
A intensificação do conflito entre Israel e Irã está longe de significar uma trégua para os palestinos na Faixa de Gaza. A ofensiva permanece em alta no enclave. Ontem, a Defesa Civil de Gaza informou que ataques das forças israelenses deixaram 76 pessoas mortas, 21 delas enquanto buscavam ajuda humanitária no território palestino, devastado após mais de 20 meses de guerra.
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Porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Basal informou à agência de notícias France Presse (AFP) que 10 pessoas morreram perto de Khan Yunis, no sul, seis das quais esperavam por ajuda. Outras 15 mortes ocorreram no corredor de Netzarim, no centro do território palestinos, onde milhares de pessoas se aglomeram todos os dias na expectativa de receber alimentos.
Segundo Basal, outras 51 pessoas morreram em nove ataques israelenses na Cidade de Gaza e no norte do território palestino, governado pelo movimento palestino Hamas. Em razão das limitações à atuação da imprensa no enclave, a AFP não pode verificar os balanços. Autoridades israelenses informaram que estava "examinando" os números.
Especificamente sobre o ocorrido em Netzarim, o Exército israelense comunicou à AFP que seus soldados efetuaram "disparos de advertência" contra "suspeitos" que se aproximaram deles, mas que não havia "nenhum registro de feridos".
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Bloqueio
No início de março, o governo de Benjamin Netanyahu impôs um bloqueio humanitário ao enclave palestino, causando grave escassez de comida, medicamentos e outros itens essenciais.
A Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), organização apoiada pelos Estados Unidos e por Israel, começou a distribuir ajuda no fim de maio, mas as entregas têm sido marcadas por cenas caóticas e tiroteios nos arredores do centro, onde multidões se reúnem para aguardar as entregas.
Em menos de um mês, desde que a GHF iniciou os trabalhos, 397 pessoas foram mortas e mais de 3 mil ficaram feridas ao tentar chegar aos pontos de distribuição de ajuda em Gaza, conforme os últimos dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, cujos números são considerados confiáveis pela ONU.
Basam Abu Shaar, um palestino deslocado, disse à AFP que milhares de pessoas se reuniram na madrugada de ontem na esperança de coletar alimentos antes da abertura do local administrado pela GHF. "Por volta da 1h, começaram a atirar em nós. Os disparos de tanques, aviões e bombas lançadas por drones se intensificaram", disse à AFP por telefone.
Ele relatou que viu mortos e feridos caídos no chão a poucos passos do centro da GHF. "Não conseguimos ajudá-los, nem mesmo fugir", acrescentou Abu Shaar, assinalando que ficou bloqueado em meio à multidão.
As vítimas foram levadas para os hospitais Al Awda e Al Aqsa, no norte e centro do território, de acordo com Mohamad al Mughayyir, outro funcionário da Defesa Civil.
Crise alimentar
A Organização das Nações Unidas (ONU) vem alertando sistematicamente para a crise alimentar no local. O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) voltou a advertir, na segunda-feira, "para o risco de fome em Gaza, em meio ao nível catastrófico de insegurança alimentar".
No mesmo dia, A ONU anunciou que reduzirá drasticamente seus programas de ajuda neste ano, após "os piores cortes financeiros" já sofridos pelo setor humanitário, em grande parte devido à decisão dos Estados Unidos de reduzir suas doações ao mínimo. O novo plano de ajuda tem um orçamento de US$ 29 bilhões (R$ 161 bilhões), bem abaixo dos US$ 44 bilhões (R$ 244 bilhões) solicitados pela ONU para 2025.
Como resultado, a ONU terá que "hiperpriorizar" seus projetos para ajudar 114 milhões de pessoas em todo o mundo, indicou um comunicado do Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). O plano inicial era ajudar "180 milhões de pessoas vulneráveis".
A guerra em Gaza eclodiu em outubro de 2023, depois que um ataque do Hamas ao território israelense deixou 1.219 mortos, de acordo com dados oficiais israelenses. Mais de 55.600 pessoas morreram no território palestino desde que Israel lançou sua ofensiva de retaliação, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza.
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