Crônica

Pela vida das mulheres

O grito na garganta vai sair forte na data de hoje e ecoar por todo o Brasil. Mas será necessário um longo caminho para desconstruir a misoginia, o machismo e a naturalização da violência contra mulher

O protesto vem em resposta a uma intensificação de crimes e violações contra mulheres em todo o país. -  (crédito: Torrans Mayorquin/Pexels)
O protesto vem em resposta a uma intensificação de crimes e violações contra mulheres em todo o país. - (crédito: Torrans Mayorquin/Pexels)

Nesta manhã de domingo, enquanto você lê este artigo, eu espero que as ruas estejam tomadas por mulheres e por todas as pessoas que amam mulheres. Em todo o Brasil, ao longo da última semana, houve convocação para um grande ato nacional contra feminicídios, o Levante Mulheres Vivas. Aqui em Brasília, ocorre a partir das 10h, na Torre de TV. O protesto vem em resposta a uma intensificação de crimes e violações contra mulheres em todo o país. Algumas cenas e casos chocaram ainda mais que os números absurdos que não dão conta de explicar tamanha violência.

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Em Brasília, uma militar que atuava como musicista foi encontrada com um corte no pescoço e carbonizada na última sexta-feira, nas dependências do 1° Regimento de Cavalaria de Guarda (1° RGG) do Exército. Tinha 25 anos. O suspeito é um soldado, e o caso é investigado como feminicídio.

Uma mulher atropelada e arrastada por mais de um quilômetro em plena Marginal Tietê, em São Paulo. Uma mulher baleada dentro da pastelaria onde trabalhava, também em São Paulo, pelo ex. Uma jovem de apenas 17 anos assassinada com cinco tiros pelo ex-namorado no Rio. Também no Rio, duas servidoras mortas a tiros por um sujeito que não aceitava ser chefiado por mulheres. No Recife, uma mulher e seus quatro filhos morreram queimados em um incêndio provocado em casa pelo próprio marido e pai. 

Maria de Lourdes, Taynara, Evelin, Isabely, Adrielle, Allane Pedrotti, Layse… São tantos nomes, histórias, famílias vivendo uma realidade sombria: a morte ou a insuportável dor das sequelas físicas e emocionais daquelas que sobrevivem; o luto, a revolta e a desesperança no mundo. As estatísticas são aterradoras: em 2024, o Brasil registrou 1.450 feminicídios; quatro mulheres assassinadas por dia por serem mulheres; 3,7 milhões sofreram violência doméstica ou familiar. Atenção para este dado: em quase 40% dos casos, havia alguém presente, e ninguém ajudou. 

Estatísticas do Ministério da Justiça e Segurança Pública mostram ainda que 2.763 mulheres foram vítimas de tentativa de feminicídio de janeiro a setembro deste ano. No mesmo período, 1.075 mulheres foram assassinadas apenas por serem mulheres no Brasil. A violência contra a mulher está aumentando.

Mulheres fazem apelos, ensinam, denunciam, levantam bandeiras, escondem-se, fogem, tentam de todo jeito escapar da violência, mas os homens bárbaros, covardes, nojentos e assassinos as encontram: na rua, no transporte público, no trabalho, principalmente em casa. Estamos cansadas, amedrontadas e angustiadas. Temos leis. Temos mecanismos de proteção, que poderiam funcionar muito melhor. 

Mas temos uma cultura perversa, arraigada e contínua que não vai mudar sem punição exemplar, sem políticas públicas efetivas e, principalmente, sem educação. É urgente frear a violência digital, que está moldando comportamentos ainda mais perigosos e fortalecendo o machismo em um ambiente não regulamentado e perigosíssimo para crianças e adolescentes.

O grito na garganta vai sair forte na data de hoje e ecoar por todo o Brasil. Mas será necessário um longo caminho para desconstruir a misoginia, o machismo e a naturalização da violência contra mulher. Não se faz isso sem um compromisso social profundo, inclusive dos homens de bem. 

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postado em 07/12/2025 06:00
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