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Israel anuncia trégua tática em Gaza para entrada de ajuda humanitária

Israel anuncia pausas táticas em ofensivas contra o território palestino para permitir a entrada de medicamentos e alimentos à população, que enfrenta desnutrição severa, segundo ONGs. Primeiro-ministro culpa o Hamas pela escassez

Aviões da Jordânia e Emirados Árabes lançaram 25t de alimentos   -  (crédito:  AFP)
Aviões da Jordânia e Emirados Árabes lançaram 25t de alimentos - (crédito: AFP)

Israel começou, ontem, uma "pausa humanitária" nos combates em Gaza para permitir a passagem de medicamentos e alimentos por via terrestre. A trégua será diária, das 10h às 20h (horário local), nas áreas de Al Mawasi, Deir al Balah e na Cidade de Gaza, onde as tropas israelenses não operam. Além disso, o Exército organizará rotas entre 6h e 23h para garantir a segurança das caravanas da Organização das Nações Unidas (ONU) e de organizações não governamentais (ONGs). 

Os primeiros caminhões cruzaram a fronteira do Egito, no sul do território palestino, e seguiram ao ponto israelense de Kerem Shalom, para serem inspecionados. Também foram retomados, ontem, os lançamentos de ajuda humanitária: três aviões da Jordânia e dos Emirados Árabes Unidos jogaram 25 toneladas de alimentos no enclave. Nas primeiras horas de domingo (sábado, em Brasília), o Exército israelense enviou pacotes de enlatados, farinha e açúcar a Gaza, por paraquedas. 

O diretor do Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Tom Fletcher, comemorou o anúncio da trégua tática. "Celebramos as pausas humanitárias em Gaza para permitir a passagem de nossa ajuda. Estamos em contato com nossas equipes que estão lá, para que façam tudo o possível para alcançar o maior número possível de pessoas famintas", escreveu no X.

Já uma porta-voz da agência das Nações Unidas Unicef criticou a resposta do governo israelense à fome severa no território palestino. "A ajuda que as famílias de Gaza precisam é imensa, vai muito além de simples pacotes de alimentos", declarou Rosalia Bollen, sobre os sete lotes de ajuda enviados por paraquedas. 

Negação

Israel nega há meses qualquer bloqueio à ajuda e afirma não ser responsável pela escassez de alimentos e remédios em Gaza, acusando o Hamas de saquear os carregamentos, e as organizações humanitárias de não os distribuírem. "Existem corredores seguros. Sempre existiram, mas agora é oficial. Não haverá mais desculpas", declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. 

A ONU e outras ONGs, porém, denunciam restrições excessivas à entrada de ajuda no território sitiado. Ativistas tentam, sem sucesso, levar medicamentos e alimentos por mar, mas são interceptados pelo Exército. Ontem, as forças israelenses levaram o barco Handala, da coalizão Flotilha da Liberdade, ao porto de Ashdod. A embarcação foi confiscada no sábado em águas internacionais, e a tripulação, detida. 

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Desnutrição

A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou ontem que a desnutrição está atingindo "níveis alarmantes" no território sitiado. Das 63 mortes relacionadas com a fome registradas em julho, 24 eram crianças com menos de 5 anos. "A desnutrição segue uma trajetória perigosa na Faixa de Gaza, marcada por um aumento nas mortes em julho", afirmou o organismo internacional em um comunicado. Segundo a agência da ONU, o "bloqueio deliberado" à ajuda era "totalmente evitável e custou muitas vidas". 

"A maioria dessas pessoas foi declarada morta ao chegar aos centros de saúde ou morreu pouco depois, com sinais evidentes de emagrecimento grave em seus corpos", assegurou a OMS. "A crise continua sendo totalmente evitável. O bloqueio e o atraso deliberados da ajuda alimentar, sanitária e humanitária em grande escala custaram muitas vidas", acrescentou. 

Quase uma em cada cinco crianças com menos de 5 anos na Cidade de Gaza sofre, agora, de desnutrição aguda, segundo a OMS. A agência das Nações Unidas afirmou que a porcentagem de meninos e meninas entre 6 e 59 meses com a saúde severamente afetada pela fome triplicou na cidade desde junho. 

Em Khan Yunis e no centro de Gaza, essas taxas dobraram em menos de um mês, acrescentou a OMS. "É provável que esses números estejam subestimados devido às graves restrições de acesso e segurança que impedem muitas famílias de chegar aos centros de saúde", segundo a OMS.

 


Estado palestino volta à pauta das Nações Unidas

Após o anúncio de que a França reconhecerá o Estado palestino, os países da Organização das Nações Unidas (ONU) tentarão, nesta semana, mais uma solução para os dois Estados, um israelense e outro palestino, em uma reunião sem Israel. A conferência convocada pela Assembleia Geral da ONU e copresidida por França e Arábia Saudita seria realizada em junho, mas foi adiada devido aos bombardeios israelense-americanos no Irã. Hoje, começa o primeiro segmento, no nível ministerial, em Nova York. Em setembro, está prevista uma cúpula dos líderes. 

Na semana passada, o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que seu país reconhecerá oficialmente o Estado palestino em setembro, um fato que "dará nova vida a uma conferência que parecia destinada à insignificância", segundo Richard Gowan, analista do International Crisis Group. A decisão de Macron muda o cenário, já que outros participantes podem seguir os passos da França, afirma.

Na sexta-feira passada, Reino Unido e Alemanha também pediram em um comunicado conjunto "uma solução negociada que contemple a coexistência de dois Estados". 

Segundo uma contagem da agência de notícias France Presse (AFP), pelo menos 142 dos 193 membros da ONU, incluindo o Brasil, reconhecem o Estado palestino, proclamado no exílio em 1988. Em 1947, uma resolução da Assembleia Geral da ONU decidiu pela divisão da Palestina, então sob mandato britânico, em dois Estados independentes, um judeu e outro árabe. No ano seguinte, foi proclamado o Estado de Israel.

Alternativa

A reunião de Nova York acontece em um momento em que a solução de dois Estados está "mais enfraquecida do que nunca", mas também é "mais necessária do que nunca porque vemos claramente que não há alternativa", comentou uma fonte diplomática francesa à AFP. 

Além de criar uma "dinâmica" para o reconhecimento do Estado palestino, a conferência se concentrará em outros três eixos: a reforma da governança da Autoridade Palestina, o desarmamento do Hamas e sua exclusão da liderança palestina, e a normalização das relações com Israel por parte dos países árabes que ainda não o fizeram.

  • Homens carregam sacas com mantimentos e remédios levados por carretas ao norte do enclave: ONGs e ONU denunciaram bloqueio
    Homens carregam sacas com mantimentos e remédios levados por carretas ao norte do enclave: ONGs e ONU denunciaram bloqueio Foto: AFP
  • Com panelas e vasilhas nas mãos, palestinos imprensados em grade aguardam a entrega de comida
    Com panelas e vasilhas nas mãos, palestinos imprensados em grade aguardam a entrega de comida Foto: AFP
  • Caminhões em fila aguardam permissão para ingressar no enclave
    Caminhões em fila aguardam permissão para ingressar no enclave Foto: AFP
  • Explosões em área não contemplada pela suspensão dos ataques
    Explosões em área não contemplada pela suspensão dos ataques Foto: AFP
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CB
postado em 28/07/2025 04:35
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