Nas entrelinhas

Análise: Conspiração e desespero na terceira via

Empatados em terceiro lugar, com 7%, estão os pré-candidatos Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT). Outra postulante do apoio da terceira via, a senadora Simone Tebet (MDB) aparece com 1%

Luiz Carlos Azedo
postado em 17/03/2022 03:00
 (crédito: Divulgação/Comunicação do Governo de São Paulo e do Rio Grande do Sul)
(crédito: Divulgação/Comunicação do Governo de São Paulo e do Rio Grande do Sul)

Uma operação de cerco e aniquilamento da pré-candidatura do governador de São Paulo, João Doria, como havíamos antecipado, está em pleno curso. Praticamente todas as lideranças da chamada terceira via se articulam para substituí-lo pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, como o candidato unificado da terceira via. As conversas de bastidores no Congresso incluem, também, os deputados da bancada paulista aliados do vice Rodrigo Garcia.

Derrotado por Doria nas prévias do PSDB, Eduardo Leite acredita que o cavalo está passando arreado para sua candidatura à Presidência, desta vez, para valer. Na primeira oportunidade, quem montou foi o governador paulista, que não está conseguindo bom desempenho na corrida presidencial. Doria empacou nas pesquisas. No levantamento do instituto Quaest/Genial, divulgado, ontem, pela CNN, Doria aparece empatado com o deputado André Janones (Avante), ambos em quinto lugar, com 2% de intenções de votos.

A pesquisa traduziu as dificuldades enfrentadas pelos partidos de centro para construir uma candidatura de terceira via, em razão da polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que aparece com 44% das intenções de voto, e o presidente Jair Bolsonaro (PL), com 26%. Empatados em terceiro lugar, com 7%, estão os pré-candidatos Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT). Outra postulante do apoio da terceira via, a senadora Simone Tebet (MDB) aparece com 1%.

Eduardo Leite está de malas prontas para o PSD, de Gilberto Kassab, com quem discutiu, inclusive, o apoio financeiro da legenda à candidatura presidencial. O ex-prefeito de São Paulo garantiu ao governador gaúcho que as resistências existentes na sigla estão sendo superadas. Para o PSD, uma candidatura própria é vital para o partido, que hoje tem 11 senadores e pode chegar a 50 deputados. Se for bem-sucedida, a legenda estará entre as cinco maiores do país, ao lado de PT, União Brasil, PP e PL. A candidatura própria, ainda mais com um político jovem, de perfil liberal e ideais novas, daria mais identidade ao PSD. Sem uma candidatura com esse perfil, a divisão da sigla será inevitável, com uma ala derivando para o apoio à reeleição de Bolsonaro e outra, capitaneada pelo próprio Kassab, apoiando Lula.

A conversa de Leite com Kassab provocou um corre-corre na terceira via, com o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), desafeto figadal de Doria, mobilizando aliados para segurar o governador gaúcho no PSDB, no pressuposto de que, na sua legenda de origem, teria mais possibilidades de receber apoio de União Brasil, MDB e Cidadania. Dirigentes das três legendas fizeram coro com Aécio, porque todos têm conhecimento de que as bancadas federais dessas siglas em São Paulo começam a entrar em desespero com o fraco desempenho de Doria nas pesquisas. Prometem remover Doria, caso Leite permaneça no PSDB.

Maratona

O cenário eleitoral estimula a conspiração, porque a polarização entre Lula e Bolsonaro em São Paulo está cristalizada e começa a se refletir na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, com o alinhamento de seus eleitores com os candidatos que apoiam o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. O vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato de Doria, que também não decola, corre risco de virar marisco.

No último levantamento do Ipespe, nos dois cenários principais, a posição de Garcia não era boa. Na disputa com Haddad (PT), 28%; Márcio França (PSB), 18%; Guilherme Boulos (PSol), 11%; e Tarcísio de Freitas (sem partido), 10%, o vice-governador tem apenas 5%. Brancos e nulos somam 24%, e não sabe/não respondeu, 4%. No cenário mais provável — Haddad, apoiado por Lula e Alckmin, com 38%; Tarcísio de Freitas, apoiado por Bolsonaro, com 25% —, Garcia, com apoio de Doria, teria apenas 10%. Brancos e nulos somariam 23%; não sabe/não respondeu, 4%.

Apesar das adversidades eleitorais e da conspiração dos aliados, Doria não dá, até agora, nenhum sinal de que pretende desistir. Pelo contrário, aposta na saída de Eduardo Leite do PSDB, que não aceita o resultado das prévias, e considera as articulações de Aécio Neves um gesto de desespero. Também não acredita que a bancada paulista desista, após sua desincompatibilização, quando Rodrigo Garcia assumirá o Palácio dos Bandeirantes, pois o acordo entre ambos já foi selado, na medida em que Doria não pretende, de forma alguma, concorrer à reeleição.

A agenda do governador paulista está focada na maratona de inaugurações que programou para seus últimos dias no cargo. Somente depois começará a pré-campanha para a Presidência, articulando seus palanques regionais. Doria tem muitos problemas a resolver fora de São Paulo para consolidar a federação com o Cidadania e articular seus palanques majoritários. Em muitos estados, o PSDB está mais para Bolsonaro do que para Eduardo Leite.


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