CÚPULA UE-CELAC

Acordo entre Mercosul e União Europeia deve ser equilibrado, diz Lula

Presidente brasileiro diz que está disposto a levar adiante as negociações do tratado com os europeus, mas não aceita ameaças, como ocorreu em caso de desmatamento na região

Vicente Nunes — Correspondente
postado em 17/07/2023 13:01 / atualizado em 17/07/2023 13:02
No discurso, Lula assinalou que os países da América Latina e do Caribe continuarão a desempenhar um papel estratégico para a Europa e o mundo, pois é uma região com muitas oportunidades de investimento e de ampliação do consumo -  (crédito: Ricardo Stuckert/PR)
No discurso, Lula assinalou que os países da América Latina e do Caribe continuarão a desempenhar um papel estratégico para a Europa e o mundo, pois é uma região com muitas oportunidades de investimento e de ampliação do consumo - (crédito: Ricardo Stuckert/PR)

Lisboa — Diante das reiteradas declarações da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, sobre a disposição de se fechar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul ainda neste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que está disposto a levar as negociações adiante, mas desde que de "forma equilibrada”. O brasileiro, que está em Bruxelas, onde participa da reunião de cúpula entre a UE e a Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe (Celac), levantou o tom em relação aos europeus depois de um documento, uma side letter, impor uma série de sanções aos sócios do bloco sul-americano em caso de desmatamento em seus territórios. “Não se faz ameaças a parceiros”, reclamou Lula.

“Um acordo entre Mercosul e União Europeia equilibrado, que pretendemos concluir ainda este ano, abrirá novos horizontes. Queremos um acordo que preserve a capacidade das partes de responder aos desafios presentes e futuros”, afirmou o presidente brasileiro durante um fórum com empresários. Ele ressaltou que a União Europeia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil. “Nossa corrente de comércio poderá ultrapassar este ano a marca de US$ 100 bilhões”, reforçou. Além de Von der Leyen e de Sánchez, o tratado entre o Mercosul e a União Europeia é defendido com força pelo primeiro-ministro de Portugal, António Costa. A maior oposição está na França, que teme a concorrência brasileira no mercado agrícola.

Mercado de consumo

No discurso, Lula assinalou que os países da América Latina e do Caribe continuarão a desempenhar um papel estratégico para a Europa e o mundo, pois é uma região com muitas oportunidades de investimento e de ampliação do consumo. “Somos países que demandam investimentos em infraestrutura logística diversificada, infraestrutura social e urbana. Somos sociedades em processo de forte mobilidade social nas quais se constituem novos e dinâmicos mercados internos, integrados por centenas de milhões de consumidores”, frisou

Ele destacou, ainda que a parceria do Brasil com a União Europeia tem um enorme peso, não só na questão comercial, mas também pelos desdobramentos que o acordo comercial que está sendo negociado pelo bloco europeu e o Mercosul pode trazer ao longo das próximas décadas para todos os envolvidos. Resta saber se todos os envolvidos realmente estão dispostos a superar seus interesses específicos em favor da maioria.

Investimentos

O líder brasileiro aproveitou a presença dos donos do dinheiro para ressaltar o potencial do mercado interno brasileiro. Ele informou que o governo lançará, em agosto, um novo plano investimentos, sobretudo em infraestrutura. “Depois dos últimos seis anos de retrocesso e estagnação, voltaremos a gerar empregos de qualidade, a combater a pobreza e a aumentar a renda das famílias brasileiras. O plano prevê a retomada de empreendimentos paralisados, aceleração dos que estão em andamento e seleção de novos projetos. Promoveremos a modernização de nossa infraestrutura logística, com investimentos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos”, detalhou

Lula garantiu que os investimentos serão conduzidos levando em conta o respeito ao meio ambiente. “O Brasil já possui uma matriz energética das mais limpas do planeta: 87% de nossa eletricidade provêm de fontes renováveis contra 27% da média mundial, e 50% de toda a nossa energia é limpa, enquanto, no mundo, a uma média é 15%. E iremos melhorar ainda mais esses números, porque estamos dando prioridade à geração de energia solar, eólica, biomassa, etanol e biodiesel. Também é enorme o nosso potencial de produção de hidrogênio verde”, concluiu.

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