Editorial

Visão do Correio: Mais inflação, menos renda

Correio Braziliense
postado em 11/05/2022 06:00

A disparada dos preços está escancarada no dia a dia dos brasileiros que vão aos supermercados, abastecem seus veículos ou utilizam outros serviços cujos valores acompanham os índices de inflação. Mas essa escalada de produtos e serviços nem sempre é percebida da mesma forma pela parcela da sociedade com padrão de renda mais alto. Esse processo que devora o rendimento dos trabalhadores fica amplamente visto quando estudos revelam o efeito negativo da inflação sobre os salários. É o que ocorre exatamente com a divulgação do relatório semanal da corretora Tullet Prebon Brasil referente ao início de maio. O estudo aponta que, pela primeira vez, o valor do salário mínimo terá perda real, descontada a inflação, durante um mandato presidencial.

Desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o presidente Jair Bolsonaro será o primeiro a encerrar o mandato com queda real do valor do salário mínimo, considerando a inflação prevista para este ano pelo mercado financeiro, de 7,89%. Mais do que imaginar que essa informação possa ter uso político em ano de eleições, é preciso ver o impacto da inflação sobre a economia brasileira e afirmar, com cada vez mais certeza, que é preciso combater esse mal por meio de medidas concretas e que efetivamente permitam que a população seja aliviada dos efeitos da guerra na Ucrânia, de uma nova onda de covid-19 na China ou do que mais possa ser usado como desculpa pela equipe econômica para explicar a alta inflacionária.

É preciso ressaltar que o salário mínimo é a fonte de renda de 74% dos aposentados do INSS, o que representa um universo de pouco mais de 19 milhões do total de 26,2 milhões de beneficiários. E, no universo dos que ainda estão empregados, mais de 30 milhões de brasileiros recebem até R$ 1.212. Toda essa população está empobrecendo ao ver o rendimento do trabalho sendo corroído pela inflação. O dólar oscilando com tendência de ficar acima de R$ 5 e tendo aumento de 12% em um mês e a continuidade do reajuste de combustíveis — ontem, o diesel subiu quase 9%, o que encarece os fretes — agravam ainda mais a pressão sobre os preços de itens de consumo.

Não é preciso lembrar que a criação do salário mínimo, no início do século passado, visou exatamente garantir o básico para sobrevivência do trabalhador e que, pelas contas do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o menor valor a ser pago hoje no Brasil, para garantir ao trabalhador e sua família o sustento, deveria ser de R$ 6.394,76. Parece óbvio que não se espera uma valorização imediata do salário mínimo, porque esse processo impactaria as contas da Previdência Social e a maioria das prefeituras de municípios menores, mas sim medidas que garantam o poder aquisitivo da renda de milhões de brasileiros.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem se esmerado em encontrar justificativas para a escalada inflacionária, afirmando que a mesma ocorre porque o país enfrenta o efeito de duas guerras, a primeira contra a covid-19, que impactou as cadeias de suprimento mundo afora e espalhou aumentos de preços pelo globo, e a segunda com a invasão da Rússia à Ucrânia encarecendo petróleo e commodities agrícolas. Ocorre que essas explicações não enchem a barriga de quem vai ao supermercado ou à feira e compra cada vez menos.

Seja com a redução de impostos para importação de itens da cesta básica com a efetiva importação desses produtos para formar estoques internos e possibilitar a redução dos preços, seja encontrando fórmulas para atender à necessidade da Petrobras de reajustar os preços sem que haja repasse de forma imediata à população, o governo precisa agir. Mais inflação até o fim do ano vai representar perda maior no poder aquisitivo do salário mínimo.

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