Caso Epstein

Congresso dos EUA vota pela divulgação de arquivos sobre pedófilo

Câmara e Senado dos Estados Unidos aprovam projeto de lei para tornar públicos arquivos sobre o pedófilo Jeffrey Epstein. Trump anunciou que sancionaria o texto, o qual obrigará o Departamento de Justiça a divulgar os documentos. Vítima brasileira fala ao Correio

Donald Trump pediu, e a Câmara dos Representantes atendeu. Por 427 votos a favor e apenas um contra — do republicano Clay Higgins (Louisiana) —, os deputados aprovaram a Lei de Transparência dos Arquivos Epstein. O texto, enviado imediatamente ao Senado e aprovado de forma unânime, aguardava, na noite desta terça-feira, a sanção presidencial. O presidente dos EUA sinalizou que assinaria o documento para transformá-lo em lei. "Estou completamente de acordo", disse Trump no Salão Oval, na segunda-feira (17/11). 

Nesta terça-feira (18/11), pouco depois da aprovação na Câmara, ele publicou em sua plataforma Truth Social: "Não me importa quando o Senado aprovar o projeto de lei da Câmara, seja hoje à noite ou em algum outro momento, eu só não quero que os republicanos tirem os olhos de todas as vitórias que tivemos".

Assim que se tornar lei, a medida obrigará o Departamento de Justiça a tornar públicos os documentos não confidenciais sobre o caso do pedófilo Jeffrey Epstein. Nas galerias do Capitólio, algumas das mais de mil vítimas do financista americano se abraçaram e choraram.

Líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer pediu a aprovação do projeto de lei, e os colegas assentiram. "Isso é sobre dar ao povo americano a transparência pela qual tanto clama. O povo americano já esperou tempo suficiente. As vítimas de Jeffrey Epstein já esperaram tempo suficiente. Que a verdade venha à tona", declarou. 

Em publicação na rede social X, o deputado Clay Higgins justificou o único voto contrário. "Desde o início, meu voto contra este projeto de lei tem sido firme. O que havia de errado com ele há três meses continua errado hoje. Ele abandona 250 anos de procedimentos de justiça criminal nos Estados Unidos. Da forma como está redigido, este projeto expõe e prejudica milhares de pessoas inocentes — testemunhas, pessoas que forneceram álibis, familiares", escreveu. "Se aprovado em sua forma atual, esse tipo de ampla divulgação de arquivos de investigações criminais, liberados para uma mídia voraz, certamente resultará em pessoas inocentes sendo prejudicadas. Não com o meu voto."

A brasileira Marina Lacerda, 37 anos, considerada a "vítima menor número um" de Epstein, assistiu à sessão na Câmara dos Representantes e, pouco depois, falou ao Correio. "Os vazamentos dos e-mails citando Trump era para terem acontecido. Esses e-mails só mostram o tipo de pessoa que o Trump é. Acho que o presidente está um pouco envolvido nisso; caso contrário, não teria medo de divulgar esses arquivos. Não acho necessário abrir uma investigação, porque nós, as sobreviventes, somos os arquivos de Epstein", acrescentou. Marina foi abusada por Epstein dos 14 aos 17 anos. 

Na última quinta-feira (13/11), democratas da Comissão de Supervisão da Câmara dos Representantes vazaram e-mails de Epstein em que Trump foi mencionado. Em um deles, o pedófilo revela que o presidente "sabia sobre as garotas" e passou horas com uma das vítimas em sua casa. 

Professor e historiador político na George Washington University, Matthew Dallek explicou ao Correio que Trump é praticamente imune a críticas. "Nada parece afetá-lo, e ele nunca perdeu o apoio de sua base. É raro que os índices de aprovação pública do presidente caiam abaixo de 40%. Por isso, é difícil imaginar como os arquivos de Epstein provocarão danos significativos à imagem de Trump entre seus milhões de simpatizantes", afirmou. "Se Stormy Daniels, E. Jean Carroll e o 6 de Janeiro não causaram golpes políticos fatais em sua reputação, é improvável que esses últimos vazamentos de e-mails mudem a opinião pública", acrescentou. Stormy Daniels, uma ex-atriz pornô, processou Donald Trump por suborno para esconder uma suposta relação extraconjugal; Carrol é uma jornalista que acusou o republicano de abuso sexual no provador de uma loja de departamentos; e o 6 de Janeiro diz respeito à invasão ao Capitólio, em 2021. 

Para Dallek, Trump viu-se obrigado a apoiar a divulgação dos documentos. "A petição para forçar a Câmara a votar foi bem-sucedida. Trump percebeu que muitos republicanos votariam pela liberação dos dossiês e que havia pouco que ele pudesse fazer para impedir que seguissem os democratas. Seria um constrangimento político", comentou o estudioso. "Foi então que Trump decidiu ceder, deu uma guinada de 180 graus e apoiou um projeto de lei que tinha denunciado por meses. Ele capitulou à realidade política, tentou salvar um pouco da reputação e seguir em frente."

Texas 

Em uma segunda derrota para Trump, um tribunal da cidade de El Paso bloqueou a adoção de um novo mapa eleitoral no estado do Texas. Os republicanos esperavam utilizar o mapa para obter mais cinco assentos no Congresso durante as eleições de 2026. O republicano Greg Abbott, governador do Texas e aliado político de Trump, anunciou que vai recorrer à Suprema Corte, na esperança de reverter o bloqueio. Ontem, uma pesquisa da agência de notícias Reuters e do instituto Ipsos mostra que a aprovação de Trump caiu para 38%, o nível mais baixo deste segundo mandato.

Trump minimiza esquartejamento de jornalista...

Donald Trump abriu as portas da Casa Branca para o príncipe saudita acusado de ordenar o assassinato e o esquartejamento do jornalista saudita Jamal Khashoggi. Diante de Mohammed bin Salman, o presidente americano foi perguntado por um jornalista sobre o crime. "Você está mencionando alguém que foi extremamente controverso. Muitas pessoas não gostavam desse senhor de quem você está falando. Gostando ou não dele, as coisas acontecem", respondeu Trump, ao sugerir que Bin Salman não teve envolvimento com a execução. "Ele não sabia de nada, e podemos deixar por isso mesmo. Você não precisa constranger nosso convidado fazendo uma pergunta dessas", acrescentou. Khashoggi foi assassinado em 2 de outubro de 2018, no consulado da Arábia Saudita em Istambul. 

Reprodução - Donald Trump xinga repórter de "porquinha"aspas, a bordo do Air Force One

...e ofende repórter depois de pergunta: "Quieta, porquinha" 

Ao ser questionado por Catherine Lucey, repórter do site Bloomberg, sobre os e-mails em que o financista e pedófilo Jeffrey Epstein (1953-2019) o mencionava, Donald Trump perdeu a linha. "Se não há nada incriminador nos arquivos, senhor, por que não…?", perguntou a jornalista, ao ser bruscamente interrompida pelo presidente republicano. "Quieta, quieta, porquinha", respondeu Trump, como se estivesse cantando, a bordo do avião presidencial Air Force One, apontando o dedo para a jornalista. O episódio ocorreu na última sexta-feira (14), mas somente ontem repercutiu negativamente nos sites e nas redes sociais. Alguns internautas chegaram a acusar Trump de misoginia. Antes da ofensa à repórter, Trump chegou a dizer que tinha uma "péssima relação" com Epstein.

EU ACHO...

Arquivo pessoal - Matthew Dallek, professor da Faculdade de Gerenciamento Político da Universidade George Washington (em Washington)

"As revelações dos e-mails de Jeffrey Epstein provavelmente causarão danos graduais ao presidente. Trump está politicamente mais fraco agora do que há alguns meses, e o fluxo constante de atenção à sua relação com Epstein e ao encobrimento dos arquivos ocorre em um momento de baixa para ele, em seu segundo mandato."

Matthew Dallek, professor e historiador político na George Washington University

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