PANDEMIA

CPI da Covid-19 divide senadores em sete frentes de investigação

Divisão ocorreu entre parlamentares de oposição e independentes ao governo. Como adiantado pelo Correio no fim de semana, ideia é que apuração fica segmentada, para que a CPI não deixe assuntos para trás

Sarah Teófilo
postado em 20/07/2021 18:29 / atualizado em 20/07/2021 18:31
 (crédito: Pedro França/Agência Senado)
(crédito: Pedro França/Agência Senado)

Como adiantado pelo Correio no último sábado (17), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 se dividiu em sete frentes de investigação durante o recesso, que dura 15 dias, para acelerar a apuração e não deixar nenhum assunto de lado. Os trabalhos presenciais da comissão, com oitiva de testemunhas, serão retomados em 3 de agosto. A divisão deve permanecer, pois a ideia é que, com o volume de informações que se tem, a apuração seja “dividida” entre os parlamentares, para que no decorrer dos depoimentos, a CPI não acabe deixando assuntos para trás.

A ação foi organizada pelo grupo majoritário da CPI, composto por senadores de oposição ou independentes do governo. Estão na divisão, entretanto, duas senadoras que não fazem parte da comissão como titulares ou suplentes: Eliziane Gama (Cidadania-MA) e Simone Tebet (MDB-MS), ambas muito atuantes nos trabalhos da CPI.

Ficarão com Simone Tebet, por exemplo, as apurações relativas aos hospitais federais do Rio de Janeiro e às Organizações Sociais (OSs) do estado. Este grupo temático também irá envolver os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Eliziane Gama, tendo como base informações levadas pelo governador cassado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que apontou que não teve apoio dessas unidades federais quando solicitou.

Simone Tebet também ficará com a investigação da Covaxin, imunizante contra covid-19 do laboratório indiano Bharat Biotech, representada no Brasil pela Precisa Medicamentos, empresa alvo da CPI. Também ficará com ela na apuração o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). A vacina já era foco de suspeita dos senadores pela celeridade na negociação com a empresa brasileira, enquanto outros imunizantes tiveram demora nas tratativas, como o da Pfizer.

Acrescentou-se a isso o depoimento do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda e seu irmão, o deputado federal Luis Claudio Miranda (DEM-DF). O servidor relatou ter sofrido “pressões atípicas” para agilizar a importação da vacina indiana, apesar de problemas identificados por ele na ‘invoice’ (nota fiscal internacional). O deputado relatou à CPI que eles foram ao presidente Jair Bolsonaro para falar das suspeitas de irregularidades, e que o presidente disse que a questão parecia ser “rolo” do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ficará com a apuração envolvendo negociações com intermediários de vacina. Os senadores têm apontado que o governo privilegiou negociar com intermediários, negociações essas com suspeitas de irregularidades, ao invés de tratar com grandes laboratórios. Um dos exemplos é a empresa americana Davati Medical Supply, que passou a ser investigada pela CPI depois que o cabo da Polícia Militar Luiz Paulo Dominghetti denunciou à comissão que, ao tentar vender vacina ao governo, recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose do ex-diretor de Logística do ministério Roberto Dias.

Ações negacionistas de Bolsonaro

Também haverá um núcleo para apurar ações negacionistas, que ficará com os senadores Rogério Carvalho (PT-SE) e Otto Alencar (PSD-BA). Aqui, a investigação envolve, por exemplo, as críticas do presidente às vacinas e a chamada ‘imunidade de rebanho natural’, que foi defendida por muito tempo pelo presidente Jair Bolsonaro, apesar da tese ser refutada pela comunidade científica. Dentre os motivos de não ser uma ideia acatada pela comunidade está o fato de que uma pessoa pode ser infectada por covid-19 mais de uma vez; além disso, esse tipo de política, de deixar a população se contaminar livremente, pode resultar em muitas mortes pela doença.

Haverá também um grupo temático para analisar a situação relativa à empresa de logística VTCLOG, na mira da comissão. Os senadores apuram suspeitas de que haveria, dentro do Ministério da Saúde, um esquema que realizava pagamentos mensais a parlamentares e servidores da pasta. As investigações ainda carecem de mais elementos, mas o senador Humberto Costa (PT-PE) disse ao Correio, na última segunda-feira: “Há forte suspeita de que há ali um grupo de parlamentares que se beneficia de recursos gerados pela VTCLOG. Todo mês teria um valor. Mas têm que chegar mais informações. Ainda não há elementos suficientes”.

Confira a divisão:
Hospitais federais no Rio de Janeiro e Organizações Sociais (OSs): Humberto Costa (PT-PE), Eliziane Gama (Cidadania-MA) e Simone Tebet (MDB-MS);
– Covaxin: Simone Tebet e Tasso Jereissati;
– Intermediários de vacinas: vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP);
– Fake news: Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Humberto Costa e Rogério Carvalho (PT-SE);
VTCLOG: Eliziane Gama e Alessandro Alessandro Vieira;
– Ações negacionistas: Rogério Carvalho e Otto Alencar (PSD-BA);
– Medicamentos sem comprovação científica (e quem lucrou com a indicação dos remédios): Humberto Costa, Eliziane Gama e Alessandro Vieira.

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