
A escolha de María Corina Machado como vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025 é um marco político e moral de proporções continentais. Representa o reconhecimento internacional da resistência contra o autoritarismo de Nicolás Maduro e, ao mesmo tempo, um constrangimento direto ao governo brasileiro, que se manteve em posição ambígua diante da tragédia venezuelana.
- Leia também: Prêmio Nobel do cessar-fogo?
Ao premiar uma líder da oposição banida, perseguida e forçada à clandestinidade, o Comitê Norueguês expôs as contradições das democracias latino-americanas e deixa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva numa saia-justa. Para além de possíveis desdobramentos regionais, há ainda o temor de que a premiação fortaleça a postura agressiva do secretário de Estado americano, Marco Rubio, em relação à política externa dos EUA justamente em um momento de reaproximação entre Estados Unidos e Brasil. Rubio defendeu que Corina fosse laureada em carta enviada ao Comitê Norueguês em agosto do ano passado.
O Nobel da Paz para a venezuelana é uma sentença ética contra um regime que destrói instituições, manipula eleições e reprime a dissidência há mais de uma década. María Corina encarna a esperança de um povo reduzido à fome, ao exílio e ao medo. Sua coragem civil, reconhecida pelo comitê como "chama da democracia em meio à escuridão", ilumina a falência moral do chavismo.
- Leia também: Paz que seja paz
Seu discurso ao dedicar o Nobel "ao povo sofredor da Venezuela e ao presidente Donald Trump", revela também a natureza complexa da oposição venezuelana — liberal nos valores, mas dependente do poder norte-americano. É um gesto que desperta controvérsias e mostra a complexidade da realidade de um país abandonado pelos vizinhos. Enquanto Corina se apoia em Washington, Lula mantém excesso de pragmatismo em relação à Venezuela.
A diplomacia brasileira, ao evitar críticas abertas a Maduro e ao minimizar os sucessivos atropelos eleitorais, está diante de mais um dilema. O Itamaraty, defensor dos direitos humanos, não pode ser avalista de uma ditadura que destruiu a economia e expulsou milhões de cidadãos. O Brasil poderia ter liderado um movimento regional pela restauração da democracia venezuelana, mas optou por se calar, embora tenha colaborado com a oposição em momentos críticos para a vida dos opositores.
- Leia também: A paz vai parar a matança em Gaza?
O Nobel não é apenas uma homenagem a Corina Machado. É um espelho diante de Lula, entre o princípio democrático e a lógica das suas alianças geopolíticas. É, em última instância, um chamado à coerência: ou se está com a democracia, ou com seus algozes.
Esse meio do caminho é exatamente o lugar que a história não perdoa. A venezuelana é uma das principais opositoras do presidente Nicolás Maduro e foi reconhecida como um dos "exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina".
Opinião
Opinião
Opinião