Em uma escalada sem precedentes da crise no Mar do Sul do Caribe, a Guarda Costeira dos Estados Unidos confiscou um petroleiro em frente à costa da Venezuela. A informação foi confirmada pelo próprio presidente americano, Donald Trump, que desconversou ao ser questionado sobre detalhes do incidente e ameaçou a Colômbia. "Como vocês provavelmente sabem, nós acabamos de capturar um petroleiro na costa da Venezuela. Um grande petroleiro, enorme, o maior apreendido, atualmente", declarou o republicano. Trump acrescentou que "outras coisas estão acontecendo". "Vocês verão adiante", avisou. "Foi apreendido por boas razões. (...) Assumo que ficaremos com o petróleo", complementou.
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O titular da Casa Branca disse que o líder colombiano, Gustavo Petro, "será o próximo". "Ele tem sido bastante hostil aos EUA e vai ter grandes problemas se não se conscientizar. A Colômbia produz muitas drogas... É melhor ele se conscientizar, ou será o próximo. A Colômbia é grande produtora de drogas, principalmente de cocaína."
O jornal The New York Times divulgou que o petroleiro Skipper navegava "sob uma bandeira de um país da América do Sul onde não estaria registrado". Uma fonte do governo dos EUA disse ao NY Times que a apreensão do navio ocorreu por conta de laços com o contrabando ilícito de petróleo iraniano no passado, e não pela relação com Nicolás Maduro. A procuradora-geral dos Estados Unidos, Pam Bondi, divulgou imagens de vídeo do que seria a operação de captura do petroleiro. As fotos mostram um grupo de militares embarcando no navio a partir de helicópteros. Segundo Bondi, o petroleiro era utilizado com frequência pela Venezuela e pelo Irã para transporte de óleo bruto, apesar das sanções impostas pela comunidade internacional. "Durante anos, o petroleiro tem sido alvo de sanções pelos Estados Unidos devido à sua participação em uma rede ilícita de envio de petróleo que apoia organizações terroristas estrangeiras", explicou.
"Quebrar os dentes"
Durante evento alusivo ao aniversário da Batalha de Santa Inês, em Caracas, Maduro subiu o tom e garantiu que a Venezuela está "preparada para quebrar os dentes do império norte-americano". O venezuelano exigiu que Trump cesse seu"intervencionismo" em território venezuelano. "Da Venezuela, pedimos e exigimos o fim do intervencionismo ilegal e brutal do governo dos Estados Unidos na Venezuela e na América Latina", disse Maduro diante de uma multidão de apoiadores reunida em Caracas. "Dizemos não ao intervencionismo, não aos planos de desestabilização de mudança de regime. Ao governo dos Estados Unidos, que se dediquem a governar o seu país."
Cientista político da Universidad Simón Bolívar (em Caracas), Jose Vicente Carrasquero Aumaitre disse que a apreensão de petroleiros pode acelerar a queda de Maduro. "Sanções impostas pelos EUA impedem o comércio do petróleo venezuelano. O regime possui um grupo de navios que transportam o petróleo sem identificação, algo considerado ilegal por Washington", lembrou ao Correio. "A consequência disso será a diminuição de receita do regime. Será menos dinheiro para manejar o programa de distribuição de benefícios do regime."
O regime de Maduro está sob pressão desde que Washington lançou uma série de bombardeios a lanchas suspeitas de pertencerem ao narcotráfico venezuelano, no Mar do Sul do Caribe. Os ataques aéreos deixaram 87 mortos e destruíram 23 embarcações. Em uma dessas ofensivas, dois sobreviventes foram mortos depois de um segundo bombardeio, enquanto se agarravam à lancha.
Ausente de cerimônia do Nobel, María Corina viaja em segredo para a Noruega
No centro do palco instalado na sede da Prefeitura de Oslo, à direita do púlpito, uma imensa foto de María Corina Machado, a principal homenageada — e a maior ausência — da noite. Horas depois de ter sido representada pela filha, Ana Corina Sosa, que recebeu o diploma e a medalha do Prêmio Nobel da Paz, a líder opositora venezuelana escreveu em seu perfil no Instagram: "Esta é a história de um povo e de sua longa marcha rumo à liberdade". "Que honra escutar meu discurso de aceitação do Nobel da Paz na voz de minha filha — e saber que, muito em breve, serei capaz de abraçá-la e à minha família novamente", acrescentou.
Há um ano na clandestinidade, María Corina deixou a Venezuela, na última terça-feira (9/12), e viajou em segredo, a bordo de um bote, até Curaçao, revelou o jornal The Wall Street Journal. A jornada pelo mar foi tensa, em meio a águas revoltas. De lá, ela embarcaria em um avião para a Noruega, onde chegaria à capital na noite desta quarta-feira.
Diretor do Comitê Nobel Norueguês, Jorgen Watne Frydnes fez uma advertência ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. "Você deveria aceitar o resultado das eleições e renunciar.Estabeleça as bases para uma transição pacíficarumo à democracia, pois essaé a vontade do povo venezuelano", declarou, em seu pronunciamento durante a entrega do Nobel da Paz. Na plateia, estavam Corina Parisca de Machado, mãe de María Corina; os presidentes Javier Milei (Argentina), Jose Raul Mulino (Panamá) e Santiago Pena (Paraguai); além do rei norueguês, Carl Gustaf.
"Voltará a respirar"
No discurso lido pela filha, María Corina Machado avisou que a Venezuela voltará a respirar. "Ao longo dessa marcha à liberdade, conquistamos profundas certezas da alma — verdades que deram um significado mais profundo às nossas vidas e nos prepararam para construir um futuro grandioso em paz. Portanto, a paz é, em última análise, um ato de amor. Esse amor colocou nosso futuro em movimento. A Venezuela voltará a respirar", prometeu. A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, ironizou a solenidade de entrega do Nobel. "Aquilo parecia um velório, era um velório, um fracasso, fracasso total. O show fracassou, e a senhora não apareceu."
Integrante da equipe de María Corina, a consultora política e advogada Xiomara Sierra — hoje exilada na Espanha — considera "indescritível" a sensação de testemunhar a entrega do Nobel da Paz para a líder opositora. "Durante mais de duas décadas, temos lutado contra os regimes de Hugo Chávez e de Maduro. Tenho a acompanhado por mais de dez anos. Estamos muito orgulhosos. Aqui, em Oslo, venezuelanos exilados em várias partes do mundo vieram nos abraçar", contou ao Correio, por telefone. "Em poucas horas, veremos María Corina aqui, em Oslo. Ela receberá o carinho das pessoas, para retornar à Venezuela recarregada de esperança e de força para a libertação."
Sob condição de anonimato, uma venezuelana que trabalhou por três anos com María Corina, depois da graduação em sociologia pela Universidad Católica Andrés Bello, comparou o Nobel da Paz a "uma jornada muito emocionante". "É o sentimento generalizado dos venezuelanos que estão dentro do país e os do exílio. Muitas pessoas ficaram comovidas e choraram, ante as palavras do diretor do Comitê Nobel Norueguês e de Ana Corina", disse ao Correio. De acordo com a ex-funcionária, seria ingenuidade pensar que o Nobel da Paz representará uma mudança imediata. "No entanto, vejo uma reorganização do tabuleiro político na Venezuela. O Nobel move três peças que podem produzir transformações reais: o apoio moral, o apoio narrativo e o apoio diplomático."
Ela explicou que os venezuelanos foram despojados de direitos. "Não se trata de um conflito interno, mas da violação dos direitos humanos, que afeta a América Latina. Isso deveria obrigar os atores internacionais a se posicionarem", advertiu a ex-funcionária. (RC)
