NOVO GOVERNO

Análise: Bolsonaro desistiu de governar? Se sim, Lula está on

A 44 dias da troca efetiva de comando no país, estamos diante de uma situação inédita desde a redemocratização. O dono da caneta desapareceu, está enfurnado dentro do Palácio da Alvorada por causa de um processo infeccioso em uma das pernas, enquanto o presidente eleito, fora do Brasil, recebe todos as atenções da mídia, principalmente a internacional

Roberto Fonseca
postado em 18/11/2022 06:00
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

É no mínimo curioso o momento em que vivemos no Brasil. A 44 dias da troca efetiva de comando no país, estamos diante de uma situação inédita desde a redemocratização. O dono da caneta desapareceu, está no Palácio da Alvorada por causa de um processo infeccioso em uma das pernas, enquanto o presidente eleito, fora do Brasil, recebe todos as atenções da mídia, principalmente a internacional.

Acompanhei de perto as transições entre FHC-Lula (2002) e Temer-Bolsonaro (2018), as duas em que o sucessor era de um partido político diferente do antecessor. Em nada se assemelham aos dias atuais. Apesar de os holofotes se voltarem sempre para quem vai assumir a partir de 1º de janeiro, em momento algum, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer deixaram de despachar, de atuar diretamente para que a passagem de bastão ocorresse da forma mais natural possível. Temer, por exemplo, chegou a convidar Jair Bolsonaro para participar da cúpula do G20, realizada naquele ano na Argentina.

Agora, no entanto, tudo está diferente. Bolsonaro desistiu de participar do encontro do G20, em Bali, na Indonésia, e muito menos deu atenção à cúpula do clima, a COP27, no Egito. Já o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, teve sua participação acompanhada com atenção pela comunidade internacional, à espera de uma guinada nas políticas de proteção da Amazônia após quatro anos de enfraquecimento na gestão Bolsonaro. Antes de retornar ao Brasil, o petista cumprirá agenda hoje em Portugal, com encontro com movimentos sociais, também sob olhares da imprensa estrangeira.

E o que esperar das próximas seis semanas? Acredito que o início da Copa do Mundo, daqui a dois dias, dará uma arrefecida no clima de polarização existente no país — algo semelhante a 2014, quando bastou a bola começar a rolar nos gramados brasileiros para o "não vai ter Copa" dar lugar "ao rumo ao hexa". Avalio, inclusive, que as manifestações com viés golpistas em algumas capitais perderão força assim que começar a caminhada do time de Tite nos campos cataris. Somos o país do futebol, acima de tudo.

A transição de governo, por sua vez, continuará a todo vapor. É o que importa. A definição do primeiro escalão do governo Lula, com a escolha de ministros e indicações partidárias, se aproxima. Vai movimentar a Esplanada e sacudir o mercado financeiro, que anda atônito com as declarações do presidente eleito e com as negociações em andamento sobre a PEC no Congresso. Tudo dentro do esperado. É o que deve sempre ocorrer em uma democracia.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação