Caso Dom e Bruno

Bolsonaro já respondeu Dom Phillips e o usou em post sobre "cobiça" pela Amazônia

O jornalistas britânico, que está desaparecido desde 5 de junho, participou de um café da manhã com Bolsonaro em julho de 2019. Dois anos depois, Bolsonaro postou o vídeo de Dom com a legenda "Amazônia e a cobiça de sempre"

Pedro Grigori
postado em 14/06/2022 19:23 / atualizado em 14/06/2022 19:26
 (crédito: Alan Santos/PR e Reprodução/Instagram)
(crédito: Alan Santos/PR e Reprodução/Instagram)

Desaparecido na floresta Amazônica desde o dia 5 de junho, o jornalista britânico Dom Phillips já esteve frente a frente com o presidente Jair Bolsonaro (PL), em julho de 2019, e o questionou sobre a preservação da maior floresta tropical do mundo. Dois anos depois, Bolsonaro postou o vídeo de Dom Phillips no Twitter e o usou como exemplo da “cobiça” pela Amazônia.

Correspondente do jornal britânico The Guardian no Brasil, Dom Phillips esteve entre os convidados de um café da manhã de Bolsonaro com jornalistas estrangeiros, no Palácio do Planalto, em julho de 2019. Na ocasião, ele fez uma pergunta para o presidente.

“Os números de desmatamento estão mostrando um crescimento assustador, Ibama tá dando menos multas, menos operações. Os sinais que o governo tá dando para a Europa não são positivos no sentido da proteção do meio ambiente. Por exemplo, o ministro do Meio Ambiente (Ricardo Salles, na época) estava na Rondônia, nesta semana, com uma galera das madeireiras. Como o senhor presidente entende e pretende convencer e mostrar para o mundo que realmente o governo tem uma preocupação séria com a preservação da Amazônia?”, perguntou o jornalista.

Bolsonaro deu uma resposta em tom ríspido. “Primeiro você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês”, diz. “Nós preservamos mais do que todo mundo. Nenhum país do mundo tem moral para falar sobre a Amazônia”, completou.

Depois, Bolsonaro continua e questiona o trabalho de ONGs na Amazônia. “Para que tanta ONG na Amazônia, já que estão tão preocupados com o meio ambiente e o ser humano, e zero no semiárido nordestino? Responda pra mim isso aí, será que o interesse de vocês é com o ser humano ou é outro interesse futuro nessa área?”, rebateu o presidente.

Dois anos depois do café da manhã com jornalistas, em 26 de setembro de 2021, Bolsonaro reviveu a história. Pelo Twitter, o presidente repostou o vídeo da pergunta de Dom Phillips como um exemplo da “cobiça de sempre” pela Amazônia.

Nos comentários, perfis bolsonaristas atacaram Dom. “Esculachou o cara”, escreveu um. "Mais um dos jornaleiros que vivem disseminando fakenews sobre a Amazônia", escreveu um perfil chamado "Lina Opressora". Após o episódio, Dom passou a receber ataques de bolsonaristas.


Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o jornalista Andrew Fishman, do The Intercept, que é amigo de Dom, disse que o britânico ficou “muito abalado com esse vídeo”. “Ele sentiu que isso colocava um alvo em suas costas e dificultava seu trabalho. Ele foi reconhecido em toda a Amazônia e em seu cotidiano por todos os tipos de pessoas como ‘o jornalista que levou um esporro do Bolsonaro”, disse.

Desaparecimento

Dom Philips e o indigenista Bruno Araújo desapareceram no dia 5 de junho. A última vez que eles foram vistos foi na comunidade de São Gabriel. Eles haviam viajado até a região de barco, pelo Lago do Jaburu, e pretendiam voltar à cidade de Atalaia do Norte. Bruno acompanhava Dom como guia, e era a segunda vez que eles viajavam pela região.


Eles desapareceram em uma área conhecida como Vale de Javari, região de selva amazônica que abriga pelo menos 26 povos indígenas, muitos deles isolados da civilização exterior. Dom Phillips tem 57 anos de idade e atua como correspondente no Brasil do jornal britânico The Guardian. Nascido na Inglaterra, ele mora no Brasil há 15 anos, onde escreve, principalmente, reportagens sobre a floresta Amazônica. Atualmente, ele estava trabalhando em um livro sobre preservação ambiental e desenvolvimento local.


Já Bruno, tem 41 anos e é especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai). Dentro e fora da Funai,ele atua na defesa dos povos indígenas, posição que o fez receber ameaças regulares de criminosos na região.

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