
Uma das frases pronunciadas por Vladimir Putin e incorporadas ao imaginário popular russo afirma que "um homem não é julgado por quantas vezes ele cai, mas por quantas vezes se levanta". Ao decidir pela invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, o presidente da Rússia apostava em uma campanha militar rápida para anexar territórios. Depois de 862 dias e de 52.700 soldados russos mortos em combate, segundo estimativas da emissora BBC Russia, Putin não parece disposto a ceder e retirar suas tropas da ex-república soviética.
Em conversa telefônica de uma hora com o colega americano Donald Trump, o líder do Kremlin disse que Moscou "continua buscando uma solução política e negociada para o conflito". No entanto, descartou abrir mão de suas metas no conflito. No fim da tarde desta quinta-feira (3/7), Trump assumiu que "não fez nenhum progresso" sobre a Ucrânia durante a ligação telefônica com Putin.
"Nosso presidente declarou que a Rússia continuará com seus objetivos, que são a eliminação das causas profundas bem conhecidas que levaram à situação atual", declarou Yuri Ushakov, assessor diplomático de Putin. "A Rússia não vai renunciar a esses objetivos." O governo Putin exige da Ucrânia a cessão de Kherson, Zaporizhzhia, Luhansk e Donetsk, as quatro regiões parcialmente ocupadas pelas forças russas, além da Península da Crimeia, anexada em 2014.
O Kremlin também ordena que a Ucrânia desista dos planos de tornar-se membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A conversa entre Trump e Putin ocorre dois dias depois de os Estados Unidos anunciarem a suspensão de envios de armamentos à Ucrânia, incluindo mísseis de defesa antiaérea.
Em viagem à Dinamarca, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, cobrou dos EUA a adoção de mais sanções contra Moscou. No entanto, desde a ascensão de Trump ao poder, Washington aliviou algumas das medidas retaliatórias e permitiu aos russos voltarem a acessar fundos e produtos restritos. Zelensky também colocou em xeque a continuidade do apoio dos EUA e instou os países da União Europeia a "fortalecer nossa cooperação e coordenação dentro do bloco e da Otan".
Pouco antes de atender à reportagem, Olexiy Haran — professor de política comparada da Universidade de Kyiv-Mohyla — teve acesso a um memorando sugerido pela Rússia nas negociações de paz em Istambul. "São três páginas malucas, porque o documento pretende transformar a Ucrânia em uma espécie de Estado-marionete, totalmente controlada pela Rússia. Putin ainda acredita que pode conseguir isso. Todas as discussões sobre negociações não passam de um blefe do Kremlin", afirmou ao Correio, por telefone. "Não haverá solução para o conflito na Ucrânia se não houver uma pressão sobre Putin. Se Trump rejeitar essa pressão, Putin continuará a fazer o que tem feito: bombardear o meu país em diferentes regiões, o que significará mais sangue. O presidente americano será responsável por isso, talvez, ele não entenda", advertiu o ucraniano. Haran espera que Trump adote uma postura realista e não acredite nas palavras de Putin.
Dependência
Maskym Yakovlyev, chefe do Departamento de Relações Internacionais e diretor da Faculdade de Análise Política da Universidade de Kyiv-Mohyla (em Kiev), explicou ao Correio que a Ucrânia mantém uma dependência militar dos EUA, especialmente no que diz respeito ao sistema de defesa antiaérea. "Essa notícia veio como uma surpresa decepcionante, porque assinamos acordos sobre minerais com os EUA, e nossos diplomatas têm colocado muitos esforços na melhoria das relações com Trump e com os republicanos. A Rússia intensificou sua campanha de terror contra a Ucrânia, com drones e mísseis atingindo a infraestrutura civil. Nós precisamos daquele apoio", admitiu, por meio do WhatsApp.
Analista da Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv (em Kiev), Petro Burkovsky disse crer que, do ponto de vista de Trump, a conversa telefônica com Putin carece de importância. "As autoridades americanas tentaram confirmar a posição da Rússia e viram que não houve mudanças. Moscou segue inflexível e adota uma postura desafiadora em relação à pressão americana", observou. "É possível que o próximo passo inclua um aumento de pressão dos EUA sobre a Rússia."
Moscou reconhece oficialmente governo do Talibã
A Rússia reconheceu oficialmente o emirado islâmico estabelecido pelos talibãs no Afeganistão, continuando, assim, sua aproximação diplomática com Cabul. Reconhecido", confirmou o representante especial do presidente russo para o Afeganistão, Zamir Kabulov, à agência estatal RIA Novosti. De acordo com a agência Tass, a bandeira afegã criada pelos talibãs foi içada pela primeira vez, ontem, na Embaixada do Afeganistão em Moscou. O Ministério das Relações Exteriores russo anunciou ter recebido as credenciais do novo embaixador afegão na Rússia, Gul Hassan Hassan. O ministro afegão das Relações Exteriores saudou o que chamou de uma decisão "corajosa". "Esta decisão corajosa será um exemplo para outros (...) Agora que começou o processo de reconhecimento, a Rússia esteve à frente de todos", disse Amir Khan Muttaqi em vídeo publicado no X.
Netanyahu visita kibbutz atacado e promete resgatar reféns
Reféns libertados pelo grupo terrorista islâmico Hamas recusaram-se a apertar as mãos de Benjamin Netanyahu. Do lado de fora do kibbutz de Nir Oz, no sul de Israel, a 1.600m da fronteira com a Faixa de Gaza, familiares de sequestrados em 7 de outubro de 2023 protestaram contra a visita do primeiro-ministro e o exortaram a assumir responsabilidade pelo massacre. Dos 420 habitantes de Nir Oz antes do atentado, 40 foram mortos e 77, sequestrados e levados para Gaza. Nove deles permanecem no cativeiro, depois de 636 dias. Segundo o jornal The Times of Israel, assim que o comboio de Netanyahu atravessou o portão e entrou em Nir Oz, os manifestantes gritaram palavras, como "corrupto" e "assassino".
"Aqui, você sente, no fundo da alma, a magnitude da dor, a profundidade da tristeza, o trauma que golpeou uma comunidade inteira — e ainda a golpeia", declarou Netanyahu, ao lado da mulher, Sara. "Sinto um profundo compromisso, antes de tudo, de garantir o retorno de todos os nossos reféns, todos eles. Vinte vidas ainda estão sendo mantidas, e ainda há mortos. Traremos todos de volta", prometeu.
A visita de Netanyahu a Nir Oz coincide com a intensificação dos bombardeios israelenses à Faixa de Gaza e com a perspectiva de acordo de cessar-fogo. O Hamas afirmou que analisa as propostas de trégua encaminhadas por mediadores, após os EUA terem dito que Israel apoia uma pausa de 60 dias nos combates. O grupo terrorista anunciou que fazia "consultas nacionais para discutir as propostas" dos mediadores. O objetivo é "alcançar um acordo que garanta o fim da agressão, a retirada (de Israel) e a ajuda urgente ao nosso povo", acrescentou o Hamas.
Oportunidade
Sem mencionar Donald Trump diretamente, o ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Saar, pediu que se aproveitasse a oportunidade para libertar os reféns mantidos na Faixa de Gaza. Dos 251 civis e militares sequestrados por combatentes palestinos em 7 de outubro de 2023, 49 permanecem em cativeiro. Destes, acredita-se que 27 tenham morrido, segundo o Exército israelense.
A Defesa Civil de Gaza informou que vários ataques das forças israelenses mataram 69 pessoas, ontem, entre elas 15 em um bombardeio contra uma escola que abrigava deslocados. O organismo disse à agência France-Presse que houve 15 mortos — "a maioria deles crianças e mulheres" — e inúmeros feridos em um ataque aéreo contra a escola Mustafa Hafez, que abriga pessoas deslocadas, no bairro Al-Rimal, no oeste da Cidade de Gaza.
Outro incidente no centro de Gaza matou 38 palestinos, segundo o porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Basal. Ele relatou que as pessoas buscavam ajuda humanitária quando foram atacadas por disparos israelenses.
Bombardeios de artilharia na cidade de Beit Lahia, no norte, mataram três pessoas. Um ataque em Jabaliya, também na região norte do território palestino, causou uma morte. Mais ao sul, três pessoas morreram em bombardeios contra tendas que abrigavam deslocados na região de Al-Mawasi.