
Grupos criminosos controlam 90% de Porto Príncipe, capital do Haiti, onde a presença do Estado está cada vez mais ameaçada de um "colapso total", advertiram representantes do alto escalão da Organização das Nações Unidas (ONU). A insegurança e a onda de violência forçaram cerca de 1,3 milhão de haitianos a fugirem de suas casas e a viverem em acampamentos improvisados espalhados pela cidade. A ação das gangues tem aumentado desde que uma ação coordenada por grupos criminosos causou, em 2024, a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry, que foi substituído por um conselho de transição frágil — o qual tem a missão de organizar eleições até fevereiro 2026.
"Testemunhamos uma erosão profunda da autoridade do Estado e do império da lei. A violência brutal dos grupos criminosos afeta todos os aspectos das vidas pública e privada", disse Miroslav Jenca, subsecretário-geral da ONU para a Europa, Ásia Central e as Américas, perante o Conselho de Segurança.
Apesar de "seus melhores esforços", a polícia e a Missão Multinacional de Segurança (MMAS), liderada pelo Quênia, "foram incapazes de avançar na restauração da autoridade do Estado". "Sem uma ação maior da comunidade internacional, o colapso total da presença do Estado na capital poderia vir a ser um cenário muito real", acrescentou Jenca.
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Os grupos armados controlam agora 90% de Porto Príncipe, e "continuam se expandindo por rotas estratégicas e regiões fronteiriças", apontou a diretora do Escritório das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime (UNODC), Ghada Waly. No relatório anterior, essas facções controlavam 85% da capital. Mas, com a diminuição rápida da capacidade do Estado de governar, as gangues ocupam esse vazio.
"Elas criam estruturas de governança paralelas e prestam serviços públicos rudimentares", apontou Ghada. "Inclusive, são mais perturbadoras as novas denúncias de tráfico de pessoas para a extração de órgãos", acrescentou a funcionária, que citou relatos obtidos de um centro médico em Petion-Ville e de um hospital do norte do Haiti.
Jenca pediu uma ação da comunidade internacional. "As opções que temos agora são consideravelmente menos caras e complexas do que se houver um colapso total da presença do Estado", disse, referindo-se à proposta do secretário-geral da ONU, António Guterres, de criar uma missão para fornecer apoio logístico às forças lideradas pelo Quênia.
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