Despedimo-nos de novembro, o mês da Consciência Negra, em homenagem a Zumbi dos Palmares, morto em 1695. Mas foram 30 dias que ficarão na história, marcados por episódios conturbados e, ao mesmo tempo, de aprendizado e fortes emoções. A despedida foi gloriosa com a segunda Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver — 10 anos depois da primeira. Mais de 300 mil mulheres de pele preta, entre elas pessoas brancas antirracistas, tomaram conta das vias centrais de Brasília.
Vindas de todos os estados e até do exterior, elas trouxeram aos Poderes da República e à sociedade desafios à construção de um novo modelo civilizatório. Passados cinco séculos da descoberta do Brasil, o país não conseguiu erradicar o racismo, a escravidão e as injustas e desumanas desigualdades sociais e econômicas.
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No Manifesto das "Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver", elas deixam claro que as "medidas reparatórias devem ser adotadas com investimentos não só em políticas públicas efetivas que reconheçam o processo histórico de violação de direitos, mas também a partir da garantia do protagonismo e autonomia das mulheres negras e gestão de ações diversas, inovadoras e radicais".
Destacaram que na discussão pelo Congresso Nacional do Projeto de Emenda Constitucional nº 27/2024 para o Fundo Nacional de Reparação Econômica e de Promoção da Igualdade Racial "é imprescindível que haja estudos mais aprofundados para aproximar do real montante da dívida histórica no campo financeiro, patrimonial e cultural que o Brasil tem com a população negra". E destacaram que, sem reparação, não há como bem viver.
Ao longo de novembro, o Correio Braziliense realizou uma série de debates e entrevistas (podcast) com mulheres negras, intitulada "Histórias de Consciência: mulheres em movimento", que podem ser encontradas no YouTube. Promoveu um debate sobre o evento, contando com a participação de mulheres negras que militam contra o racismo, as desigualdades e injustiças sociais que afetam o povo negro, mas também professoras universitárias, da rede pública, empresárias e parlamentares.
Tivemos a COP30, a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. Entre os dias 10 e 21, as atenções estavam voltadas para Belém do Pará, que recebeu representantes de 170 países, além de líderes dos povos indígenas e quilombolas. Como esperado, a reunião não atingiu o objetivo maior que seria o de avançar na eliminação dos combustíveis fósseis, um dos maiores responsáveis pelo aquecimento global. Entre a riqueza material, os representantes dos países, cuja economia está ancorada na exploração do petróleo, priorizaram o financeiro, e não a preservação da vida no planeta.
Não bastasse, sete dias depois da COP30 (21/11), vimos o Congresso Nacional derrubar 56 vetos do governo federal ao projeto da Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei 15.190/25) ou PEC da Devastação. Os parlamentares abriram as porteiras para a degradação dos biomas, às invasões das terras indígenas e dos quilombolas, segmentos da sociedade que reivindicam, há muitos anos, a demarcação de seus territórios.
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Uma decisão que ocorreu depois da tragédia provocada por um tornado, com ventos a velocidade de 250 km/hora, no município de Rio Bonito do Iguaçu. Cerca de 14 mil habitantes foram afetados pelo fenômeno climático que destruiu total ou parcialmente centenas de casas e edificações comerciais, escolas, unidades de saúde, além de provocar cinco mortes.
Impossível não lamentar que as discórdias políticas resultem em contas que são pagas pela sociedade, com prejuízos inimagináveis para as camadas mais desfavorecidas e vítimas do racismo ambiental.
