
GUSTAVO MENON, coordenador no curso de Relações Internacionais na UCB e docente no Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina na Universidade de São Paulo – Prolam/USP
O Prêmio Nobel da Paz de 2025 foi concedido à golpista María Corina Machado, líder da oposição venezuelana. Conhecida por sua postura firme contra o regime autoritário de Nicolás Maduro, Corina Machado defendeu repetidamente a estratégia de pressão máxima dos Estados Unidos, incluindo sanções econômicas severas para forçar a saída de Maduro, chegando a apoiar publicamente uma intervenção militar cirúrgica para a destituição do governo atual, argumentando que não haveria outra saída além do uso da força.
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Machado mantém fortes ligações com setores ultraconservadores e republicanos dos EUA, especialmente com o secretário de Estado, Marco Rubio, reforçando a necessidade de aliança com Washington para garantir a influência norte-americana na região. Essa postura pró-intervenção faz parte de uma agenda que busca a derrubada do regime chavista a qualquer custo, inclusive, com o uso de força externa. Cabe ressaltar que Corina Machado defendeu as guarimbas, os protestos violentos que ocorreram na Venezuela, principalmente em 2014 e 2017. Essas manifestações incluíam barricadas, confrontos com as forças de segurança e atos de vandalismo, resultando em mortes e inúmeros feridos — tanto da oposição, bem como representantes das alas governistas.
O Comitê Norueguês do Nobel premiou María Corina Machado pelo seu "trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos" na terra de Simón Bolívar, destacando sua liderança, articulação e atuação na oposição e na unificação dos supostos "movimentos democráticos". A premiação, no entanto, ignora seu histórico de apoio a táticas radicais, traço da extrema-direita na contemporaneidade.
Corina Machado perdeu seus direitos políticos no país em 2014, devido a uma decisão da Assembleia Nacional, controlada pelo chavismo, que foi respaldada pelo Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). Ela teve seu mandato cassado por aceitar o cargo de representante alternativa do Panamá junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), o que foi considerado incompatível com sua função legislativa na Assembleia Nacional, conforme previsto nos artigos 191 e 197 da Constituição Bolivariana da Venezuela de 1999.
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Esses artigos determinam que deputados não podem aceitar ou exercer cargos públicos sem perda do mandato, exceto em atividades docentes, acadêmicas, acidentais ou assistenciais, e que devem cumprir suas funções com dedicação exclusiva. A decisão do TSJ confirmou que, ao assumir um cargo diplomático, María Corina Machado perdeu automaticamente seu mandato de deputada. De toda forma, ao perder imunidade parlamentar, Machado passou a ser investigada por acusações relacionadas a supostos atos contra o governo, em um processo considerado por muitos como uma retaliação política. A eleição de 2024, onde não se sabe ainda os resultados da votação, permanece em aberto.
A crise na Venezuela parece ganhar um novo capítulo diante da ofensiva dos EUA no Caribe, que desloca navios de guerra e tenta retomar seu "Mare Nostrum". Com as tentativas de Donald Trump de se reposicionar diante das tensões geopolíticas globais, como a Guerra na Eurásia e os conflitos no Oriente Médio, a América Latina volta a ser foco e prioridade da política externa estadunidense.
Vale lembrar que os Estados Unidos oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão de Nicolás Maduro, acusado de liderar um cartel de narcotráfico e estar envolvido em conspirações com narcoterrorismo, tráfico de drogas e uso de armas em apoio a crimes relacionados ao tráfico — trata-se da maior recompensa já oferecida pelo país, superando até mesmo a do terrorista Osama Bin Laden.
O Nobel concedido a María Corina Machado pode aumentar ainda mais as tensões na região do Caribe e colocar em xeque anos de diplomacia brasileira no subcontinente sul-americano, que é uma das poucas regiões livres de ação bélica entre Estados no planeta. O combate ao narcotráfico não pode ser usado como pretexto para ações e intervenções de forças externas na América do Sul.
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Para o Brasil, acende-se um sinal de alerta, pois, na Venezuela, diante da crise autoritária — Maduro segue com sua escalada militarizante se associando à Rússia, Irã e China em um nítido processo de degeneração do chavismo —, da espiral de conflito e do não reconhecimento das eleições, há uma crescente atuação de forças extraregionais. Por fim, diante da erosão da democracia na Venezuela, permanece um cenário de incertezas no qual a iminência do golpe defendido por Corina, com seus desdobramentos imprevisíveis, está se articulando a passos largos.
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