Visão do Correio

Sexismo e preconceito instigam a violência

Estudo da Fiocruz alerta para as perdas causadas pelas variadas formas de violência que esvaziam o que sempre se denominou como o futuro do país: crianças e jovens

. -  (crédito: KLEBER SALES)
. - (crédito: KLEBER SALES)

Levantamento da Fiocruz divulgado ontem mostra que o sexismo é a motivação mais frequente da violência contra jovens, representando 23,7% das notificações, na faixa de 25 a 29 anos. A explosão de casos de crimes do tipo, sobretudo nas redes sociais, ilustra o quanto esse fenômeno explode no país e exige maneiras de enfrentamento mais eficazes. 

Tanto proporcionalmente quanto na taxa de incidência, em todas as unidades da Federação, as maiores vítimas são as mulheres. A covardia masculina, amparada em uma suposta supremacia de gênero, tem elevado o número de vítimas do machismo, principalmente entre as mais jovens, com 15 a 19 anos. Nessa faixa etária, os maiores registros de um caso a cada 100 habitantes são do Distrito Federal e do Espírito Santo — com, respectivamente,  1.022 e 933 registros de agressão entre 2022 e 2023. 

De acordo com o estudo da Fiocruz, intitulado 1º Informe epidemiológico sobre a situação da saúde da juventude brasileira: violências e acidentes, a principal agressão sofrida pelos jovens é a física (47%). Na sequência, vem a violência psicológica ou moral (15,6%) e, por último, a sexual (7,2%). Os dados levantados têm como referências registros do SUS e do IBGE.

O levantamento traça também um panorama da morte de jovens. E, novamente, as mulheres são as principais vítimas. Os desfechos fatais são provocados por armas de fogo e objetos penetrantes e cortantes, além de enforcamento, estrangulamento e sufocação. Desses assassinatos, 34,5% se dão dentro de casa, como a da jovem Pâmella Maria Rocha Rangel, de 21 anos, morta pelo namorado com uma facada no peito, no último domingo, em Brazlândia. Ao contrário, a maioria dos jovens do sexo masculino (57,6%) perdem a vida nas ruas. 

A principal causa de morte violenta na juventude, independentemente do gênero, é por armas de fogo. As facilidades de acesso a armas e munições têm relação estreita com o aumento da mortalidade por meio artefato bélico. Os acidentes de veículos automotores também acumulam números expressivos, entre 84% das vítimas, 53% ocorreram com motocicletas. 

O racismo é evidenciados nos dados apresentados pela Fiocruz: jovens negros e pardos representam 54,1% das vítimas notificadas. A cada 100 mil habitantes pretos, 227,5  são mortos por causas externas. A taxa representa 22% a mais do que média do conjunto geral da população jovem (185,5) e é superior a 90% da taxa de mortalidade considerando apenas  homens brancos e amarelos. Essa diferença é mais expressiva entre aqueles com 15 a 19 anos, em que a taxa de mortalidade de negros por causas externa chega a 161,8 óbitos a cada 100 mil habitantes e 160,7 para os indígenas — quase o dobro da taxa de mortalidade de brancos (78,3) e amarelos (80,8). 

A escalada da violência não poupa os jovens com deficiência. O registro desses casos totalizou 20,5% das notificações do SUS no período. A maioria das vítimas tinha transtorno mental, comportamental e deficiência intelectual. Para o coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, "é preciso seguir apontando os dados alarmantes e, mais que isso, afetar as causas que têm a ver como a sociedade vê os jovens e a ausência de políticas públicas que garantam a proteção dessa população".

O estudo da Fiocruz vai além da exibição de um cenário reprovável que exige políticas públicas mais efetivas e que garantam segurança a todos os segmentos da sociedade, independentemente de gênero, raça, cor, condição socioeconômica. Ele alerta para as perdas causadas pelas variadas formas de violência que esvaziam o que sempre se denominou como o futuro do país: crianças e jovens. Impõe uma revisão das estratégias do poder público para conter violência desmedida que contamina a sociedade.

 

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Por Opinião
postado em 26/08/2025 06:00
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