
A Casa Branca rejeitou uma oferta do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de renunciar em um prazo de dois anos. A informação, divulgada pelo jornal The New York Times, sinaliza uma abertura de negociações entre Washington e Caracas. De acordo com a publicação, Donald Trump autorizou um plano da Agência Central de Inteligência (CIA) para a realização de missões secretas dentro da Venezuela, as quais incluiriam operações de sabotagem, cibernéticas, psicológicas ou de informação.
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Nos últimos dias, os Estados Unidos aplicaram uma estratégia de duplo sentido contra o regime de Caracas: intensificaram a pressão militar, com mais bombardeios a lanchas supostamente usadas pelo narcotráfico e o deslocamento de uma força naval para o Mar do Sul do Caribe; ao mesmo tempo, fizeram um aceno em direção ao diálogo. O jornal venezuelano El Nacional não descarta que a medida teria a intenção de enfraquecer internamente Maduro e forçá-lo a concessões ou mesmo a abandonar o Palácio de Miraflores. "Podemos ter algumas conversas com Maduro, e veremos como isso se desenrola", admitiu Trump a jornalistas no último domingo.
Os Estados Unidos chegaram a anunciar a chamada Operação Lança do Sul, em 13 de novembro, que consistiria em mobilizar o Comando do Sul e criar uma força-tarefa para combater o narcotráfico no Caribe. Mais de 12 mil militares americanos, incluindo fuzileiros navais e marinheiros, estão de prontidão na região para um eventual ataque à Venezuela. A Casa Branca também ofereceu uma recompensa de US$ 50 milhões pela captura de Maduro — Trump considera o venezuelano ilegítimo e o acusa de liderar o Cartel de Los Soles.
Professora de ciência política da Universidade Estadual do Colorado, a venezuelana María Isabel Puerta explicou ao Correio que, em oportunidades anteriores, houve relatos sobre supostas conversas direcionadas à saída de Maduro do poder. "No entanto, além da especulação, pois não temos certeza sobre essas negociações, não sabemos se essa informação do NY Times é algo mais recente ou se refere-se a abordagens iniciais", observou. "Não temos clareza sobre o contexto em que ocorrem esses encontros."
Mensagem
Para Guaicaipuro Lameda, general de brigada do Exército da Venezuela, a mobilização militar dos EUA no Mar do Sul do Caribe, que inclui o USS Gerald R. Ford, maior porta-aviões do mundo, permite interpretar que trata-se de uma mensagem direta a Maduro. "É um aviso para que ele não conte com o apoio do Irã, da Rússia e da China, porque as forças mobilizadas impedirão qualquer apoio bélico de fora do continente. Recentemente, Trump disse que Maduro deseja conversar. Penso que o republicano, em sua estratégia de dissuasão ao regime criminoso que governa a Venezuela, quer impôr um ultimato", disse ao Correio.
Lameda entende que a Casa Branca busca abrir as portas para que Maduro abandone o poder. No entanto, ele duvida que o regime seja amedrontado. "A única saída possível, instruída por Fidel Castro, passa por uma intervenção interna para retirá-lo da Venezuela", observou.
Segundo o NYT, estrategistas militares prepararam listas de instalações usadas pelo narcotráfico que poderiam ser alvejadas. O Pentágono também estaria planejando atacar unidades militares próximas a Maduro. Na semana passada, Trump teria comandado duas reuniões, na Sala de Situação da Casa Branca, para repassar as opções para lidar com a Venezuela. A expectativa é de que, antes de uma eventual ação militar contra o país sul-americano, os EUA lancem mão de operações clandestinas da CIA.
EU ACHO...
"É incomum que as supostas operações da CIA, por serem secretas, estejam sendo divulgadas publicamente. O fato de o New York Times (NYT) ter acesso a essa informação pode indicar que o governo Trump está enviando uma mensagem. Uma operação secreta da CIA, noticiada pelo NYT, sugere que o vazamento foi uma falha grave do governo Trump ou intencional, pois deixou de ser segredo. Essa é uma guerra psicológica. Estão tratando de encurralar Maduro e os militares."
María Isabel Puerta, professora de ciência política da Universidade Estadual do Colorado
"A oferta de renúncia em dois anos seria uma estratégia de ganhar tempo e provocar desgaste, por um lado; e, por outro, a possibilidade de permitir que Trump construa uma retirada militar do Mar do Sul do Caribe que não seja vergonhosa para Washington. A mesma estratégia ocorreu durante a Guerra do Vietnã e forçou os Estados Unidos a uma retirada. Para derrotar o narcotráfico e o terrorismo, um porta-aviões e caças são ineficientes."
Guaicaipuro Lameda, general de brigada do Exército da Venezuela
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