OPINIÃO

Visto, lido e ouvido — Maturidade e eleição

Circe Cunha
postado em 20/11/2021 06:00

Com a maturidade forçada pela ação inexorável do tempo, vem a necessidade natural de reflexão sobre os fatos da vida, passado, presente e futuro. Então, chega o momento em que é necessário pensar em tudo, até para dar qualquer passo adiante. Deveria, para nosso próprio proveito, ser assim também com relação às eleições e, principalmente, com os eleitores. A reflexão do eleitor sobre aqueles que se apresentam para disputar cargos é fator de bem-aventurança para o país e sua sociedade. A qualidade do eleitor, sob os mais variados aspectos da formação humana, tem peso direto na qualidade daqueles que sagrar-se-ão vencedores nas eleições. Do mesmo modo, mas, em sentido contrário, a baixa qualificação dos eleitores produz reflexos, também, nos resultados das eleições, ajudando candidatos que, por sua atuação pretérita, nem deveriam estar listados entre os postulantes.

Com isso, fica patente entre nós que a perpetuação de candidatos reconhecidamente indiferentes às leis e à ética e que desses requisitos fazem troça, têm sua origem na pouca qualificação do eleitor brasileiro. Dessa forma, não é de se estranhar quando, terminada as eleições, o resultado acaba mostrando que, assim como são os eleitores, são os novos titulares de cargos eletivos.

Um é a cara do outro. O fenômeno da corrupção, tão arraigado entre nós, aproveita desses desvãos encontrados em nossa legislação eleitoral para assegurar sua sobrevida, além, é claro das ações que serão perpetradas por esses mesmos novos eleitos, modificando as leis vigentes, tornando-as ainda mais frouxas e lenientes, reduzindo e restringindo as penalidades e criando uma série de novas exigências para a Justiça cumprir seu papel.

A confecção de leis para desarmar as penalidades contra a corrupção é também obra do eleitor pouco qualificado. Em suma, é o eleitor o responsável por eleger aqueles que, lá na frente, farão de tudo para tornar os Poderes da República em valhacouto de maus cidadãos. Trata-se de um tema que, embora delicado e constantemente acusado de elitista, precisa ser debatido a fundo, sob pena de termos que repetir, ad infinitum, erros que custam o futuro de toda uma nação.

A questão de como fazer de cada cidadão um eleitor consciente de sua importância para toda a sociedade é básica e vital. É na brecha também facilitada por eleitores sem compromisso com a cidadania, que o crime organizado tem empurrado, cada vez mais, seus candidatos para dentro da máquina do Estado, numa infiltração daninha e que custará muito a todos os brasileiros.

É justamente por não poder exigir princípios minimamente éticos dos eleitores na hora de votar, que estamos onde estamos. É também por saber que as leis vigentes nada podem fazer contra poderosos, imantados com foro de prerrogativa e outras defesas supremas, que vamos, a cada eleição, recolocando em seus devidos postos aqueles que, num país ideal, deveriam estar por detrás das grades, pagando, um a um, por seus ilícitos.

Os poucos eleitores que ainda se submetem a uma reflexão sincera sobre a atual conjuntura, sabem que as possibilidades reais de virem a passar o país a limpo em 2022, são escassas, se não dificílimas.

Refletir, portanto, sobre as próximas eleições é um exercício e uma tarefa que somente os muito otimistas estão dispostos a se submeterem. Nada mudará no plano político e institucional, enquanto o cidadão e eleitor não mudar, adquirindo maturidade para saber que é ele o responsável por tudo o que está aí e que nos infelicita a todos, faz tempo.

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