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Tarcísio vai de pupilo a traidor para bolsonaristas

Nas redes sociais, apoiadores do ex-presidente da República atacam governador de São Paulo por causa da atuação que teve para a aprovação da reforma tributária. Compararam-no ao antecessor João Doria e amplificaram provocação do deputado André Janones

Rafaela Gonçalves
postado em 08/07/2023 03:55
 (crédito: Alan Santos/PR)
(crédito: Alan Santos/PR)

A atuação de Tarcísio de Freitas (Republicanos), a favor da aprovação da reforma tributária — que o levou a um encontro com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para tratar de ajustes no texto — colocou o governador de São Paulo na mira dos radicais bolsonaristas. Depois de ter sido hostilizado na reunião da bancada do PL no Congresso, inclusive pelo próprio ex-presidente da República, Tarcísio foi alvo de uma violenta campanha de desqualificação nas redes sociais.

Ontem, duas tags atribuídas a Tarcísio foram parar nos trending topics do Twitter: "Companheiro Tarcísio" e "Novo Doria". A primeira, se refere a um tuíte provocativo do deputado Andre Janones (Avante-MG), que chamou o governador de "companheiro" — tratamento habitual entre os militantes de esquerda — ao agradecer-lhe a atuação pela aprovação da reforma. A segunda, insinua que Tarcísio seria o mais novo "traidor" do bolsonarismo.

A reunião do PL escancarou a irritação com o governador. Além da hostilidade de Bolsonaro e das vaias de um grupo de radicais mais exaltado, o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) disse que Tarcísio não representa a direita. "Ser de direita não é um discurso, é uma conduta. Não vem aqui colocar faixa de representante da direita, porque não é. Não queremos e não seremos representados por alguém que se diz de direita e, depois, na hora de governar o estado para o qual foi designado pelo presidente, não governa como alguém de direita", criticou o Salles.

O deputado ironizou ainda a passagem de Tarcísio como ministro da Infraestrutura do governo Bolsonaro e disse que a atuação dele não serviu para "combater a esquerda". "Dos seus ministros, um dos que mais apanhou no seu governo fui eu, porque estava em um dos ministérios cujo objetivo é enfrentar a esquerda. É muito mais fácil fazer estrada, ponte, ferrovia do que combater a esquerda", disse.

Placar

Bolsonaro tentou levar o PL a fechar questão contra a reforma tributária, tarefa na qual fracassou. A violência dos ataques a Tarcísio nas redes sociais foi potencializada pelo resultado da aprovação da reforma, na Câmara, nos dois turnos. Os extremistas foram atropelados: na primeira votação, reuniram 118 votos contra 382; na segunda, 113 contra 375. Para piorar, no primeiro turno, 20 deputados do partido do ex-presidente votaram a favor da reforma e, no segundo, 18.

Nas análise políticas e de bastidores, a conclusão quase unânime é que Tarcísio saiu mais forte das negociações em torno da reforma e que Bolsonaro encolheu. Sobretudo porque o governador conseguiu galvanizar gestores estaduais e municipais em favor das modificações no sistema tributário. Não à toa, no périplo do Brasília horas antes da votação da reforma, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo) esteve com o colega paulista — gesto que muitos viram como uma possível dobradinha para a campanha presidencial de 2026.

O instituto de pesquisa Quaest realizou um levantamento da figura mais bem avaliada nas redes sociais no contexto da aprovação da reforma. A situação do governador de São Paulo foi de empate técnico: teve 49% das postagens positivas e 51% negativas. Já Bolsonaro foi considerado o "maior perdedor da reforma", com apenas 29% de postagens positivas e 71% negativas.

Para desgastar ainda mais a relação o pupilo e o antigo mestre, o governo de São Paulo aumentou a multa ao ex-presidente por não usar máscara no estado, durante a pandemia. Em primeira instância, Bolsonaro foi condenado a pagar R$ 524,59 aos cofres paulistas pela infração às normas sanitárias. Mas a multa foi revisada e saltou para R$ 43 mil, um aumento de 8.000%.

 

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