JOSÉ NATAL, jornalista
Ainda vai levar um tempo, mais hora menos hora, o deputado do PL, Eduardo Bolsonaro vai cair na real, e entender que para ele, ao que parece, deu ruim. "Não deu mix", como prega a garotada antenada nos rolês e outros trinques que a moda exige. Fim da farsa, simples assim. Toda aquela fanfarrice, esnobação e discurso fajuto contra o Brasil e os brasileiros, se não saiu de vez de seu vocabulário colegial, deveria sair.
Eduardo Nantes Bolsonaro, nascido em 10 de julho de 1984, em Resende, estado do Rio de Janeiro, foi muito bem aceito pelos eleitores paulistas em 2015, quando recebeu deles quase dois milhões de votos. Moradores do Ipiranga e da Avenida São João, e de outras tantas vias, viram nele encantos até hoje nunca revelados, opacos. Eleito e empossado, ocupou o Gabinete 785 do adifício Anexo da Câmara, e como manda o regimento, passou a embolsar por mês um salário de R$ 46.365,00, regalias e benefícios, como tinha que ser.
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No exercício do cargo, ocupou a tribuna apenas uma vez para falar a seus pares. Do que disse, nenhuma vírgula se aproveitou, e se apresentou algum projeto social ou de economia para o estado que o elegeu, ninguém se lembra ou registrou. Se fez algo que de alguma forma pudesse ter ajudado o estado que o elegeu, no livro de ocorrências nada foi registrado. Vale lembrar que antes de seu embarque de mala e cuia para os Estados Unidos — que para alguns foi uma fuga — o filho mimado de Jair Messias deixou registros gravados, no mínimo merecedores de especulação. Um deles, desconectado e em desacordo com a história republicana, elogiou a implantação do Ato Institucional número 5 (AI-5), documento macabro que limitou, censurou e deixou marcas tenebrosas durante o regime militar, página infeliz da nossa história. Também foi escolhido por colegas para presidir a Comissão de Relações Exteriores da Câmara, por onde esteve por um curto período.
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Sem função, e cuidando apenas em difamar o nome de autoridades brasileiras em solo americano, Eduardo ganhou de presente o cargo de líder da maioria do partido no parlamento, oferta generosa da colega parlamentar Caroline de Toni, garantindo a ele mais alguns meses de estadia nos Estados Unidos, onde despeja ironias e ofensas a ministros do Supremo Tribunal Federal do nosso país.
Com o cargo de líder, o filho do ex-presidente não só ganhou sobrevida, como se habilitou e se viu encorajado, a inclusive, se auto lançar postulante a uma vaga na disputa eleitoral à presidência da República do Brasil em 2026. Inquieto e provocador, mesmo a distância, o parlamentar atiça polêmicas e discordâncias entre familiares, irrita possíveis partidários e amigos, levando alguns deles a destinar adjetivos que nos obriga a tirar as crianças da sala.
Com o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, de quem fala mal e sente ciúmes, Eduardo por mais de uma vez trocou farpas pela imprensa. Também, com frequência, bate de frente com a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, na visão dele, adversária, quem sabe, em alguma candidatura. Todo esse movimento político de Eduardo Bolsonaro nos últimos meses, sobejamente explorado pela mídia de um modo geral, caminha para dar a ele um desconfortável ostracismo, com danos irreparáveis para quem um dia sonhou com um podium universal, consagrador.
Mesmo ainda em fase de negociações, Brasil e Estados, leia-se Lula e Trump, afinam suas violas e cada um busca atender os interesses de seus países, por meio de reuniões equilibradas e tecnicamente planejadas. Ou seja, o terrorismo amador que Eduardo tentou espalhar junto às duas entidades deu em nada. Como deve dar em nada seus planos para desestabilizar entidades preocupadas com o bem comum da sociedade.
Difícil acreditar como um político, com amplas condições de progresso na carreira, faz escolhas tão atabalhoadas. Culturalmente preparado, deveria valorizar o acolhimento que, mesmo sem merecer, sempre recebeu. À luz da razão, somente ele não percebeu, até agora, que está fazendo palestras para auditórios vazios, acumulando discórdias entre os seus e, principalmente, mostrando-se arredio a qualquer gesto que conduza a união de forças que o tenha como estrela principal. Tem idade para uma retomada de posição e, como o tempo é o senhor da razão, a porta de juízo não tem cadeado.
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