
A nova ameaça foi feita durante reunião de gabinete, na Casa Branca. "Vamos começar com ataques terrestres. O objetivo é eliminar esses filhos da p...", avisou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao mencionar os narcotraficantes da Venezuela. "Será muito mais fácil assim. Sabemos onde eles estão, quais rotas usam. Eles precisam parar de envenenar centenas de milhares de americanos. (...) Sabemos onde os maus moram, e vamos começar isso muito em breve", declarou.
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À direita de Trump, estava o secretário de Guerra, Pete Hegseth, pivô de um escândalo envolvendo uma suposta ordem para matar dois sobreviventes de uma lancha supostamente usada pelo narcotráfico venezuelano, em 2 de setembro. Após o encontro, Trump falou a jornalistas e também ameaçou, nominalmente, a Colômbia. "Se eles entrarem por um determinado país, qualquer país... Ouvi dizer que a Colômbia está produzindo cocaína... qualquer pessoa que faça isso e venda para o nosso país está sujeita a ataques", advertiu.
Na reunião de gabinete, o chefe do Pentágono alertou: "Estamos apenas começando a atacar barcos do narcotráfico e a enviar os narcoterroristas para o fundo do oceano porque eles vêm envenenando o povo americano". "Tivemos uma pequena pausa porque é difícil encontrar barcos para atacar neste momento, o que é exatamente o objetivo, não? A dissuasão tem que ser importante", acrescentou Hegseth. Trump assegurou que tanto ele quanto o secretário de Guerra não sabiam do segundo ataque à embarcação com os sobreviventes. "Eu não sabia do segundo ataque. Não sabia nada sobre as pessoas. Eu não estava envolvido e sabia que eles tinham abatido um barco, mas eu diria o seguinte: houve um ataque", afirmou.
Ultimato
De acordo com o jornal El Nacional (Caracas), o filho de Trump, Donald Trump Jr., confirmou que o pai deu um ultimato ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. "Meu pai deu um ultimato a Maduro, o líder do cartel, aquele que perdeu as eleições: sair da Venezuela ou algo pior aconteceria. Segundo consta, Maduro disse que sairia, mas apenas se pudesse controlar as forças armadas no exílio, o que não é exatamente como deveria funcionar", disse. As condições de Maduro, não aceitas pela Casa Branca, incluíam também o fim de todas as sanções impostas a ele, a familiares e a mais de 100 altos funcionários; o arquivamento das investigações de crimes contra a humanidade no Tribunal Penal Internacional; e a formação de um governo de transição liderado pela vice-presidente, Delcy Rodríguez.
Professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Cristina Soreanu Pecequilo explicou ao Correio que a ameaça de Trump possui dois objetivos. "Ela pretende sinalizar para Maduro que as pressões devem continuar até que exista uma mudança de regime na Venezuela. Também sinalizar para qualquer outro oponente regional que os EUA estarão de prontidão para agir, sob a justificativa do combate ao narcotráfico", disse. A estudiosa acredita que, com relação a Maduro, mais relevantes do que essas ameaças são as negociações que ocorrem paralelamente a elas.
O ex-diplomata turco Imdat Oner morou em Caracas entre 2014 e 2016. Hoje, atua como analista político da Universidade Internacional da Flórida. Ele prefere avaliar a declaração de Trump com cautela. "Embora fale em 'ataques terrestres' e use uma linguagem agressiva, o cenário mais provável é muito mais limitado. Os EUA poderiam recorrer a operações aéreas pontuais contra objetivos específicos vinculados ao narcotráfico. No entanto, uma intervenção terrestre de larga escala carece do apoio do Congresso e do respaldo de sua própria base política", comentou à reportagem, por meio do WhatsApp.
Oner considera pouco provável que ações militares desse tipo resultem em uma mudança de regime. "Elas poderiam até ser coordenadas ou anunciadas com antecedência para minimizar o risco de escalada e evitar uma resposta bélica do chavismo. Dessa forma, Trump teria a oportunidade de apresentá-las como uma 'vitória' interna: dizer que enfraqueceu os cartéis e protegeu os americanos do fentanil e da cocaína."
Para Antonio Guevara, coronel do Exército venezuelano e analista de segurança e defesa, a estratégia de Trump é incitar uma mudança no regime com a ajuda dos próprios militares da Venezuela. "O presidente não revelou quando, como e a partir de onde se iniciará uma ofensiva terrestre. A mobilização militar no Mar do Sul do Caribe, com navios de superfície, submarinos e aeronaves, deverá ser mantida por um tempo maior, à espera de uma ordem de Trump", afirmou ao Correio.
Guevara adverte, no entanto, que essa iniciativa pode trazer inconvenientes a Trump, a Hegseth e ao secretário de Estado, Marco Rubio. Ele cita a morte de dois sobreviventes de um primeiro bombardeio em um segundo ataque a uma lancha. O desrespeito às chamadas "regras de enfrentamento", uma extensão das Convenções de Genebra, levou Hegseth a ser questionado pelo Congresso, ante as suspeitas de "crimes de guerra".
EU ACHO...
"Trump segue uma linha estratégica para forçar a renúncia de Maduro por meio dos militares que estão na Venezuela. Creio que ele tenta provocar isso com a máxima pressão. A ideia é forçar um pronunciamento da Força Armada Nacional Bolivariana que desconheça a autoridade de Nicolás Maduro como presidente e como comandante-em-chefe. Isso significar ressarcir os canais da Constituição e do Estado de Direito pelo que ocorreu em 28 de julho de 2024, quando as mesmas forças armadas deram um golpe de Estado."
Antonio Guevara, coronel do Exército venezuelano e analista de segurança e defesa
"A renúncia de Maduro depende muito mais das dinâmicas internas de poder na Venezuela, especialmente do papel dos militares e das fissuras dentro do chavismo, do que de uma ameaça externa. Washington pode intensificar a pressão, mas a chave permanece dentro do país. Por ora, em vez de um plano para uma intervenção em larga escala, isso parece fazer parte de uma estratégia de intimidação e desgaste político."
Imdat Oner, ex-diplomata turco e analista político da Universidade Internacional da Flórida
Papa Leão XIV pede diálogo
A bordo do avião, ao retornar de uma viagem ao Líbano, o papa Leão XIV pediu aos Estados Unidos que priorizem o diálogo com a Venezuela, em detrimento de uma operação militar. "É melhor buscar maneiras de diálogo, talvez pressão, até mesmo pressão econômica, mas buscando outra maneira de mudar, se for isso que os Estados Unidos decidirem fazer", declarou o pontífice. Leão XIV manifestou-se contra qualquer solução violenta ao indicar que "as vozes que vêm dos Estados Unidos mudam (...) Por um lado, parece que houve uma conversa por telefone entre os dois presidentes; por outro lado, há esse perigo, essa possibilidade de que haja alguma atividade, alguma operação, até mesmo invadindo o território da Venezuela. Eu não sei mais", disse em espanhol.
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