ENTREVISTA EXCLUSIVA

"Apenas fiz meu melhor por ela", diz ao Correio guia que tentou salvar Juliana Marins

Em entrevista exclusiva ao Correio, o guia indonésio Abdul Haris Agam conta como realizou o resgate

O guia de montanha indonésio Abdul Haris Agam realizou um trabalho voluntário para resgatar Juliana Marins e pediu perdão por não tê-la alcançado com vida  -  (crédito: Reprodução/Redes sociais)
O guia de montanha indonésio Abdul Haris Agam realizou um trabalho voluntário para resgatar Juliana Marins e pediu perdão por não tê-la alcançado com vida - (crédito: Reprodução/Redes sociais)
Aos 36 anos, o guia de montanha indonésio Abdul Haris Agam tornou-se herói para milhões de brasileiros. Foi ele quem tentou resgatar Juliana Marins, 26, da encosta do Vulcão Rinjani. Também foi quem pernoitou no despenhadeiro, ao lado do corpo, para evitar que ele caísse, e quem o retirou da montanha. Até esta sexta-feira, Agam acumulava nada menos do que 1,4 milhão de seguidores em seu perfil no Instagram.
Uma campanha online em favor de Agam tinha arrecadado R$ 465 mil junto a 26 mil pessoas. Em entrevista exclusiva ao Correio, em indonésio, Agam falou sobre o resgate e a retirada do corpo e recusou o título de herói. "Sinto-me culpado e peço desculpas à família de Juliana por não ter sido capaz de devolvê-la para casa em segurança", disse o guia, que mora em Sembalun, vila situada na encosta nordeste do Rinjani.

Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular

O que fez com que você tentasse salvar a Juliana? 
Eu me senti chamado a resgatá-la, pois sabia que conseguiria fazer isso. Para mim, era uma questão de humanidade. 
Você acreditava que seria possível encontrá-la viva? 
Sinto-me culpado e peço desculpas à família de Juliana por não ter sido capaz de devolvê-la para casa em segurança.
Quando chegou até Juliana, qual era a situação? 
Quando chegamos ao local, ela estava morta. As condições para alcançar a área em que ela caiu são muito difíceis. O terreno é íngreme, e o local, distante da trilha — cerca de 590m. Ao ver a condição do percurso que fez ao cair do vulcão,  creio ser difícil avaliar se ela sobreviveria. Há muitas rochas pelo caminho, e a queda foi grande. 
Como você decidiu passar a noite ao lado do corpo dela na montanha?
Tomei essa decisão porque, quando chegamos até ela, era noite, o que tornava impossível remover o corpo na escuridão. Durante o dia já seria muito perigoso.... Dormi a cerca de 3 metros de Juliana, pendurado na beira do penhasco. Eu e três companheiros aguardamos o dia amanhecer para a retirada do corpo. Nós dormimos junto ao corpo da Juliana. Fizemos uma amarração de cordas em um rocha para que não caíssemos no despenhadeiro. Se tivesse chovido naquela noite, provavelmente teríamos morrido.  
Você recebeu algum tipo de assistência financeira para ir até o vulcão e tentar salvar a brasileira?
Eu usei o meu próprio dinheiro. Eu e meus companheiros somos voluntários, não remunerados. Mas o povo brasileiro é muito gentil e tem minha estima. Os brasileiros passaram a contribuir comigo com dinheiro. Recebi transferências pelo PayPal e também estão reunindo dinheiro para me dar.  
O que pretende fazer com o valor arrecadado?
Eu quero comprar equipamentos para tornar mais fáceis as operações de salvamento. Também pretendo investir no treinamento de busca e salvamento nas montanhas da Indonésia, em particular no Monte Rinjani.
Quais os momentos mais difíceis do resgate? Você temeu também cair no despenhadeiro?
Sim, em várias ocasiões. O mais difícil foi quando bati contra as rochas. Também havia deslizamentos de pedras por todas as partes. 
Os brasileiros  o chamam de "herói". Que acha disso?
Obrigado aos brasileiros. Apenas fiz o meu melhor por Juliana. Mas era difícil trazê-la viva para casa.  
postado em 27/06/2025 10:23
x