América do Norte

Escândalo nos EUA: E-mails de pedófilo ligam Trump a vítimas

Em mensagens trocadas com aliciadora e jornalista, financista acusado de tráfico sexual de menores revela que presidente sabia do esquema ciminoso e ficou "horas" na companhia de uma das garotas. Casa Branca nega e cita "narrativa falsa"

Donald Trump desembarca do Air Force One no Aeroporto Internacional de Miami, em foto de 5 de novembro -  (crédito: Brendan Smialowski/AFP)
Donald Trump desembarca do Air Force One no Aeroporto Internacional de Miami, em foto de 5 de novembro - (crédito: Brendan Smialowski/AFP)

Às vésperas de completar 10 meses à frente da Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump voltou ao centro do escândalo envolvendo o financista americano Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual e pedofilia. E-mails divulgados por democratas da Comissão de Supervisão da Câmara de Representantes sugerem que Trump sabia da conduta criminosa de Epstein. Também revelam que o republicano teria "passado horas" na casa do amigo com uma das vítimas. "Quero que você perceba que aquele cachorro que não latiu é o Trump... (...) Passou horas na minha casa com ele", afirmou uma das mensagens de Epstein para Ghislaine Maxwell, uma ex-socialite britânica condenada por tráfico sexual. Posteriormente, a Casa Branca identificou a vítima como a principal acusadora de Epstein, Virginia Giuffre. Em outro e-mail, Epstein afirma que "é claro que ele (Trump) sabia sobre as garotas". 

Fique por dentro das notícias que importam para você!

SIGA O CORREIO BRAZILIENSE NOGoogle Discover IconGoogle Discover SIGA O CB NOGoogle Discover IconGoogle Discover

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, não tardou em desmentir as mensagens trocadas pelo próprio Epstein com Maxwell e com o escritor e jornalista Michael Wolff. Leavitt acusou os deputados democratas de "vazamento seletivo de e-mails para a imprensa liberal, a fim de criarem uma narrativa falsa para difamar o presidente Trump". Ainda segundo Leavitt, "essas histórias não passam de tentativas de má-fé para desviar a atenção das conquistas históricas do presidente". "Qualquer americano com bom senso percebe imediatamente essa farsa."

Jeffrey e Trump nos anos 1990 durante uma festa privada
Jeffrey Epstein (E) e Donald Trump em fotografia datada da década de 1990, durante uma festa particular (foto: Reprodução/X)

Pouco depois, Trump se pronunciou sobre a divulgação dos e-mails. "Os democratas estão tentando ressuscitar novamente a farsa de Jeffrey Epstein porque farão qualquer coisa para desviar a atenção do quão mal eles lidaram com o fechamento do governo e tantos outros temas", reagiu em sua plataforma Truth Social, ao citar o shutdown histórico de 43 dias — a paralisação dos serviços do governo federal —, pelo qual ele culpa seus rivais políticos. 

As mensagens atribuídas a Epstein repercutiram no establishment de Washinghton. Conhecido por ser um democrata que vez ou outra defende Trump, o senador John Fetterman dessa vez não contemporizou. "Eu tenho acompanhado isso, claro. Sim, é absolutamente perturbador, você saber, ver isso", declarou à emissora de televisão CNN. O congressista cobrou a "completa" divulgação dos arquivos relacionados ao caso Epstein. Democratas da Comissão de Supervisão da Câmara admitiram que as mensagens eletrônicas "levantaram sérias dúvidas sobre Trump e seu conhecimento dos crimes horríveis de Epstein".

Em 8 de setembro, democratas tinham publicado uma suposta carta de aniversário enviada por Trump ao financista. O texto foi escrito junto a um desenho da silhueta de uma mulher nua. No fim da nota, o presidente afirma: "Um amigo é algo maravilhoso. Feliz aniversário e que cada dia seja outro maravilhoso segredo". Mais uma vez, a Casa Branca negou a veracidade da carta. 

Mentira

Ex-procurador federal e advogado na firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York), Mitchell Epner disse ao Correio que os e-mails vazados deixam claro que Ghislaine Maxwell não foi sincera ao conversar com o vice-procurador-geral Todd Blanche sobre as ligações de Trump com Epstein. "Maxwell afirmou a Blanche que ela não tinha conhecimento de qualquer elo entre os dois, mas as mensagens evidenciaram que Epstein referiu-se a Trump como 'o cachorro que não latia' e que ele passou 'horas' com uma das garotas — a Casa Branca a identificou como Virginia Giuffre", comentou.

Epner avaliou a dificuldade em fazer um juízo de valor sobre os e-mails divulgados pelos democratas nesta quarta-feira (12/11). "São mais de 20 mil mensagens tornadas públicas. Os poucos e-mails cujo conteúdo foram revelados representam um enorme problema para Trump, mesmo que a imensa maioria deles seja irrelevante", observou.

MENSAGENS COMPROMETEDORAS

Troca de mensagens do financista americano Jeffrey Epstein com a socialite britânica Ghislaine Maxwell
Troca de mensagens do financista americano Jeffrey Epstein com a socialite britânica Ghislaine Maxwell (foto: Reprodução)

2 de abril de 2011

Jeffrey Espstein escreveu para Ghislaine Maxwell, uma ex-socialite britânica culpada por tráfico sexual infantil. "Quero que você perceba que aquele cachorro que não latiu é o Trump... (Informação omitida) passou horas na minha casa com ele, e ele nunca foi mencionao. Chefe da política etc. Estou 75% convencido", afirmou. Maxwell respondeu: "Eu tenho pensado sobre isso". 

31 de janeiro de 2019

Em outro e-mail, Epstein trocou mensagens com o escritor e jornalista Michael Wolff, durante o primeiro mandato de Donald Trump. Epstein, aparentemente, aborda a alegação de um pedido de Trump para que o próprio financista renunciasse à condição de sócio do clube de golfe de Mar-a-Lago, pertencente ao republicano. "É claro que ele sabia das garotas, já que pediu a Gislaine que parasse", escreveu Epstein. 

16 de dezembro de 2015

Wolff enviou uma mensagem para Epstein, na qual sugere que deixe Trump se "enforcar sozinho". "Você pode enforcá-lo de uma forma que gere um benefício positivo para você, ou, se realmente parecer que ele pode vencer, você poderia salvá-lo, gerando dívida", sugeriu. O autor disse a Epstein que soube que o relacionamento do financista com Trump poderia ser tema de pergunta em um debate da emissora CNN. 

PARA SABER MAIS

Perversão e influência política

Jeffrey Epstein, gerente de um fundo de investimentos que movimentava milhões de dólares, mantinha laços de amizade com muitas celebridades nos Estados Unidos, incluindo o presidente Donald Trump. Também promovia festas regradas a álcool e sexo. Acusado de tráfico sexual de menores e de conspiração para cometer o mesmo crime, foi encontrado morto na cela da prisão, em Nova York, em 10 de agosto de 2019. Tinha 66 anos. Se fosse considerado culpado, cumpriria uma pena de até 45 anos de cadeia. 

Em 2008, Epstein havia sido condenado por pagar jovens por massagens. No entanto, ele ficou apenas 13 meses na prisão, após firmar um acordo secreto com o advogado fornecido pelo estado, que lhe permitiu sair durante o dia para trabalhar. 

Epstein teve a ajuda da ex-socialite britânica Ghislaine Maxwell para aliciar as vítimas. A amiga convidada adolescentes vulneráveis para irem ao cinema, a fazer compras e perguntavam por sua escola e família. Então, fazia com que elas sentissem que tinham uma dívida com Epstein. Às vezes, Maxwell participava do abuso sexual das adolescentes, algumas com apenas 14 anos, inclusive em massagens sexuais; às vezes, só olhava, de acordo com a promotora do caso.

EU ACHO...

2018. Cr?dito: Arquivo Pessoal. Mundo. Mitchell Epner, advogado da firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York) e ex-procurador assistente para o Distrito de Nova Jersey (procurador federal).
Mitchell Epner, advogado da firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York) e ex-procurador assistente para o Distrito de Nova Jersey (procurador federal). (foto: Arquivo pessoal)

"Não consigo imaginar um mundo em que Donald Trump enfrente quaisquer consequências legais em relação a essa questão, visto que ele controla o Departamento de Justiça. Além disso, a Suprema Corte dos Estados Unidos essencialmente decidiu que nem um presidente nem um ex-presidente podem ser processados por quaisquer atos oficiais."

Mitchell Epner, ex-procurador federal e advogado na firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York)

Shutdown mais longo da história chega ao fim 

Depois de 42 dias e 19 horas, o maior shutdown da história dos Estados Unidos — a paralisação dos serviços do governo federal — terminou, na noite desta quarta-feira. A Câmara dos Representantes avalizou o acordo aprovado pelo Senado para reabrir o Estado. Antes da votação final, os deputados superaram um obstáculo processual para viabilizar o procedimento, com 213 votos a favor e 209 contra. O shutdown deixou prejuízos permanentes à economia nacional estimados em US$ 11 bilhões (cerca de R$ 58 bilhões).

A votação nem tinha começado quando duas agências do governo federal — o Departamento de Sáude e de Serviços Humanos e o Departamento do Interior — enviaram e-mails aos funcionários em que pediam-lhes que se preparassem para o retorno ao trabalho. Durante o shutdown, milhões de americanos tiveram que ser dispensados do trabalho. Aqueles que faziam parte dos serviços essenciais foram forçados a trabalhar sem remuneração.

O presidente Donald Trump se disse "ansioso" para pôr fim a este "fechamento devastador causado pelos democratadas". "Esperamos que a assinatura ocorra esta noite", declarou a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, na tarde desta quarta-feira (12/11).

Indiferença

Professora de governo e sociologia da Universidade de Harvard, Theda Skopcol explicou ao Correio que o shutdown "permitiu que os democratas dramatizassem a determinação dos republicanos em restringir o acesso à saúde e aumentar os custos, além de expor a indiferença e a crueldade de Trump". "O desfecho foi constrangedor e os democratas estão em debate agora, mas provavelmente nunca teriam conseguido impor mudanças legislativas concretas. Eles venceram de forma decisiva em 4 de novembro, Trump é historicamente impopular e os democratas podem continuar pressionando para vencer em 2026", afirmou a estudiosa. 

Para Skopcol, a paralisação ajudou a melhorar a popularidade de Trump. "O presidente parece muito alheio às preocupações econômicas do americano da classe média. O custo a longo prazo poderá ser o fato de que os republicanos fiquem menos propensos a fazer tudo o que ele pedir ", acrescentou. 


  • Jeffrey Epstein (E) e Donald Trump em fotografia datada da década de 1990, durante uma festa particular
    Jeffrey Epstein (E) e Donald Trump em fotografia datada da década de 1990, durante uma festa particular Foto: Reprodução/X
  • Troca de mensagens do financista americano Jeffrey Epstein com a socialite britânica Ghislaine Maxwell
    Troca de mensagens do financista americano Jeffrey Epstein com a socialite britânica Ghislaine Maxwell Foto: Reprodução
  • 2018. Cr?dito: Arquivo Pessoal. Mundo. Mitchell Epner, advogado da firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York) e ex-procurador assistente para o Distrito de Nova Jersey (procurador federal).
    Mitchell Epner, advogado da firma Rottenberg Lipman Rich P.C. (em Nova York) e ex-procurador assistente para o Distrito de Nova Jersey (procurador federal). Foto: Arquivo pessoal
  • Google Discover Icon
postado em 13/11/2025 05:50
x