
Haroon Safi, 30 anos, professor no vilarejo de Tesha, na província de Kunar, no leste do Afeganistão, tinha acabado de ajudar a cavar sepulturas para vítimas quando falou ao Correio. "Nesta manhã, fui à área mais atingida. Havia muitos mortos, e as pessoas estavam ocupadas com os enterros. A área fica no topo de uma montanha, a três horas de caminhada da estrada. A população está muito assustada. Entre as vítimas, há crianças e mulheres", comentou. Depois do terremoto de magnitude 6 na escala Richter (aberta, raramente chega 9), que sacudiu o leste do Afeganistão às 23h47 de domingo (31/8) pelo horário local (16h17 pelo Brasília), as equipes de resgate começaram uma corrida contra o tempo para resgatar sobreviventes.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
Até a noite desta segunda-feira (1º/9), o número de mortos passava de 810. Ao menos 2.817 pessoas ficaram feridas. Com epicentro a 27km de Jalalabad, na província de Nangarhar, o abalo teve profundidade considerada rasa (de 8km), o que potencializou a letalidade. A onda sísmica se espalhou por 473km de oeste a leste, desde Cabul até Islamabad, as respectivas capitais de Afeganistão e Paquistão.
- Leia também: Terremoto deixa mais de 800 mortos no Afeganistão
Vilarejos inteiros teriam sido arrasados, o que leva as autoridades do movimento fundamentalista islâmico Talibã, no comando do país desde 2021, a esperarem um aumento substancial no número de mortos, nos próximos dias. Os governos de China e Índia se prontificaram a enviar ajuda humanitária para os desabrigados, incluindo tendas capazes de abrigar mil famílias e 15 toneladas de alimentos.
Mohammad Suhail Shaheen, chefe do Escritório Político do Talibã em Doha (Catar), admitiu à reportagem que o Afeganistão necessita de alimentos, barracas e medicamentos para suprir as necessidades mais básicas dos sobreviventes. "Passar por esse terremoto foi muito difícil. Quando ele começou, as crianças de nossa casa ficaram tão apavoradas que permaneceram acordadas a noite inteira. Ninguém dormiu. Tivemos mais de 20 réplicas entre a madrugada e a tarde de hoje (ontem). Os distritos de Lakh, Chapri, Chalis de Sawki e Mazar Dara de Nurgil concentram a maior parte das vítimas", disse Safi.
Vítimas
Comerciante em Asadabad, capital da província de Kunar, Faridullah Fazli, 25, contou ao Correio que foi despertado pelo terremoto. "Nós corremos para fora de casa e procuramos espaços abertos. Vimos muita gente na rua, além de vários feridos. Nós pegamos o carro em casa e levamos algumas das vítimas até o hospital. Havia milhares de pessoas machucadas lá e uma fila de moradores dispostos a doar sangue. Muita coisa aconteceu durante a noite. Tivemos uma série de réplicas, que não nos deixaram dormir", disse, por telefone.
De acordo com Fazli, muitos afegãos estão presos sob os escombros de suas casas. "Prédios e casas caíram com as pessoas dentro", afirmou. "Durante o tremor, escutamos muitos gritos e ouvimos o barulho de deslizamentos de terra nas montanhas." Terremotos são frequentes no Afeganistão, que abriga a cadeia montanhosa de Hindu Kush — localizada perto da zona de contato entre as placas tectônicas Euro-Asiática e Indiana. Em 2023, outro terremoto de magnitude 6,3 na escala Richter atingiu a província de Herat (oeste), matando mais de 2 mil pessoas e destruindo 63 mil casas.
DUAS PERGUNTAS PARA
MOHAMMAD SUHAIL SHAHEEN, chefe do Escritório Político do Talibã em Doha (Catar)
Como o senhor vê a escala dessa tragédia?
O terremoto causou enormes estragos na área afetada, deixando quase mil mortos e 2.900 feridos. O número de vítimas está aumentando, e muitas ainda estão sob os escombros. Várias equipes de resgate do Ministério da Defesa, do Ministério do Interior, da Sociedade do Crescente Vermelho, da Cruz Vermelha e de outras entidades trabalham para ajudar as pessoas.
Quais as necessidades mais urgentes dos desabrigados?
As necessidades mais urgentes incluem medicamentos, alimentos, tendas e água potável. As equipes de resgate dos ministério da Saúde e da Defesa, e da Sociedade do Crescente Vermelho, foram as primeiras a chegar aos locais afetados. Outras nações ao redor do mundo estão avaliando a situação e expressaram condolências. Algumas delas anunciaram ajuda. (RC)
Webstories
Política
Diversão e Arte