
Um erro. Foi a desculpa que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deu a Donald Trump, ao tentar justificar o ataque à Igreja da Sagrada Família. O presidente dos Estados Unidos telefonou ao aliado para cobrar explicações sobre o incidente e, segundo a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, a reação de Trump não foi positiva. O único templo católico da Faixa de Gaza foi alvo de disparos de um tanque israelense, na manhã desta quinta-feira (17/7). Pelo menos três fiéis morreram e nove pessoas ficaram feridas, entre elas o pároco argentino Gabriel Romanelli, com quem o falecido papa Francisco costumava falar à noite, desde o início da guerra, em outubro de 2023.
- Quem são os drusos e por que Israel diz que "não vai tolerar qualquer ameaça" a eles na Síria
- Incêndio em shopping deixa mais de 60 mortos no Iraque
O religioso sofreu uma lesão na perna direita e recebeu os primeiros socorros no Hospital Al Ahli, na Cidade de Gaza. Dois dos mortos são um homem de 60 anos, zelador do templo, e uma idosa de 84 anos que recebia apoio psicossocial em tenda da Cáritas instalada no complexo da igreja. Um ferido lutava pela vida no hospital.
No início da noite desta quinta-feira, o gabinete de Netanyahu divulgou comunicado no qual trata o ataque como "disparo acidental". "Israel lamenta profundamente que um disparo acidental tenha atingido a igreja da Sagrada Família em Gaza. Cada vida inocente perdida é uma tragédia. Compartilhamos a dor das famílias e dos fiéis", afirmou a nota. O papa Leão XIV se disse "profundamente entristecido ao tomar conhecimento sobre a perda de vidas e ferimentos causados pelo ataque militar na igreja da Sagrada Família, em Gaza".
"Asseguro à comunidade paroquial a minha proximidade espiritual. Confio as almas dos falecidos à amorosa misericórdia de Deus Todo-Poderoso e rezo por suas famílias e pelos feridos. Renovo meu apelo por um cessar-fogo imediato", escreveu o pontífice. "Apenas o diálogo e a reconciliação podem garantir uma paz duradoura", reforçou Leão XIV.
Dignidade
O Patriarcado Latino de Jerusalém sublinhou que "atacar um lugar sagrado que abriga cerca de 600 pessoas deslocadas, na sua maioria crianças, é uma violação flagrante da dignidade humana (...) e do caráter sagrado dos lugares religiosos, que devem proporcionar um refúgio seguro em tempos de guerra". O cardeal Pierbattista Pizzaballa, um dos principais candidatos durante o conclave deste ano, explicou ao site Vatican News que lhe informaram ter sido um "erro" de um tanque. "Não sabemos. Atingiu a igreja, a própria igreja", disse.
O Comitê Superior Presidente para Assuntos de Igrejas na Palestina denunciou uma "ameaça existencial à presença cristã na Terra Santa" e a "violação da santidade nos locais de adoração". "Nesta manhã, a Igreja Latina da Sagrada Família, em Gaza, foi submetida a um ataque israelense direto. (...) Esse ato hediondo ocorreu em meio a um cerco em andamento e a uma ofensiva militar em Gaza, onde locais sagrados têm se tornado alvos da guerra. A profanação de lugares santos cristãos e muçulmanos tornou-se rotineira", afirmou o comunicado. "O que está se desenrolando não é algo aleatório. É uma campanha deliberada e sistemática, mirando igrejas, clero e todas as comunidades cristãs na Palestina. A mensagem que ela carrega é inconfundível: 'Não há lugar para vocês aqui'."
Os governos de Itália, França e Argentina divulgaram notas em que condenam o ataque, culpam Israel, expressam "séria preocupação" e qualificam o incidente de "inaceitável". O ministro das Relações Exteriores italiano, Antonio Tajani, telefonou para o chanceler israelense, Gideon Saar, e pediu-lhe "esclarecimentos".
Ibrahim Alzeben — embaixador da Palestina no Brasil — condenou com veemência o bombardeio. "É mais uma violação, repetida e flagrante, à santidade dos locais religiosos, sejam eles cristãos ou muçulmanos. Nem mesmo os lugares de culto escapam da máquina de guerra genocida, refletindo o total desprezo pelo direito internacional e pela dignidade humana", afirmou ao Correio. "Até quando continuará o derramamento de sangue? Até quando inocentes serão deixados à mercê da morte?"
No Instagram, Gabriel Romanelli pediu orações a um dos fiéis feridos. "Orem conosco pela recuperação de Suhail Shadi Abu Dawod e dos demais feridos dentro da igreja da Sagrada Família, em Gaza", escreveu. Na página de Dawod, o jovem católico escreveu no perfil: "Jesus em primeiro lugar; tenho 19 anos e quero ser um religioso". Não havia informações sobre a condição de saúde dele.
EU ACHO...
"O mundo e suas instituições responsáveis pela paz e pela segurança precisam provar sua civilização com ações concretas. É urgente colocar fim à matança e à destruição na Palestina promovidas por aventureiros sem consciência, sem compaixão e sem o menor respeito pelos princípios básicos do direito."
Ibrahim Alzeben, embaixador da Palestina no Brasil
Brasil
Política
Cidades DF