
Em meio à crescente tensão com a Venezuela, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, agora ameaça o vizinho México. Ao ser interpelado por jornalistas na Casa Branca sobre se avalizaria uma operação militar antidrogas no país ao sul, ele respondeu: "Eu lançaria ataques no México para deter o tráfico de drogas? Por mim, tudo bem. O que for necessário para deter as drogas". "Não disse que farei, mas estaria orgulhoso de fazer. Porque vamos salvar milhões de vidas ao fazer isso", enfatizou.
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Em relação à Venezuela, o republicano não descartou um diálogo direto com o homólogo Nicolás Maduro, mas fez questão de deixar em aberto a possibilidade de enviar tropas ao território venezuelano. "Em algum momento, vou falar com ele", admitiu, ao acrescentar que Maduro "não tem sido bom para os Estados Unidos". No entanto, quando foi confrontado por um repórter sobre se descartaria a mobilização de soldados americanos na Venezuela, avisou: "Não, não descarto, não descarto nada". "Temos que nos ocupar da Venezuela. Enviaram centenas de milhares de pessoas de suas prisões para o nosso país", disse.
Professor do Colegio de la Frontera Norte (em Tijuana) e especialista em segurança no México, Vicente Sánchez Munguia afirmou ao Correio que os cartéis mexicanos não têm o tráfico de drogas como atividade principal. "Eles atuam, sobretudo, no ramo da extorsão, ao cobrarem impostos em diferentes territórios. Não estou seguro de que um ataque direto a esses grupos, dispersos por todo o país, surta eficácia. Essas operações causaram mais violência", comentou. Ele defende que a melhor opção para Trump é prosseguir a cooperação com o México no combate ao narcotráfico. "É claro que Washington precisa pressionar o governo mexicano para uma depuração no âmbito político, mas também em termos de uma troca de inteligência entre as duas nações."
Munguia considera importante o foco nas finanças dessas organizações criminosas. "Desarticular a cadeia produtiva e de distribuição da droga, assim como a lavagem de dinheiro, principalmente no mercado dos Estados Unidos", observou. "Por outro lado, o goverjo mexicano poderia adotar uma reação muito nacionalista e invocar a soberania, e isso tem um amplo consenso da sociedade. O antiamericanismo é uma parte muito forte da cultura no México." O especialista entende que a animosidade torna um desafio a política de cooperação entre os vizinhos. Ainda segundo Munguia, Trump fala uma coisa hoje e amanhã diz o contrário. "É uma situação de incerteza. Penso que, até agora, as declarações de Trump insinuam uma pressão muito forte para o governo do México para que atue de maneira contundente para desmantelar o vínculo de proteção política com os grupos criminosos."
Narrativa
O venezuelano Orlando Vieira-Blanco — cientista político, advogado e colunista do jornal El Universal (de Caracas) — considera que a ameaça de envio de tropas dos EUA é parte de uma narrativa abertamente enviada pela Casa Branca à Venezuela e ao mundo. "A simples presença de uma frota militar nas águas do Caribe é uma demonstração de interesse de uma possível ação bélica. Uma operação contra o tráfico precisaria ter um aparato muito mais policial do que uma invasão massiva à Venezuela", disse ao Correio.
De acordo com Vieira-Blanco, a categorização do Cartel Los Soles como uma organização narcoterrorista é parte de um processo legal para justificar uma incursão com objetivos militares, com possível captura de Maduro. "Uma ação militar pode ser um elemento de catalisação para oferecer uma última chance ao regime de Maduro de abandonar o poder e buscar a ruptura da posição dominante no país. Caso contrário, veremos uma crônica anunciada de invasão americana."
EU ACHO...
"Em caso de um ataque direto ao México, por parte dos Estados Unidos, isso geraria um cenário muito complexo. Em alguns grupos criminosos, como o Cartel de Jalisco Nueva Generación, há poucos mexicanos, mas também há gente de Venezuela, Colômbia e Rússia integrada nessas facções. É um coquetel muito complexo, inclusive para o governo do México. Por isso, é necessária a cooperação. O tema adotou um erfil transcontinental."
Vicente Sánchez Munguia, professor do Colegio de la Frontera Norte (em Tijuana) e especialista em segurança no México

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