
Mais de 350 mil israelenses saíram às ruas de Tel Aviv para exigir do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a libertação imediata dos 50 civis sequestrados pelo movimento fundamentalista islâmico Hamas e mantidos no cativeiro, na Faixa de Gaza, desde 7 de outubro de 2023. Além da pressão interna crescente, o governo israelense também enfrenta a condenação da comunidade internacional por um duplo disparo de tanques contra o hospital Nasser, o único em funcionamento em Gaza, na cidade de Khan Yunis (sul). O incidente, na manhã de segunda-feira (25/8), deixou 20 mortos, incluindo cinco jornalistas colaboradores de agências como Reuters e Associated Press e da emissora Al-Jazeera, do Catar. Depois de uma investigação inicial, as Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram que seis terroristas do Hamas morreram na ação.
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Moradora do kibbutz Nir Oz — onde 40 dos 420 habitantes foram mortos pelo Hamas em 7 de outubro e 77 acabaram sequestrados —, Irit Lahav afirmou ao Correio que "parar a guerra e libertar todos os reféns é a coisa certa a fazer agora". "O governo deve escutar nossas preocupações sobre nossos entes queridos, que estão colocados pelos palestinos para morrerem de fome. Cada dia que o governo atrasa a resposta ao acordo apresentado pelo Hamas é um dia a mais de perigo para os sequestrados, levados brutalmente de suas casas, ainda de pijamas. Preferimos a vida à guerra", desabafou.
Lahav ressaltou que o Hamas impede que voluntários do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e do Médicos sem Fronteiras tenham acesso aos sequestrados. "Isso é tortura", assegurou a israelense que escapou da morte após se esconder, com a filha de 22 anos, no quarto seguro de sua casa, em 7 de outubro de 2023. Enquanto os terroristas do Hamas executavam e sequestravam civis, Irit e a filha recebiam as notícias por meio de um sistema de mensagens do kibbutz. Conseguiram sobreviver depois de bloquear a porta com um remo e um aspirador de pó.
O roteirista Hen Avigdori, 55, teve três familiares assassinados no kibbutz de Beeri. Sete foram sequestrados, incluindo a mulher e a filha, libertadas depois de 48 dias. Ele decidiu sair às ruas de Tel Aviv e cobrar a libertação dos reféns remanescentes. "Semana após semana, centenas de milhares de pessoas têm protestado e provado ao mundo que há conflitos entre as decisões e ambições do nosso governo e a população de Israel", disse à reportagem, por telefone. "Entre 75% e 80% dos israelenses apoiam a libertação dos reféns e o fim da guerra. Isso está tão claro quanto o sol. Temos mostrado aos nossos líderes a maneira de fechar um acordo. Espero que, pelo menos dessa vez, o governo escute o povo e traga todos de volta para casa, pois estão morrendo lá."
Gil Dickman, 33, estudante de psicologia e morador de Tel Aviv, também sofreu na pele o horror de 7 de outubro: quatro familiares foram capturados pelo Hamas; dois foram executados e dois, libertados. "Os protestos em Israel indicam que os israelenses estão fartos da guerra. Netanyahu quer prosseguir com o conflito por motivos políticos, mas queremos que isso pare. O plano de ocupar a Cidade de Gaza provavelmente significará a morte de mais reféns", criticou. "Isso aconteceu com a minha prima Carmel Gat, assassinada depois de 328 dias, quando as IDF entraram em Rafah."
Hospital
As IDF informaram, na terça-feira (26/8), que o ataque contra o hospital Nasser tinha como alvo uma câmera do Hamas. Segundo o exército, a "investigação inicial" concluiu que "os soldados identificaram o equipamento colocado pelo Hamas na área do hospital Nasser, utilizada para observar a atividade das tropas (israelenses) a fim de dirigir atividades terroristas contra elas". O comunicado das IDF acrescenta que "seis das pessoas mortas eram terroristas" e uma delas "participou" do ataque de 7 de outubro.
Para Anthony Bellanger, secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, pela sigla em inglês), o duplo ataque ao hospital Nasser foi uma tentativa de alvejar a imprensa. "Israel alegou ter matado jornalistas deliberadamente durante a guerra. Nós havíamos apresentado queixas ao Tribunal Penal Internacional sobre o ataque deliberado contra nossos colegas, mesmo antes do conflito", afirmou ao Correio, por e-mail. "Não pode haver impunidade pelo assassinato de jornalistas. Silêncio e inação tornam o mundo cúmplice. Governos e instituições internacionais devem falar em uníssono para deixar claro que esses ataques israelenses a jornalistas são crimes de guerra e não serão enfrentados impunemente."
Bellanger cobrou uma resposta imediata da comunidade internacional, por meio de sanções, ações judiciais e pressão diplomática para forçar Israel a parar de matar jornalistas. "Cada um dos ataques contra nossos colegas deve ser devida e independentemente investigado, e os responsáveis, levados à Justiça. Os governos devem insistir que a imprensa estrangeira tenha permissão para atuar no enclave palestino", afirmou o secretário-geral da IFJ.
Thibaut Bruttin, diretor global da ONG Repórteres sem Fronteiras, crê que o bombardeio ao hospital Nasser foi "uma clara tentativa de alvejar jornalistas que apenas faziam seu trabalho". "O terceiro andar do prédio era conhecido como um refúgio para jornalistas. O fato de ter havido um segundo ataque em minutos é uma assinatura do alvo do bombardeio. Trata-se de uma guerra contra o Hamas, mas também contra jornalistas", declarou ao Correio, por telefone, de Paris.
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