ELEIÇÕES 2022

Dos 27 senadores eleitos neste ano, 20 são apoiadores de Bolsonaro

Bancada conservadora sai com vitória maiúscula das urnas. Dos 27 novos senadores, 20 são apoiadores do presidente ou têm simpatia por ele. Vice Hamilton Mourão e cinco ex-ministros vão compor a bancada

Fábio Grecchi
Raphael Felice
postado em 03/10/2022 03:55
 (crédito:  Edilson Rodrigues/Agência Senado)
(crédito: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

O bolsonarismo emergiu das urnas, ontem, como uma das forças do Congresso para a próxima legislatura. Dos novos 27 eleitos que vão compor 1/3 do Senado, nada menos que 20 têm alguma ligação ou simpatia pelo atual presidente da República e candidato à reeleição. Além de cinco ex-ministros e um secretário com estreita ligação com o Palácio do Planalto, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) conquistou uma das cadeiras na Casa dos estados como representante do Rio Grande do Sul. Na Câmara, o Centrão também chega turbinado, sobretudo pela bancada eleita pelo PL.

Chama a atenção a eleição, para o Senado, de dois fieis bolsonaristas: Damares Alves (Republicanos), ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, que ficou com a terceira cadeira destinada ao Distrito Federal, e Marcos Pontes (PL), ex-ministro da Ciência e Tecnologia, que passa a integrar a bancada paulista. Os dois desmentiram as pesquisas de opinião e surpreenderam: enquanto ela tirou uma vaga que era tida como certa para a também ex-ministra Flávia Arruda (PL), o ex-astronauta despachou o ex-governador Márcio França (PSB) — que também era apontado nas sondagens junto ao eleitorado como praticamente eleito.

Embora tenha saído do governo Bolsonaro acusando o presidente de interferir no trabalho da Polícia Federal (PF), Sergio Moro (União Brasil) retorna à cena política agora como senador eleito pelo Paraná com o discurso anti-PT e anti-Lula, e com acenos a Bolsonaro — como aconteceu nos últimos dias antes da eleição. O ex-secretário da Pesca Jorge Seif Jr., que era um frequentador assíduo das lives do presidente no Palácio do Planalto, agora é um dos três representantes de Santa Catarina no Senado.

Já Rogério Marinho (PL), ex-ministro do Desenvolvimento Social, e Tereza Cristina (PP), que comandou a pasta da Agricultura, eram nomes fortes para aumentar a bancada conservadora na Casa dos estados. Um tinha as obras no Nordeste como credencial para conquistar a vaga, outra era ungida pelo agronegócio.

O bolsonarismo também está representado em personagens que jamais ocuparam cargos no primeiro escalão do governo, mas que são expoentes do conservadorismo. O Rio de Janeiro, por exemplo, reelegeu Romário, que reforça a bancada fluminense do PL na Casa. No Espírito Santo, o pastor neopentecostal Magno Malta (PL) — que na eleição de Bolsonaro, em 2018, tinha a convicção de que ocuparia algum cargo no governo — volta à Casa da qual saiu quatro anos atrás. O ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (União Brasil) foi reeleito pelo Amapá e sempre contou com o apoio do Palácio do Planalto.

No extremo oposto, os apoiadores ou simpáticos ao presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que emergiram das urnas rumo ao Senado são somente sete: Renan Filho (MDB-AL), Flávio Dino (PSB-MA), Otto Alencar (PSD-BA), Camilo Santana (PT-CE), Beto Faro (PT-PA), Tereza Leitão (PT-PE) e Wellington Dias (PT-PI).

  • 1 - Jorge Seif, ex-secretário de Aquicultura e presença frequente nas lives de Bolsonaro, agora é senador por Santa Catarina 2 - Ex-ministra da Agricultura e considerada quadro técnico do governo, Tereza Cristina representará Mato Grosso do Sul 3 - Ex-astronauta e ex-ministro de Ciência e Tecnologia Marcos Pontes surpreendeu e elegeu-se senador por São Paulo 4 - Sergio Moro saiu do Ministério da Justiça em conflito com Bolsonaro e vai para o Senado pelo Paraná 5 - Rogério Marinho, ex-ministro do Desenvolvimento Regional, será o reforço da bancada de senadores potiguares 6 - Damares Alves, ex-ministra da Mulher, elegeu-se senadora pelo DF com apoio da primeira-dama Michelle Bolsonaro Alan Santos/PR
  • Sergio Moro saiu do Ministério da Justiça em conflito com Bolsonaro e vai para o Senado pelo Paraná Sergio Lima/AFP
  • Ex-astronauta e ex-ministro de Ciência e Tecnologia Marcos Pontes surpreendeu e elegeu-se senador por São Paulo Evaristo Sá/AFP
  • Damares Alves, ex-ministra da Mulher, elegeu-se senadora pelo DF com apoio da primeira-dama Michelle Bolsonaro Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
  • Rogério Marinho, ex-ministro do Desenvolvimento Regional, será o reforço da bancada de senadores potiguares Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
  • Ex-ministra da Agricultura e considerada quadro técnico do governo, Tereza Cristina representará Mato Grosso do Sul Sergio Lima/AFP

Reforço

Das 513 cadeiras na Câmara dos Deputados, o PL conseguiu preencher 99. A Federação Brasil da Esperança, formada por PT, PCdoB e PV, terá a segunda maior bancada da Casa, com 80 parlamentares. Em terceiro lugar está o União Brasil, com 59. O PP elegeu 47 deputados, MDB e PSD fizeram 42 cada e o Republicanos, 41.

O PSDB — que está federado com o Cidadania — e legendas de esquerda, como PDT e PSB, elegeram bancadas modestas: fizeram, respectivamente, 18, 17 e 14 deputados.

Com esse resultado, as três legendas do Centrão, que compõem a base aliada de Bolsonaro — PL, PP e Republicanos —, conseguiram fazer 187 deputados federais e 23 senadores. Apesar de divergências com quadros importantes do União Brasil, como a candidata à Presidência pela legenda Soraya Thronicke (MS), o presidente deve contar com apoio da maioria da legenda, que elegeu 59 deputados e terá 12 senadores em 2023.

Já as esquerdas formam um grupo com 125 deputados federais. No Senado, os partidos desse espectro ideológico têm 13 parlamentares.

No caso de MDB e PSD, duas siglas que costumam acompanhar o ocupante do Palácio do Planalto, ambas totalizam 84 deputados federais e têm 10 senadores cada.

Surpresas

A Câmara também terá, na próxima legislatura, alguns nomes surpreendentes, sobretudo pela quantidade de votos que receberam. Como o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que foi o segundo nome mais votado do Rio de Janeiro. Também impressiona a eleição do vereador Nikolas Ferreira (PL), de Belo Horizonte, que foi o campeão de votos em Minas Gerais. Outro que também arrebatou o eleitorado foi o ex-procurador Deltan Dallagnol, expoente da Operação Lava Jato, o mais votado no Paraná — colocou mais de 100 mil votos de vantagem sobre o segundo colocado, a presidente do PT, Gleisi Hoffman.

Entre os "bolsonaristas-raiz", alguns tiveram excelente desempenho. Foi o caso de Bia Kicis (PL), no DF, e Carla Zambelli (PL), em São Paulo — que perdeu a condição de mais bem votada no estado para Guilherme Boulos (PSol). Em Minas, Andre Janones (Avante) — cuja atuação em favor de Lula foi estratégica para fazer a interface entre o petista e o público que frequenta maciçamente as redes sociais — foi o segundo mais votado.

Já o presidente da Câmara dos Deputados e artífice do orçamento secreto, Arthur Lira (PP), foi o deputado mais bem votado em Alagoas.

Senadores eleitos

1 - Jorge Seif, ex-secretário de Aquicultura e presença frequente nas lives de Bolsonaro, agora é senador por Santa Catarina

2 - Ex-ministra da Agricultura e considerada quadro técnico do governo, Tereza Cristina representará Mato Grosso do Sul

3 - Ex-astronauta e ex-ministro de Ciência e Tecnologia Marcos Pontes surpreendeu e elegeu-se senador por São Paulo

4 - Sergio Moro saiu do Ministério da Justiça em conflito com Bolsonaro e vai para o Senado pelo Paraná

5 - Rogério Marinho, ex-ministro do Desenvolvimento Regional, será o reforço da bancada de senadores potiguares

6 - Damares Alves, ex-ministra da Mulher, elegeu-se senadora pelo DF com apoio da primeira-dama Michelle Bolsonaro

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