Nunca fui muito de refletir sobre recomeços, especialmente neste período caótico de fim de ano. Sei que muitos enxergam o fim de dezembro e a chegada de janeiro como uma chance de tentar novas coisas, seguir novos caminhos. Nunca foi meu estilo, mas, agora, questiono se não perdi chances de aproveitar o momento e emplacar novidades na rotina. Venho tentando descobrir: quando será uma boa hora de recomeçar?
Diferentemente do que o senso comum possa indicar, não penso que recomeços só devam ocorrer em situações extremas. Não é só porque existe sofrimento que algo precisa mudar. Recomeços devem ser bem-vindos independentemente da necessidade. O ditado popular que prega "movimento é vida" não se trata apenas de uma rotina fitness, é mais abrangente. Recomeçar e mudar deve ser um exercício de frequência, não de sobrevivência.
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O problema é que essa mentalidade é difícil de ser vivida. Às vezes, o conforto e a manutenção são tão atrativos que não queremos mudar nada. Por muito tempo achei que se tratava de preguiça, mas é um exercício de autopreservação, quase um instinto da humanidade pré-histórica que tinha medo das sombras nas paredes das cavernas.
Por isso a pergunta "quando é hora de recomeçar" se torna tão importante. Ela traz a noção de momento. Mostra se é hora de se mover ou se você está preso na autopreservação. Para responder a essa questão, criei três perguntas que costumam abrir os caminhos da mente e chacoalhar a inércia.
A primeira (e mais importante) é: como anda seu propósito? Entenda se ainda há algo a aprender ou a contribuir naquele ciclo. Se você está apenas "cumprindo tabela" e a curiosidade morreu, o ambiente se tornou pequeno demais para o seu potencial.
Segunda: os valores estão alinhados ou desalinhados? É quando o que você faz no dia a dia agride quem você se tornou. Se para continuar onde está você precisa fingir ser outra pessoa ou ignorar seus princípios éticos, a hora do recomeço já passou. A terceira: uma viagem no tempo valeria a pena? Se você voltasse um ano ou mais na história, ainda escolheria esse caminho? Se a resposta for "não", o sinal está dado.
Pois bem, superadas as dúvidas, se você perceber que realmente é hora de recomeçar, é o momento de agir. No entanto, recomeçar não exige necessariamente uma ruptura abrupta ou um abandono total do passado. Muitas vezes, a grande virada ocorre no ajuste fino da rota, na coragem de desaprender hábitos que já não servem e na disposição de abraçar o desconforto inicial da novidade.
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O medo do novo é um mecanismo de defesa natural, mas a estagnação é um risco silencioso que drena nossa vitalidade a longo prazo. Ao assumir as rédeas da própria trajetória, transformamos o fim de um ciclo não em um luto, mas em um terreno fértil para novas conquistas. A verdadeira sabedoria está em reconhecer que cada novo amanhecer carrega em si a permissão implícita para sermos uma versão mais autêntica e corajosa de nós mesmos.
