ELEIÇÕES 2022

Bolsonaro tenta relacionar carta pela democracia com a esquerda

Bolsonaro e integrantes do Executivo tentarão colar na carta pela democracia e nos atos de quinta-feira a ideia de que foram feitos para dar protagonismo à esquerda. Em paralelo, alardearão os benefícios do governo na área social

Henrique Lessa
postado em 13/08/2022 06:00
 (crédito: Miguel Schincariol/AFP)
(crédito: Miguel Schincariol/AFP)

Os atos pró-democracia da última quinta-feira tornaram-se um divisor de águas no processo eleitoral deste ano. Se de um lado todos que se engajaram nos movimentos que se espalharam pelo país acreditam ter colocado em freio na escalada agressiva de Jair Bolsonaro (PL) contra o processo eleitoral, ameaçando até mesmo impedir que seja realizado, de outro o próprio presidente, seus apoiadores e o governo tentam consolidar a ideia de que tratou-se de uma manifestação de apoio ao petista Luiz Inácio Lula da Silva — que lidera as pesquisas de intenção de voto na corrida pelo Palácio do Planalto.

A estratégia governista consiste em classificar os atos que se seguiram à leitura da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito — como "de esquerda". Trata-se, como já perceberam os analistas políticos, de uma tática para desviar o foco da adesão à defesa do estado de direito de setores que apoiaram o presidente em 2018.

Incomoda Bolsonaro a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), que assinaram um manifesto diferente da carta lida na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), enxerguem no presidente uma ameaça à democracia e não aceitem ruptura.

O professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) Jean Tible lembra que "a Fiesp foi o símbolo do impeachment da (presidente) Dilma (Rousseff), era lá que estava o pato da Fiesp" e, agora, se põe contra o discurso de questionamento das urnas eletrônicas.

"Bolsonaro sentiu o golpe. É o desembarque de um setor importante, do andar de cima da sociedade", reconhece.

Para Tible, dentro da estratégia da campanha de ligar a carta à esquerda. "Na sua lógica política, até a Fiesp virou comunista", observa. As manifestações e a carta lida na USP tornaram-se mais um obstáculo para Bolsonaro construir alguma engenharia que possibilite a ruptura institucional.

Dois eixos

Assim, a aposta da campanha do presidente é unir a demonização dos adversários e, ao mesmo tempo, vender uma agenda positiva na economia para avançar na estratégia de cooptar o eleitorado dependente dos programas de distribuição de renda do governo.

Por causa disso é que, enquanto aconteciam as manifestações em defesa da democracia, Bolsonaro festejava no Twitter mais uma redução no valor do diesel. A queda no preço dos combustíveis, o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, o vale gás e o voucher dos caminhoneiros são os elementos com os quais o presidente joga para tentar uma virada na corirda eleitoral.

"A eleição não está decidida. Embora Lula esteja com vantagem, Bolsonaro está no páreo, e isso é um feito. Ele perdeu alguns apoios, mas ainda mantêm importantes camadas da sociedade", salienta.

Entre os adversários do presidente, as manifestações de quinta-feira e a carta têm o poder de galvanizar uma parcela do eleitorado, mas não decretam a derrota de Bolsonaro. Hoje aliado de Lula, o deputado federal André Janones (Avante-MG) criticou o documento, que entende se destinar a "uma bolha". Em suas redes sociais, advertiu a campanha do petista.

"Enquanto a esquerda não trocar 'renda mínima' por 'dinheiro para o povo', 'carta em defesa a democracia' ao invés de 'carta em defesa do povo', o bolsonarismo continuará nadando de braçada. Ou a gente sai das fiesps da vida, da USP e do Twitter e tomemos os grupos de Whats(App), as comunidades, as feiras populares e o interior do país, ou já era. Chega de esperar que o povo venha até nós, é hora de irmos ao povo!", alertou.

 

 




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