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Diplomacia feminista: aceleremos a mobilização

No ritmo atual, segundo a ONU Mulheres, seriam necessários cerca de 300 anos para alcançar a igualdade real no mundo

'A França fez da defesa dos direitos das mulheres e das meninas e da igualdade de gênero uma questão estratégica e geopolítica para construir sociedades justas, inclusivas, pacíficas e sustentáveis' -  (crédito: Maurenilson Freire)
'A França fez da defesa dos direitos das mulheres e das meninas e da igualdade de gênero uma questão estratégica e geopolítica para construir sociedades justas, inclusivas, pacíficas e sustentáveis' - (crédito: Maurenilson Freire)

Por EMMANUEL LENAIN, embaixador da França no Brasil

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Como nos unir, agir e resistir juntos em defesa dos direitos das mulheres, das meninas e da igualdade de gênero? Essa é a questão central da 4ª Conferência Ministerial das Diplomacias Feministas, que a França acolhe nos dias 22 e 23 de outubro de 2025. Esta conferência reúne ministros das Relações Exteriores de todas as regiões do mundo, representantes de organizações internacionais, bancos públicos de desenvolvimento, bem como da sociedade civil, da academia e de fundações filantrópicas.

A França fez da defesa dos direitos das mulheres e das meninas e da igualdade de gênero uma questão estratégica e geopolítica para construir sociedades justas, inclusivas, pacíficas e sustentáveis. Pesquisas demonstram que a participação das mulheres nos processos de negociação aumenta em 35% a probabilidade de um processo ser sustentável. Da mesma forma, políticas que integram plenamente a igualdade de gênero permitem combater de forma mais eficaz o aquecimento global, estimular o crescimento e reforçar a resiliênciade nossas sociedades.

Enquanto as desigualdades de gênero persistem, ainda há muito a ser feito — No ritmo atual, segundo a ONU Mulheres, seriam necessários cerca de 300 anos para alcançar a igualdade real no mundo.

A violência sexual relacionada a conflitos aumentou 50% entre 2022 e 2023. Em muitos países, milhões de mulheres são privadas do direito fundamental de dispor de seu corpo: 193 milhões de mulheres só têm acesso ao aborto quando sua vida está em perigo e 142 milhões não têm acesso em nenhuma circunstância. Em todos os lugares onde as crises abalam o tecido social, no Afeganistão, no Irã, em Gaza, na Ucrânia, no Sudão, são os direitos das mulheres os primeiros a serem atingidos.

A França e seus parceiros já atuam em favor dos direitos das mulheres e das meninas — Desde2019, a França promove uma diplomacia feminista, estabelecendo a igualdade de gênero e os direitos das mulheres como prioridade transversal de sua ação externa: paz e segurança, desenvolvimento, governança democrática, ação humanitária, entre outros. Longe de ser um discurso meramente retórico, essa diplomacia feminista se concretiza em políticas públicas concretas e parcerias sólidas.

Em 7 de março de 2025, a França apresentou sua Estratégia Internacional para uma Diplomacia Feminista. Uma estratégia de cinco anos com cinco pilares e compromissos concretos. A defesa dos direitos e da saúde sexual e reprodutiva é intensificada. Novas prioridades são estabelecidas, colocando a igualdade de gênero no centro da resposta da França aos desafios contemporâneos: crises econflitos, mudanças climáticas, saúde, finanças internacionais,tecnologia digital e inteligência artificial.

A diplomacia feminista da França implementa iniciativas emblemáticas. É o caso do Fundo de Apoio às Organizações Feministas (FSOF), lançado em 2020 em benefício de mais de 1.400 organizações em 75 países. Outro exemplo é o laboratório para os direitos das mulheres on-line, criado em 2024. Trata-se da primeira plataforma internacional de intercâmbio e incubação de projetos contra aviolência de gênero no ambiente digital.

Uma conferência de alto nível para reafirmar nossa determinação e ambição coletiva — Num  contexto internacional marcado por uma redução significativa do financiamento dedicado e pelo aumento da força dos movimentos antidireitos, a 4ª Conferência Ministerial das Diplomacias Feministas reafirma a nossa determinação comum em defender e promover os direitos das mulheres e a igualdade de gênero, sem aceitar qualquer retrocesso. Acreditamos que essa é uma causa de todas e de todos. Nas primeiras edições da Conferência — na Alemanha, em 2022, nos Países Baixos, em 2023 e no México, em 2024 —, divulgamos e reforçamos o conceito de diplomacia feminista, incentivando outros Estados a adotá-lo. Agora, vamos mais longe. É um orgulho para a França contar com a participação do Brasil nesta conferência. É uma oportunidade para avançar em pautas comuns pela defesa da igualdade de gênero, dos direitos das mulheres e das meninas e dos diretos e da saúde sexual e reprodutiva. Juntos, juntas, continuaremos a agir. 

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Por Opinião
postado em 23/10/2025 06:01 / atualizado em 23/10/2025 17:45
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