclear inativo na área de Arak também foi atacado, "incluindo a estrutura central do reator, uma parte essencial para a produção de plutônio".

Para os iranianos, houve uma "traição" por parte da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) porque o chefe da instituição, o argentino Rafael Grossi, acusou o Irã de enriquecimento de urânio. "O Irã talvez seja atualmente o único país que enriquece urânio em níveis próximos aos militares(...) não é possível afirmar que esteja tentando fabricar uma bomba atômica", afirmou ele ao canal France 24. "Vocês traíram o regime de não proliferação, fizeram da AIEA uma aliada nesta guerra injusta de agressão", escreveu o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmaeil Baqaei, na rede X.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, reiterou anteontem que "nunca vai se render" a Israel. "A nação iraniana se opõe firmemente a uma guerra imposta, assim como se oporá firmemente a uma paz imposta. Esta nação nunca vai se render às imposições de ninguém", afirmou Khamenei, em discurso transmitido pelas emissoras de TV. "Os norte-americanos devem saber que qualquer intervenção militar de sua parte resultará em danos irreparáveis." Na quarta-feira, Trump sugeriu a rendição dos iranianos ao deixar aberta a possibilidade de Washington participar do conflito. "Talvez eu faça, talvez não", disse Trump em tom enigmático. Ontem, ele pediu a "rendição incondicional" do Irã.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, alertou sobre as "enormes consequências" para o Oriente Médio de "qualquer intervenção militar adicional" no conflito. Já o presidente russo, Vladimir Putin, que está em guerra com a Ucrânia, colocou-se à disposição para mediar o conflito. Ele negou que o Irã tenha pedido ajuda militar à Rússia. Porém, Trump descartou a possibilidade de mediação de Putin e recomendou ao líder russo priorizar o fim do conflito na Ucrânia. "Vladimir, vamos mediar com a Rússia primeiro, você pode se preocupar com isso [a guerra no Oriente Médio] depois", disse.

Estratégia

Tanto Israel quanto Irã utilizam fontes oficiais para confirmar ataques e bombardeios. A Aiea, por exemplo, informou que os israelenses destruíram dois prédios onde eram fabricadas peças para as centrífugas do programa nuclear iraniano em Karaj, perto de Teerã. Também foi atingido um prédio do Centro de Pesquisas de Teerã, onde "eram fabricados e testados rotores para as centrífugas avançadas", informou a instituição no X.

A emissora Irna, estatal iraniana, por sua vez, informou que Teerã lançou mísseis hipersônicos contra Israel, os quais "penetraram com sucesso as defesas do regime".


 

 

Números

Tempo dos conflitos: 8 dias

Prazo dos EUA: 15 dias

Perdas do Irã: 224 mortos

Perdas de Israel: 24 mortos

EUA retiram aviões das bases

O governo dos Estados Unidos retirou dezenas de aviões militares da pista da base norte-americana de de Al Udeid, no Catar, no Oriente Médio, segundo imagens de satélite. A decisão apontaria para a proteção dessas aeronaves contra ataques iranianos no momento em que o presidente Donald Trump avalia a opção de intervir militarmente na guerra - entre israelenses e iranianos.

De 5 e 19 de junho, essa base que é uma das mais importantes no Oriente Médio ficou praticamente vazia de aeronaves visíveis, segundo imagens da Planet Labs PBC analisadas pela AFP. Havia no local pelo menos 40 aviões militares, de grande porte e destinados a transporte de equipamentos e tropas, além de aeronaves de reconhecimento e operações especiais C130 Hércules. Já na imagem ontem, era possível ver três aviões de transporte.

A iniciativa dos Estados Unidos é emergencial, considerando a proximidade do Catar em relação ao Irã, apenas 300 quilômetros separam a base de Al Udeid, as aeronaves, as tropas e as instalações. "(Permanecer ali) seria extremamente vulnerável", confirmou Mark Schwartz, general americano reformado que serviu no Oriente Médio e atualmente atua como especialista no centro de estudos Rand Corporation. "Devemos reduzir os riscos para as forças norte-americanas", disse.

Netanyahu se coloca como libertador

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apresenta-se como o libertador do Oriente Médio do que considera um perigo que é o Irã. Ele reiterou que, numa guerra, há data de início, mas não se sabe quando termina. "Estamos mudando a face do Oriente Médio, e agora digo que estamos mudando a face do mundo", declarou Netanyahu à emissora pública Kan. "Estamos caminhando para uma vitória enorme", acrescentou. "(Israel) é capaz de golpear todas as instalações nucleares do Irã", mas "toda ajuda é bem-vinda" para destruí-las.

Netayahu fez essa avaliação após visitar o hospital Soroka, bombardeado na manhã de ontem pelos iranianos, destruindo boa parte do prédio. Os efeitos não foram mais graves porque no início dos conflitos, as autoridades evacuaram o edifício. Questionado sobre quanto tempo duraria a guerra, o primeiro-ministro evitou responder.

"Estamos lutando, não vou dar nosso calendário, não vou dizer-lhes [aos iranianos] o que estamos preparando", afirmou Netanyahu. "Quando você entra em guerra, sabe quando ela começa, mas não quando termina", disse, antes de acrescentar: "vamos à frente do calendário que nos fixamos, tanto em tempo quanto em resultados, e o trabalho que temos feito é realmente excepcional."

Para o primeiro-ministro, essa guerra é "histórica". "(David Ben Gurion, fundador de Israel em 1948), tomou a decisão de criar o Estado e eu tomei a decisão de assegurar sua existência", afirmou. "(Não permitirei que) 3.500 anos de história judaica cheguem ao fim por culpa deste aiatolá louco", em referência ao líder supremo iraniano, Ali Khamenei.

  •  Edifício onde estava a sede da Radiodifusão da República Islâmica do Irã (IRIB), bombardeada ontem, assim como bases nucleares em três cidades iranianas
    Edifício onde estava a sede da Radiodifusão da República Islâmica do Irã (IRIB), bombardeada ontem, assim como bases nucleares em três cidades iranianas Foto: AFP
  •  Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu visits the Soroka Hospital in the southern city of Beersheba, after it was hit by a missile fired from Iran on June 19, 2025. Israel's defence minister warned that Iran's supreme leader
    Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu visits the Soroka Hospital in the southern city of Beersheba, after it was hit by a missile fired from Iran on June 19, 2025. Israel's defence minister warned that Iran's supreme leader "can no longer be allowed to exist" after a hospital was hit in an Iranian missile strike on June 19, spiking tensions in the week-old war. (Photo by Marc Israel SELLEM / POOL / AFP) Caption Foto: AFP
postado em 20/06/2025 04:30 / atualizado em 20/06/2025 06:44
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