ELEIÇÕES 2022

PL faz malabarismo para Bolsonaro ter palanques fortes

Partido Liberal se equilibra entre acordos locais e apoio ao presidente e se desdobra para dar visibilidade à campanha para a reeleição ao Palácio do Planalto. Principal fator de complicação está no Nordeste, onde caciques locais têm outros interesses

Vinicius Doria
postado em 29/05/2022 06:00
 (crédito: Pablo Valadares/Agência Câmara)
(crédito: Pablo Valadares/Agência Câmara)

Quando Jair Bolsonaro anunciou a filiação ao PL, em abril, o partido de Valdemar Costa Neto (SP) comemorou. Muitos bolsonaristas acompanharam o presidente da República e migraram para o partido, que passou a deter a maior bancada da Câmara dos Deputados, com 73 parlamentares. Desempenho que alimentou a expectativa de palanques robustos nos estados para dar suporte à campanha de reeleição do presidente. Mas a realidade tem se mostrado mais complexa. Mesmo onde o apoio ao chefe do Executivo é forte, o PL não se estabelece como principal catalisador das forças de direita, seja por falta de nomes, seja por conveniências locais.

Em dois estados de interesse dos caciques do Centrão, por exemplo, as disputas locais prevaleceram sobre a necessidade de oferecer palanques fortes a Bolsonaro. Em Alagoas, a tendência do PL é apoiar o senador Rodrigo Cunha (União Brasil), que tem o respaldo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), para enfrentar o emedebista Paulo Dantas. Favorito nas pesquisas, o recém-eleito governador abrirá palanque para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma grande frente que une partidos da esquerda à direita, sob a bênção do clã Calheiros, do senador Renan (MDB) e do ex-governador Renan Filho (MDB), inimigos políticos de Lira. Cunha, por sua vez, prefere não se comprometer politicamente com o bolsonarismo e evita colar a própria imagem à do presidente.

Cenário semelhante está se formando no Piauí, do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos principais caciques do Centrão. O PP vai acompanhar a pré-candidatura do União Brasil ao governo do estado, com Sílvio Mendes. Mas ele já declarou que não abrirá palanque para Bolsonaro. Por isso, o PL deve lançar chapa própria apenas para acolher o presidente. "Será uma campanha de contenção de danos", disse um interlocutor de Ciro. "O objetivo, lá, é tirar o PT, que está há 20 anos no poder. É o PT que quer nacionalizar a eleição no estado, mas o candidato do PL não entrará na polarização", complementou.

Baixa visibilidade

Para dar projeção a Bolsonaro no Nordeste, o PL articula algumas candidaturas com pouca viabilidade eleitoral. É o caso do Ceará, que estuda lançar o ex-deputado federal Raimundo Gomes de Matos, mas a ala ligada ao presidente Bolsonaro defende o apoio ao deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), que organiza uma ampla aliança para enfrentar o PDT, principal força do estado e base do pré-candidato Ciro Gomes.

Em Pernambuco, o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira deve assumir a candidatura ao governo do estado só para dar suporte à eleição do ex-ministro do Turismo Gilson Machado, que tentará uma vaga ao Senado. Mas a legenda encontra dificuldade para formar alianças. É o mesmo problema que o partido enfrenta na Bahia. O candidato de Bolsonaro ao governo é o ex-ministro da Cidadania João Roma, que não ainda não conseguiu costurar alianças. As forças da centro-direita baiana — incluindo PP e Republicanos, da base do governo federal — estão fechadas com a pré-candidatura de ACM Neto (União Brasil), que não pretende declarar apoio a nenhum dos candidatos à Presidência que lideram as pesquisas de opinião. Ele vai de Luciano Bivar, presidente do União, um nome que não atrapalha os acordos locais.

Na Paraíba, o PL apresentou uma chapa puro-sangue, liderada pelo jornalista Nilvan Ferreira, para enfrentar o palanque do MDB, aliado de Lula no estado. No Maranhão, o partido lançou o deputado federal Josimar Maranhãozinho, mas estuda se aliar ao PSC e ao PTB, sem protagonismo. Em Sergipe, a aposta é lançar o ex-prefeito de Itabaiana Valmir de Francisquinho ao governo do estado, porque as demais legendas conservadoras tendem a acompanhar o pré-candidato do PSD, deputado federal Fábio Metidieri, também simpático a Lula.

O líder do PL na Câmara, deputado Altineu Côrtes (RJ), disse ao Correio que, independentemente dos arranjos estaduais, o PL será "200% Bolsonaro", e que as divergências serão resolvidas até as convenções. "Bolsonaro é nosso comandante, nós não vamos permitir que nenhum aliado se descole dele", garantiu. "O partido está muito bem estruturado no Brasil inteiro. Temos mais de 15 candidatos ao Senado, mas é natural que tenha locais em que a gente ainda precisa avançar (nas negociações)", avalia.

Côrtes cita como exemplo de boa articulação o apoio do PL à pré-candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. O ex-ministro da Infraestrutura tenta atrair para a aliança o apresentador José Luiz Datena (PSC) — favorito nas pesquisas para a única vaga ao Senado em disputa. Ao PL, caberá a indicação do candidato a vice-governador. "Tudo devidamente acertado antes", frisou Côrtes.

O palanque mineiro também está encaminhado. O partido do presidente lançou o líder do governo no Senado, Carlos Viana, para a disputa ao governo estadual, e o ex-ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio ao Senado. Para a vaga de vice, o PL flerta com o PP. Situação semelhante à do Espírito Santo, que tem o ex-deputado federal Carlos Manato (PL) como postulante à sucessão do governador Renato Casagrande (PSB), acompanhado pelo ex-senador Magno Malta (PL), que tentará voltar à Casa. O vice é moeda de negociação.

No Rio de Janeiro, porém, a aposta é de protagonismo do PL, com a candidatura à reeleição do governador Cláudio Castro (PL), que terá como companheiro de chapa um nome do MDB, o ex-prefeito de Duque de Caxias Washington Reis. A vaga ao Senado ainda está indefinida, mas o partido tende a bancar a tentativa de reeleição de Romário, ex-craque do Flamengo e do Vasco.

 


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