CPI da Covid

Fala de Executivo da Pfizer à CPI compromete governo, dizem senadores

Gerente-geral da farmacêutica para a América Latina, Carlos Murillo disse que conversas com o Ministério da Saúde sobre vacinas começaram no primeiro semestre de 2020

Jorge Vasconcellos
postado em 13/05/2021 13:38 / atualizado em 13/05/2021 13:40
 (crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

Com apenas duas horas de depoimento do gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, à CPI da Covid, nesta quinta-feira (13/5), senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito consideram que os relatos do executivo confirmam que o governo desprezou várias ofertas de vacinas contra o novo coronavírus que foram feitas pela farmacêutica desde o primeiro semestre de 2020 — o primeiro contrato entre o Ministério da Saúde e o laboratório só foi assinado em março deste ano.

"Esse depoimento foi, sem dúvida, um dos mais importantes. Deixou absolutamente clara a negligência, o desleixo, a falta de interesse do governo federal, particularmente do Ministério da Saúde, de prover à população brasileira as vacinas necessárias para o enfrentamento da pandemia", disse o senador Humberto Costa (PT-PE), titular da CPI. Ele acrescentou que a farmacêutica se propôs a entregar ao Brasil, ainda em 2020, pelo menos 1,5 milhão de doses da vacina.

"O Brasil começou a vacinar no final de janeiro, com a vacina do Butantan. Em 2020 houve uma proposta de um milhão e meio de doses [da Pfizer]. No primeiro semestre [de 2020], várias propostas que, em alguns casos, chegavam a dois milhões de doses, e o Brasil, só agora, no terceiro trimestre [de 2021], vai ter acesso às vacinas da Pfizer. Além do mais, a demonstração da falta de interesse é tão grande que as exigências feitas pela Pfizer, e que foram feitas para outros países, só foram atendidas, senador Randolfe [Rodrigues, da Rede-AP, vice presidente da CPI], porque o Congresso Nacional, a partir de uma iniciativa de Vossa Excelência, e do presidente [do Senado] Rodrigo Pacheco [DEM-MG] apresentaram um projeto de lei", frisou Humberto Costa.

Segundo o parlamentar, o governo poderia, desde agosto do ano passado, quando as tratativas começaram a ter a forma de uma proposta, ter editado uma medida provisória, sobre compra de vacinas, para que o Congresso Nacional pudesse votar. Para mim, isso é a demonstração cabal da incompetência que esse governo tem para enfrentar a pandemia, e para enfrentar os outros problemas do país. É uma demonstração da insensibilidade, da indiferença que esse governo tem com a população brasileira, com seu povo. Quantos órfãos, hoje, não seriam órfãos, quantos casais não teriam se dissolvido, como se dissolveram, quantos pais não teriam perdidos seus filhos se a condução dessa pandemia tivesse sido algo adequado, compatível com o que foi feito no mundo, em vários outros lugares", afirmou Costa.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), titular da comissão, disse que o depoimento do executivo da Pfizer confirma que a "negligência e a "falta de empatia" do governo com o sofrimento da população. Ele também criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que provocou aglomerações durante viagem oficial a Alagoas nesta quinta-feira.

"As suas respostas nos deram, realmente, com toda clareza, o grau de negligência, de falta de empatia com o sofrimento do povo, com as mortes e com as desgraças familiares que ocorreram e estão ocorrendo neste país. Neste momento mesmo, nós estamos acompanhando aqui que o presidente da República está em Alagoas, fazendo aglomeração sem máscara, no meio de uma grande aglomeração. Isso tudo ficou muito claro", disse o senador cearense.

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