
O Brasil registrou, em 2024, quase 6,5 milhões de casos de dengue e 5.972 mortes provocadas pela doença, segundo o Ministério da Saúde. Números fora da curva, responsáveis por nova crise de falta de vagas em hospitais e de outros tipos de assistência em saúde poucos anos depois da pandemia da covid-19. Unidades da Federação viram indicadores aumentarem drasticamente — em São Paulo, o número de mortes foi 50 vezes maior do que o registrado em 2023; no DF, houve aumento de 584% de pessoas infectadas — e, junto com eles, a cobrança por novas medidas de prevenção.
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Um anúncio feito ontem pelo governo federal traz respostas nesse sentido. O país terá a primeira vacina contra a dengue em dose única do mundo, fruto da parceria entre o Ministério da Saúde, o Instituto Butantan e o laboratório chinês WuXi Biologics. A Butantan-DV é indicada para a faixa etária de 12 a 59 anos, e deve estar disponível no próximo ano, segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Há 1 milhão de doses prontas para a distribuição, o que amenizaria um novo ciclo agudo da doença esperado para a próxima temporada.
A dengue é transmitida pelo Aedes aegypti, que se prolifera no verão, entre outubro e maio, quando a chuva é mais recorrente, mas é certo que os cuidados com o controle da doença precisam ser tomados durante todo o ano. O mosquito, inimigo perigoso da saúde humana, se reproduz nas poças d'água e em quaisquer outros locais de água parada limpa ou suja, inclusive em lixos descartados incorretamente, nos quais pode haver acúmulo do líquido. Isso ocorre tanto nos espaços públicos, principalmente urbanos, quanto domésticos. Daí a preocupação dos sanitaristas quanto aos cuidados necessários para conter a propagação do mosquito.
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A dengue é responsável por pelo menos 11 complicações e sequelas, como sangramentos, desidratação grave, problemas no fígado e neurológicos, síndrome de Guillain-Barré, complicações cardíacas, respiratórias, renais, pancreatite aguda e destruição das fibras musculares. Um elenco de danos que exige, em alguns casos, internação hospitalar. Diante de tantos efeitos negativos à saúde, a chegada de uma nova frente de prevenção precisa ser comemorada.
Além da produção do Butantan-DV em larga escala, há, porém, o desafio de convencer os ainda resistentes às imunizações a aderir a esse novo pacto coletivo pela saúde. Engrossar o bloco dos antivacinas é expor a própria vida a riscos desnecessários e também os demais. O próprio Butantan fez projeções indicando que não vacinados representaram 75% das mortes por covid-19 nos primeiros 10 meses de 2021. A lógica se repete para os outros imunizantes.
O infectologista André Bon, em recente artigo publicado pelo Correio, faz uma advertência já no título à importância de um enfrentamento à dengue focado na coletividade: A dengue se alimenta do que deixamos de fazer. Quem rejeita a vacina e as orientações dos médicos colabora para aumentar o número de casos e de hospitalizações por casos graves, alerta o médico. "A proteção depende do entorno, do bairro, da cidade. Precisamos abandonar a ideia de que saúde pública é responsabilidade apenas das autoridades sanitárias. Ela é, antes de tudo, responsabilidade pública." Ou seja, ainda que o poder público cumpra o seu dever e reforce as medidas preventivas — com investimentos em pesquisas que geram novos imunizantes, por exemplo —, é o exercício da cidadania que faz a diferença.
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