
No mesmo dia em que a perspectiva de cessar-fogo na Faixa de Gaza sofreu um golpe, com a retirada dos negociadores americanos do Catar, o presidente Emmanuel Macron anunciou que a França reconhecerá o Estado palestinoemsetembro. Em carta enviada ao colega palestino Mahmud Abbas, Macron defendeu a urgente implementação da "única solução viável para cumprir com as legítimas aspirações do povo palestino, e pôr fim a todas as formas de terrorismo e de violência". "Tenho a honra de confirmar que, à luz de nossos compromissos, a França reconhecerá totalmente a Palestina como um Estado, quando eu for à Assembleia Geral da ONU, em setembro", escreveu o francês.
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O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse "condenar fortemente" e decisão de Macron de reconhecer o Estado palestino às vésperas do segundo aniversário do massacre de 7 de outubro. "Um Estado palestino nessas condições seria uma plataforma de lançamento para aniquilar Israel — não para viver em paz ao lado dele. Sejamos claros: os palestinos não buscam um Estado lado a lado com Israel; eles buscam um estado ao invés de Israel", declarou.
Steve Witkoff, enviado dos Estados Unidos para o Oriente Médio, decidiu interromper o diálogo ao acusar o movimento islamita Hamas de falta de vontade em chegar a um acordo. "Embora os mediadores tenham feito um grande esforço, o Hamas não parece estar coordenado ou agindo de boa-fé", afirmou Witkoff. O Correio apurou que Basem Naim, chefe do Departamento Político do Hamas, e os representantes de outras facções palestinas foram surpreendidos pela mudança de posição de Israel e dos EUA, ao decidirem abandonar o diálogo.
Também nesta quinta-feira (24/7), a Organização das Nações Unidas (ONU) comparou os moradores da Faixa de Gaza a "cadáveres ambulantes", em meio à fome, que se alastra pelo território ocupado palestino:113 pessoas morreram de inanição, em 656 dias de guerra — 48 delas apenas neste mês; e uma a cada cinco crianças sofre de desnutrição. "As pessoas em Gaza não estão vivas nem mortas, são cadáveres ambulantes", advertiu a ONU. Em depoimento ao Correio, Khaled Abu Odeh, 20 anos, estudante de design gráfico, disse que faz uma refeição diária baseada em lentilhas. "Estamos em uma situação muito difícil. Somos oito pessoas em minha família e não temos dinheiro para comprar comida. Vivemos em uma tenda feita de tecido, em Beit Hanoun. Eu não quero morrer de fome", desabafou.
Os negociadores de Israel e doHamas estavam há duas semanas mantendo conversas indiretas. A proposta atual de cessar-fogo contemplava a libertação de dez reféns israelenses vivos, emtroca de um número indeterminado de prisioneiros palestinos em Israel. "Se o Hamas interpreta nossa vontade de alcançar um acordo como uma fraqueza, como uma oportunidade para ditar condições de rendição que possam colocar o Estado de Israel em perigo, eles estão muito enganados", avisou Netanyahu. O premiê esclareceu que os representantes israelenses foram chamados de volta para "consultas".
"Bloqueios deliberados"
Ibrahim Alzeben, embaixador palestino no Brasil, afirmou ao Correio que Israel impõe fome à população civil de Gaza de forma sistemática. "Crianças e famílias estão morrendo não por falta de recursos, mas por bloqueios deliberados que impedem a entrada de alimentos e de medicamentos", denunciou. "Trata-se de uma violação clara do direito internacional e de um crime de guerra que precisa ser enfrentado pela comunidade internacional com firmeza e urgência." O diplomata destacou que o governo da Autoridade Palestina exige a abertura imediata e permanente de corredores humanitários. "Além disso, todos os responsáveis por esse genocídio têm que ser evidenciados e levados à Justiça imediatamente. Gaza não pode continuar sendo massacrada e enterrada viva. Romper o silêncio é um dever moral", acrescentou Alzeben.
QUATRO PERGUNTAS PARA...
RIYAD MANSOUR, embaixador da Palestina na Organização das Nações Unidas (ONU)
Como o senhor vê o alerta das mais de 100 ONGs sobre a fome em massa em Gaza?
É algo muito alarmante e que dece ser levado a sério por todas as nações, pela ONU, pelas organizações de sociedade civil. Todas têm que agir de acordo para deter esse crime contra o povo palestino na Faixa de Gaza.
A situação está à beira de uma catástrofe humanitária?
Sim, Gaza está, segundo muitos relatos de organizações internacionais e humanitárias, à beira da fome catastrófica. É por isso que precisamos fazer todo o possível para impedir que essa catástrofe e essa tragédia se tornem realidade.
Mas o que pode ser feito, de fato?
Há várias maneiras: romper relações diplomáticas, convocar embaixadores, interromper o envio de armas e munições, não permitir que navios israelenses com armas ou munições matem crianças palestinas. Os países têm à disposição inúmeras opções para fazer cumprir a aplicação do direito internacional, incluindo o direito humanitário. Eles podem tomar muitas medidas que realmente pressionariam e prejudicariam Israel, forçando-o a pôr fim a esses crimes, nomeadamente o de usar a fome como arma contra os palestinos.
De que modo vê a adesão do Brasil ao processo que acusa Israel de genocídio, na Corte Internacional de Justiça?
A inclusão do Brasil no processo em Haia é um bom passo na direção correta e nós saudamos isso. (RC)
Idosa é acusa de conspirar para matar Netanyahu
Uma mulher israelense de 73 anos, com doença terminal, foi acusada de conspirar para assassinar o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, usando um lançador de foguetes, informaram os promotores. Segundo a acusação, a mulher — uma ativista antigovernamental de Tel Aviv cuja identidade não foi revelada — decidiu matar Netanyahu após receber seu diagnóstico médico. De acordo com a Promotoria, ela disse ter tomado a decisão de "sacrificar" sua vida para "salvar" o Estado de Israel do atual governo. A idosa teria compartilhado seu plano com outro ativista e pedido ajuda a ele para obter a arma. O homem se recusou a cooperar e tentou dissuadi-la, mas, como seus esforços foram em vão, ele a denunciou às autoridades, o que levou à sua prisão.
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