ARTIGO

Carta ao chanceler Merz

Qquando se é convidado a visitar a casa de alguém, o mínimo que se espera do visitante é que tenha bons modos. Educação é a base de qualquer relacionamento na sociedade

Chanceler da Alemanha,  Friedrich Merz -  (crédito: Reprodução/Youtube ANI News)
Chanceler da Alemanha, Friedrich Merz - (crédito: Reprodução/Youtube ANI News)

Sehr geehrter Bundeskanzler Friedrich Merz (Prezado Chanceler Friedrich Merz), quando se é convidado a visitar a casa de alguém, o mínimo que se espera do visitante é que tenha bons modos. Educação é a base de qualquer relacionamento na sociedade. Ficamos felizes pelo senhor deixar Belém e o solo brasileiro. Sua declaração sobre a capital do Pará foi tão infeliz que denota insensibilidade e, principalmente, preconceito. "Senhoras e senhores, nós vivemos em um dos países mais bonitos do mundo. Perguntei a alguns jornalistas que estiveram comigo no Brasil na semana passada: 'Quem de vocês gostaria de ficar aqui?' Ninguém levantou a mão. Todos ficaram contentes por termos retornado à Alemanha, especialmente daquele lugar onde estávamos", declarou o senhor, em um momento que deve ter feito com que os neonazistas de seu país ficassem orgulhosos de seu gesto.

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Não foi um mero deslize ou um lapso. Foi um ato escrachado de xenofobia. Palavras que transpareceram uma pretensa superioridade inexistente. Mas também mostraram quem o senhor é. O líder da potência mais rica da Europa não deveria se comportar dessa forma. Imagine uma pessoa visitando sua casa e, logo depois de deixá-la, começa a falar mal do senhor, de sua família e de seu lar. Aceitaria essa grosseria? Como chefe de Estado e de governo, o senhor bem que deveria respeitar as convenções diplomáticas. Suas frases acima mais se assemelham a um papo de botequim do que às palavras de um estadista.

Nós (!), senhor chanceler, vivemos em um dos países mais lindos do mundo. Uma nação construída na diversidade, com uma cultura riquíssima e uma história sofrida de exploração e subserviência. Por obra do destino, não pudemos nos alçar à condição de potência econômica. Mas o nosso potencial, senhor chanceler, é gigantesco: em nossa terra, brotam infindáveis riquezas; temos a maior floresta tropical do planeta; nosso povo abre os braços para os estrangeiros, acolhe, abriga, conforta. Li por aí que o senhor cometeu outras "gafes", algumas deles com um tom bem racista. Talvez isso encontre coro em parte da população de seu "lindo país" — abro um parêntese: a imensa maioria dos alemãs não compactua com as ideias e o passado xenofóbico.

Caro senhor chanceler alemão, sugiro que telefone para o presidente da França, Emmanuel Macron. Ele pode ensinar-lhe muito sobre o Brasil. Jamais faltou-lhe o respeito quando visitou nossa terra. Pelo contrário: ele misturou-se ao nosso povo. Antes de representar seus valores, suas convicções e seus preconceitos, o senhor representa uma nação inteira e precisa agir de forma a não trair os interesses dela. 

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postado em 19/11/2025 06:00
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